Portugal é um país cheio de qualidades mas com um grande defeito: os portugueses.
Só assim se explica que 10 anos depois, o mesmo povo desmemoriado volte a eleger quem lhe fez tanto mal. É o grande amor que temos pelos ditadores. O povo português está cheio de saudades do Salazar e como o botas já a bateu, elegem o seu clone algarvio.
Eu por mim, apetece-me emigar para um país mais civilizado. Talvez o Burkina Faso.
quarta-feira, janeiro 25, 2006
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Aos novos velhos amigos
Não queria começar este "post" com um lugar comum, mas, às vezes, é impossível evitar por isso, lá vai: A vida é uma montanha russa.
O ano de 2005 foi um ano especial porque (re)reencontrei (e não, não é erro, ela percebe), alguém que em tempos me marcou de forma muito significativa.
O reencontro foi atribulado, afinal, foram 15 anos e quando ela desapareceu do meu mapa (literalmente, pois sei agora que a moça esteve na Escócia, imagine-se), era pouco mais que uma criança com muita coisa para resolver e muito para crescer. Felizmente, o (re)reencontro foi mais suave. Ok, também teve algumas particularidades estranhas, mas também este ponto terá de ficar para uma qualquer biografia não autorizada :)
O certo é que hoje creio que posso dizer com alguma segurança que agora que os nossos caminhos se voltaram a cruzar, nunca mais vou permitir que ela desapareça assim do meu mapa. Até porque o meu mapa, assim como eu, cresceu significativamente.
Outra pessoa que reentrou no meu quotidiano também é um (re)reencontro. Este camarada, cúmplice, sacana, salafrário, judeu, amigo, irmão, também resolveu sair do meu mapa geográfico e foi para, imagine-se, Cabo Verde, mais precisamente para a ilha do Sal.
O reencontro foi inesquecível. Estava este vosso amigo em "stress" a tentar convencer um recepcionista de hotel a deixar-me usar a linha de fax para enviar um serviço, quando percebi uma figura sinistra que estava refastelada num sofá do "lobby". E só me apercebi da sua presença quando a dita personagem se levantou e se dirigiu para mium com um ar esgazeado. Não distingui imediatamente a sua identidade por tão improvável que seria a coincidência. Improvável mas possível. Era o dito salafrário! Abraços para aqui e gargalhadas para acolá, muitas perguntas depois percebi que o bandido estava a trabalhar em Cabo Verde, numa empresa de aluguer de automóveis. Perfeitamente instalado e adaptado.
Trocámos endereços de e-mail e a coisa ficou por aí. Só que há dois dias por outra coincidência recebi um e-mail do meu amigo. Está vivo, de boa saúde e respeitavelmente instalado, ainda, no Sal. Diz que só vem a Portugal entre Maio e Outubro, que o resto do ano na pátria lhe parece a Sibéria. De resto, continua o mesmo.
15 anos. 15 anos não são nada.
Com tudo isto, há uma frase que me martela insistentemente na cabeça: Afinal, há coisas que nunca mudam. Mesmo.
O ano de 2005 foi um ano especial porque (re)reencontrei (e não, não é erro, ela percebe), alguém que em tempos me marcou de forma muito significativa.
O reencontro foi atribulado, afinal, foram 15 anos e quando ela desapareceu do meu mapa (literalmente, pois sei agora que a moça esteve na Escócia, imagine-se), era pouco mais que uma criança com muita coisa para resolver e muito para crescer. Felizmente, o (re)reencontro foi mais suave. Ok, também teve algumas particularidades estranhas, mas também este ponto terá de ficar para uma qualquer biografia não autorizada :)
O certo é que hoje creio que posso dizer com alguma segurança que agora que os nossos caminhos se voltaram a cruzar, nunca mais vou permitir que ela desapareça assim do meu mapa. Até porque o meu mapa, assim como eu, cresceu significativamente.
Outra pessoa que reentrou no meu quotidiano também é um (re)reencontro. Este camarada, cúmplice, sacana, salafrário, judeu, amigo, irmão, também resolveu sair do meu mapa geográfico e foi para, imagine-se, Cabo Verde, mais precisamente para a ilha do Sal.
O reencontro foi inesquecível. Estava este vosso amigo em "stress" a tentar convencer um recepcionista de hotel a deixar-me usar a linha de fax para enviar um serviço, quando percebi uma figura sinistra que estava refastelada num sofá do "lobby". E só me apercebi da sua presença quando a dita personagem se levantou e se dirigiu para mium com um ar esgazeado. Não distingui imediatamente a sua identidade por tão improvável que seria a coincidência. Improvável mas possível. Era o dito salafrário! Abraços para aqui e gargalhadas para acolá, muitas perguntas depois percebi que o bandido estava a trabalhar em Cabo Verde, numa empresa de aluguer de automóveis. Perfeitamente instalado e adaptado.
Trocámos endereços de e-mail e a coisa ficou por aí. Só que há dois dias por outra coincidência recebi um e-mail do meu amigo. Está vivo, de boa saúde e respeitavelmente instalado, ainda, no Sal. Diz que só vem a Portugal entre Maio e Outubro, que o resto do ano na pátria lhe parece a Sibéria. De resto, continua o mesmo.
15 anos. 15 anos não são nada.
Com tudo isto, há uma frase que me martela insistentemente na cabeça: Afinal, há coisas que nunca mudam. Mesmo.
segunda-feira, janeiro 02, 2006
Ano Novo
Mastigadas as passas, emborcado o champanhe, vieram os abraços e os beijos. Acabou 2005, vem aí 2006.
Sensação estranha esta, a de parar para pensar. Estes truques do calendário fazem-nos cair na tentação de traçar objectivos e balanços. Como foi o ano que passou, o que esperamos para o ano que acaba de nascer.
Para 2006, apenas a certeza de que terei de ser operado. Nada de grave, mas muito chato. Sobre 2005, muita coisa. É normal ter mais a dizer sobre o passado do que sobre o futuro, é por isso que os velhos têm sempre muitas histórias.
2005 foi um ano muito bom: o primeiro ano de independência na minha casa; um ano de sucesso profissional, em que vi crescer um projecto editorial de grande pujança e que tenho o orgulho de integrar; um ano cheio de amor e amizade, em que reencontrei velhos amigos, em que conheci outros, em que percebi que outros ainda não o eram e que não merecia a pena lutar por quem não se mexe por nós; um ano de boas e más notícias; o ano em que comecei a entrever um bem-estar que há muito procuro.
Para 2006, bem, vou ser operado. Já sei que estou a ser chato e irritantemente medricas mas o que é que querem? É a única certeza para 2006 e, isso sim, é irritante.
Sensação estranha esta, a de parar para pensar. Estes truques do calendário fazem-nos cair na tentação de traçar objectivos e balanços. Como foi o ano que passou, o que esperamos para o ano que acaba de nascer.
Para 2006, apenas a certeza de que terei de ser operado. Nada de grave, mas muito chato. Sobre 2005, muita coisa. É normal ter mais a dizer sobre o passado do que sobre o futuro, é por isso que os velhos têm sempre muitas histórias.
2005 foi um ano muito bom: o primeiro ano de independência na minha casa; um ano de sucesso profissional, em que vi crescer um projecto editorial de grande pujança e que tenho o orgulho de integrar; um ano cheio de amor e amizade, em que reencontrei velhos amigos, em que conheci outros, em que percebi que outros ainda não o eram e que não merecia a pena lutar por quem não se mexe por nós; um ano de boas e más notícias; o ano em que comecei a entrever um bem-estar que há muito procuro.
Para 2006, bem, vou ser operado. Já sei que estou a ser chato e irritantemente medricas mas o que é que querem? É a única certeza para 2006 e, isso sim, é irritante.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
Tumor
Tumor. A palavra é assustadora porque de tantas vezes ter sido utilizada como um eufemismo para cancro, acabou por lhe ficar umbilicalmente ligada.
Pois, mas a verdade é que tenho um. Um tumor. As palavras do dentista deixaram-me num transe meio pânico mas rapidamente explicou que não havia indícios de malignidade. Ou seja, nada aponta para que seja, pois, cancro.
Mas assusta.
Dizem agora que tenho que fazer uma operação em São José. Coisa com anestesia geral. "Implica abrir-lhe o palato e extrair a massa, o quisto"...pois, o tumor.
Assusta, pois assusta.
O médico diz que não corro risco significativo mas que terei mesmo de tratar isto o mais rapidamente possível. Diz para não me preocupar muito, mas para me preocupar. E estou preocupado.
Estou muito preocupado.
Que o pós-operatório será complicado, com 15 dias de "muito mal-estar", o que traduzindo quer dizer dor severa e dificuldades em alimentar-me, que só poderei "comer caldos e alimentos moles". Mas, sinceramente, nem me importo. Quero esta massa fora do meu corpo, este...tumor.
Confesso: estou com medo. Rio, brinco com isto mas estou com medo. "Não há sinais de malignidade." Uma única frase que me dá segurança, mesmo contra a que a completou: "Mas só teremos a certeza absoluta quando abrirmos." Pois...medo.
Pois, mas a verdade é que tenho um. Um tumor. As palavras do dentista deixaram-me num transe meio pânico mas rapidamente explicou que não havia indícios de malignidade. Ou seja, nada aponta para que seja, pois, cancro.
Mas assusta.
Dizem agora que tenho que fazer uma operação em São José. Coisa com anestesia geral. "Implica abrir-lhe o palato e extrair a massa, o quisto"...pois, o tumor.
Assusta, pois assusta.
O médico diz que não corro risco significativo mas que terei mesmo de tratar isto o mais rapidamente possível. Diz para não me preocupar muito, mas para me preocupar. E estou preocupado.
Estou muito preocupado.
Que o pós-operatório será complicado, com 15 dias de "muito mal-estar", o que traduzindo quer dizer dor severa e dificuldades em alimentar-me, que só poderei "comer caldos e alimentos moles". Mas, sinceramente, nem me importo. Quero esta massa fora do meu corpo, este...tumor.
Confesso: estou com medo. Rio, brinco com isto mas estou com medo. "Não há sinais de malignidade." Uma única frase que me dá segurança, mesmo contra a que a completou: "Mas só teremos a certeza absoluta quando abrirmos." Pois...medo.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Luce vers Tenebrae
Uma carta que não chega (sim, porque ainda há quem escreva cartas), uma foto que assombra uma casa, uma memória que escorre pelos recantos da alma.
O velho inimigo assume muitas formas e tem muitas caras. É por isso que nos apanha quase sempre quando não estamos preparados, quando não dá jeito, quando o seu potencial para nos virar a vida do avesso é maior.
O velho inimigo assume muitas formas e tem muitas caras. É por isso que nos apanha quase sempre quando não estamos preparados, quando não dá jeito, quando o seu potencial para nos virar a vida do avesso é maior.
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Ídolos com pés de ouro
Portugal parou de boca aberta quando, na quarta-feira passada, Cristiano Ronaldo ergueu bem alto o ded
o médio da mão direita, em direcção aos adeptos que o assobiavam.
Muita gente ficou espantada. Mas perguntol porquê? Houve quem dissesse que se "se consegue tirar o homem das barracas, não se espere que se consiga tirar as barracas do homem". Não vou por aí.
O problema é que quando falamos de futebolistas deste nível falamos, na maior parte das vezes (Rui, és uma brilhante excepção), falamos de jovens com etapas de crescimento obliteradas, com dinheiro a mais, educação a menos e egos sobredesenvolvidos.
Espera-se que estes jovens sejam exemplos de conduta, exemplos de sucesso. Porquê? Porque são excelentes a jogar futebol. Mas mais uma vez a amnésia ataca. São excelentes apenas a jogar futebol. Só isso. Não são ídolos com pés de barro mas ídolos de barro com pés de ouro.
PS: Já agora, um dia destes hei-de vos contar a história de um desses milionários da bola que pediu um portátil de míseros 2500 euros para dar uma entrevista. Não vos digo quem é, apenas que é o mesmo tipo que quando ainda viajava de avião de carreira levava a própria mãe em classe económica, enquanto o próprio viajava confortavelmente instalado em executiva.
o médio da mão direita, em direcção aos adeptos que o assobiavam.
Muita gente ficou espantada. Mas perguntol porquê? Houve quem dissesse que se "se consegue tirar o homem das barracas, não se espere que se consiga tirar as barracas do homem". Não vou por aí.
O problema é que quando falamos de futebolistas deste nível falamos, na maior parte das vezes (Rui, és uma brilhante excepção), falamos de jovens com etapas de crescimento obliteradas, com dinheiro a mais, educação a menos e egos sobredesenvolvidos.
Espera-se que estes jovens sejam exemplos de conduta, exemplos de sucesso. Porquê? Porque são excelentes a jogar futebol. Mas mais uma vez a amnésia ataca. São excelentes apenas a jogar futebol. Só isso. Não são ídolos com pés de barro mas ídolos de barro com pés de ouro.
PS: Já agora, um dia destes hei-de vos contar a história de um desses milionários da bola que pediu um portátil de míseros 2500 euros para dar uma entrevista. Não vos digo quem é, apenas que é o mesmo tipo que quando ainda viajava de avião de carreira levava a própria mãe em classe económica, enquanto o próprio viajava confortavelmente instalado em executiva.
quinta-feira, novembro 24, 2005
O sexo dos anjos
Fui recentemente surpreendido por um forum na SIC Notícias subordinado ao tema: "Padres homossexuais". Aparentemente, o Vaticano emitiu um documento a recusar a ordenação de padres homossexuais.
Ora bem, são coisas como esta que me recordam porque é que não sou católico praticante. A distinrta lata destes senhores que se acham no direito de barrar uma qualquert potencial vocação baseados num preconceito ignóbil e profundamente hipócrita. Então e o que fazer aos muitos homossexuais padres? E, já agora, aos outros tantos "Padres Amaros" que aí andam, que mantém relações conjugais não sancionadas?
Falamos de uma Igreja que pretende como assexuados os seus padres, afinal o que interessa se o homem em causa (e o facto de ser só homens também tem que se lhe diga) é heterossexual ou não? Não pode explanar a sua sexualidade, o que, aliás é, isso sim, contra-natura.
Outra curiosidade foi a de uma participação de uma senhora que a Igreja católica poderia impor pré-requisitos para o sacerdócio. O que significa que a heterossexualidade deveria ser um pré-requisito. Para quê? E depois vêm todos os outros preconceitos e disparates que poluem a cabecinha de tanta gente.
Falamos de uma Igreja cujo fundador espiritual quereria para todos os Homens, ou será que quando Ele morreu na cruz "pelos pecadores", deveria ter acrescentados para os cronistas bíblicos: "ah, mas atenção, só os heterossexuais?".
Ora bem, são coisas como esta que me recordam porque é que não sou católico praticante. A distinrta lata destes senhores que se acham no direito de barrar uma qualquert potencial vocação baseados num preconceito ignóbil e profundamente hipócrita. Então e o que fazer aos muitos homossexuais padres? E, já agora, aos outros tantos "Padres Amaros" que aí andam, que mantém relações conjugais não sancionadas?
Falamos de uma Igreja que pretende como assexuados os seus padres, afinal o que interessa se o homem em causa (e o facto de ser só homens também tem que se lhe diga) é heterossexual ou não? Não pode explanar a sua sexualidade, o que, aliás é, isso sim, contra-natura.
Outra curiosidade foi a de uma participação de uma senhora que a Igreja católica poderia impor pré-requisitos para o sacerdócio. O que significa que a heterossexualidade deveria ser um pré-requisito. Para quê? E depois vêm todos os outros preconceitos e disparates que poluem a cabecinha de tanta gente.
Falamos de uma Igreja cujo fundador espiritual quereria para todos os Homens, ou será que quando Ele morreu na cruz "pelos pecadores", deveria ter acrescentados para os cronistas bíblicos: "ah, mas atenção, só os heterossexuais?".
terça-feira, novembro 22, 2005
Democracia oca
A base da democracia é a escolha. Óbvio. Mas para escolher é preciso ter dados. Não se deve tomar uma determinada opção ou enveredar por um certo caminho porque nos parece mais agradável, deve-se optar, isso sim, pelo mais correcto.
Democracia sem conhecimento, e este implica educação, é um sistema sem sangue, sem entranhas; é oco.
No tempo da ditadura, cultivava-se o analfabetismo entre as massas populares como garantia de perpetuação do sistema; hoje o mesmo acontece por desleixo, o que é ainda pior.
O que significa que nas próximas presidenciais damos por pessoas a votar em Cavaco Silva com os argumentos que "o sacana do bochechas está velho, não gosto do Manuel Alegre e o Louçã, sei lá, não conheço". Não, não é ficção mas um diálogo real, daqueles que se ouve, com certeza, em muitos lares daquele que se convencionou chamar o "Portugal real".
Estou farto deste país de ignorantes. Será que além dos sucessivos incompetentes no governo, ainda vamos ter de levar com o Cavaco Silva na presidência?
Democracia sem conhecimento, e este implica educação, é um sistema sem sangue, sem entranhas; é oco.
No tempo da ditadura, cultivava-se o analfabetismo entre as massas populares como garantia de perpetuação do sistema; hoje o mesmo acontece por desleixo, o que é ainda pior.
O que significa que nas próximas presidenciais damos por pessoas a votar em Cavaco Silva com os argumentos que "o sacana do bochechas está velho, não gosto do Manuel Alegre e o Louçã, sei lá, não conheço". Não, não é ficção mas um diálogo real, daqueles que se ouve, com certeza, em muitos lares daquele que se convencionou chamar o "Portugal real".
Estou farto deste país de ignorantes. Será que além dos sucessivos incompetentes no governo, ainda vamos ter de levar com o Cavaco Silva na presidência?
quinta-feira, novembro 17, 2005
Produtividade
Produtividade. Eis um conceito esquisito em Portugal. Esquisito porque tem muitas perspectivas, dependendo do lugar que se ocupa na cadeia socio-laboral.
Os patrões queixam-se que os empregados produzem pouco e por isso não lhes podem pagar muito.
Os empregados dizem que como são mal pagos não têm motivação nem condições para produzir mais
Os sucessivos governos lamentam a pouca produtividade do aparelho económico português, queixam-se que nos faz ficar mal na estatísticas europeias, mas enfim, como cobram impostos proporcionalmente mais elevados do que no resto da Europa, tanto lhes dá.
Uma pescadinha de rabo na boca: não produzimos, não recebemos, não recebemos, não produzimos. Mas, curiosamente, há algumas empresas que florescem no meio do estrume deste país.
As empresas de Comunicação Social são exemplo mais que perfeito deste peculiar silogismo. Aproveitam o excesso de recursos humanos que as universidades fabricam todos os anos (independentemente da qualidade do ensino, que é invariavelmente baixa, e é-o desde o ensino básico), para poderem manobrar os aumentos de forma indecentemente avarenta. Não lhes interessa a qualidade do produto mas o quanto podem lucrar com ele.
É por isso que se vê tanta barbaridade, tanta falta de qualidade. E não falo em nenhum género específico, pois este é um fenómeno transversal que não poupa títulos, nem sequer os ditos "de referência".
Estou farto de palmadinhas nas costas, elogios e promessas. É oficial, estou a planear uma mudança de rumo. Assistente editorial numa famosa casa livreira parece-vos bem, não?
Vamos ver.
Os patrões queixam-se que os empregados produzem pouco e por isso não lhes podem pagar muito.
Os empregados dizem que como são mal pagos não têm motivação nem condições para produzir mais
Os sucessivos governos lamentam a pouca produtividade do aparelho económico português, queixam-se que nos faz ficar mal na estatísticas europeias, mas enfim, como cobram impostos proporcionalmente mais elevados do que no resto da Europa, tanto lhes dá.
Uma pescadinha de rabo na boca: não produzimos, não recebemos, não recebemos, não produzimos. Mas, curiosamente, há algumas empresas que florescem no meio do estrume deste país.
As empresas de Comunicação Social são exemplo mais que perfeito deste peculiar silogismo. Aproveitam o excesso de recursos humanos que as universidades fabricam todos os anos (independentemente da qualidade do ensino, que é invariavelmente baixa, e é-o desde o ensino básico), para poderem manobrar os aumentos de forma indecentemente avarenta. Não lhes interessa a qualidade do produto mas o quanto podem lucrar com ele.
É por isso que se vê tanta barbaridade, tanta falta de qualidade. E não falo em nenhum género específico, pois este é um fenómeno transversal que não poupa títulos, nem sequer os ditos "de referência".
Estou farto de palmadinhas nas costas, elogios e promessas. É oficial, estou a planear uma mudança de rumo. Assistente editorial numa famosa casa livreira parece-vos bem, não?
Vamos ver.
quarta-feira, novembro 02, 2005
Amena cavaqueira
Era uma vez um país que adorava ditadores. Amou um durante 40 anos e teve que esperar que ele caísse de podre para largar cravos nas ruas. O povo desesperou pelo seu regresso durante vinte anos e fizeram-lhe a vontade. O ditador regressou, não numa manhã de nevoeiro, nem do Norte de África. Veio do Algarve, a fazer a rodagem do carro novo até à Figueira da Foz. Aí nasceu o rebento laranja podre e o povo rejubilou.
O ditador reinou durante quase uma década, encheu o país de cimento e de elefantes brancos, mas também apodreceu no lugar. Um punhado de resistentes veio para a rua gritar. Também lá estive a gritar contra uma prova fascista, outros foram para a ponte e o país abanou a laranjeira e a coisa caiu, mais uma vez de podre. Com um tabú pelo meio. O ditador tentou regressar mas o povo não deixou e ele foi para a caverna, esperar.
O século virou, outros poderes subiram à cadeira de onde o primeiro ditador tinha caído. Os homens do governo eram outros, a cor também era outra, mas quem manda são sempre os mesmos.
Agora, o ditador que estava escondido na caverna quer voltar. E o povo, saudosista dos ditadores, parece disposto a aceitar o chicote. Contra ele levanta-se um rei velho, um poeta, um operário e um professor que falça muito alto.
Não aparece ninguém para matar o dragão e a cavaqueira continua, amena, para mais um regresso do ditador. E não há cadeira que nos salve.
O ditador reinou durante quase uma década, encheu o país de cimento e de elefantes brancos, mas também apodreceu no lugar. Um punhado de resistentes veio para a rua gritar. Também lá estive a gritar contra uma prova fascista, outros foram para a ponte e o país abanou a laranjeira e a coisa caiu, mais uma vez de podre. Com um tabú pelo meio. O ditador tentou regressar mas o povo não deixou e ele foi para a caverna, esperar.
O século virou, outros poderes subiram à cadeira de onde o primeiro ditador tinha caído. Os homens do governo eram outros, a cor também era outra, mas quem manda são sempre os mesmos.
Agora, o ditador que estava escondido na caverna quer voltar. E o povo, saudosista dos ditadores, parece disposto a aceitar o chicote. Contra ele levanta-se um rei velho, um poeta, um operário e um professor que falça muito alto.
Não aparece ninguém para matar o dragão e a cavaqueira continua, amena, para mais um regresso do ditador. E não há cadeira que nos salve.
terça-feira, novembro 01, 2005
Porque foi inventado o bolo de chocolate
O dia nem começou mal, com aquela confortável sensação de feriado. É certo que venho trabalhar na mesma, mas estes dias têm, ainda assim, um sabor diferente.
Mas depois, sem perceber bem o que se estava a passar ou porquê, a força começou a escorregar. Aquela sensação de estar a mover-me num poço de alcatrão, espesso e negro, invadiu-me. Primeiro, de mansinho, depois, com a subtileza de um martelo a esmagar uma parede de vidro. Ah, pois, é dia de Todos os Santos.
Tenho-me na conta de tipo racional, cristão sim, mas à minha maneira: crente mas sem ligação à instituição eclesiástica, gosto de pensar que cada homem tem um templo em si mesmo. Logo, nem ligo ao calendário religioso. Não? Bem, acho que há coisas que se nos entranham na pele sem darmos por isso, e quando temos tanto da nossa história pessoal do outro lado da linha, é quase inevitável.
Um dia mau, e apesar de ser tantas vezes acusado de ser um fanático de uma dieta que não contempla doces nem outros "bichos", hoje é daqueles dias que percebo porque é que alguém inventou coisas como o Whisky ou o bolo de chocolate.
Mas depois, sem perceber bem o que se estava a passar ou porquê, a força começou a escorregar. Aquela sensação de estar a mover-me num poço de alcatrão, espesso e negro, invadiu-me. Primeiro, de mansinho, depois, com a subtileza de um martelo a esmagar uma parede de vidro. Ah, pois, é dia de Todos os Santos.
Tenho-me na conta de tipo racional, cristão sim, mas à minha maneira: crente mas sem ligação à instituição eclesiástica, gosto de pensar que cada homem tem um templo em si mesmo. Logo, nem ligo ao calendário religioso. Não? Bem, acho que há coisas que se nos entranham na pele sem darmos por isso, e quando temos tanto da nossa história pessoal do outro lado da linha, é quase inevitável.
Um dia mau, e apesar de ser tantas vezes acusado de ser um fanático de uma dieta que não contempla doces nem outros "bichos", hoje é daqueles dias que percebo porque é que alguém inventou coisas como o Whisky ou o bolo de chocolate.
quinta-feira, outubro 20, 2005
Sabe bem
Se existisse um "ranking" de profissões ingratas, o jornalismo figuraria de certeza entre as primeiras cinco, sendo que nem me passa pela cabeça quais seriam as outras quatro. Não vou sequer falar dos salários que por aí se pagam (prometi que não ia escrever obscenidades neste espaço sagrado de reflexão), não, vou antes concentrar-me no difícil equilibrismo a que nos obriga esta profissão que não poucas vezes é caracterizada como missão. Missão no sentido religioso mas por vezes também militar.
Encontrar a verdade e publicá-la equilibrando valores como o respeito pela privacidade e o legítimo interesse público é cada vez mais difícil, e há até uma indústria montada na promiscuidade entre a esfera pública e a privada. Mas, enfim...ao contrário do que li há uns tempos, nem todo o jornalismo "é a mesma merda". Há jornalismo e há outras coisas. E se existe a tentação de distinguir o trigo do joio a partir dos títulos, deve dizer-se que a maior diferença faz-se pelos nomes de quem assina e não pela instituição que lhes paga o ordenado. Enfim, há bons jornalistas, há maus jornalistas e há escribas que não são nem uma coisa nem
outra.
"But I digress", o que eu queria mesmo falar era de outra coisa, de outro problema bem mais corriqueiro, mas que penaliza bastante gajos inseguros como eu: a falta de reconhecimento. Nos meus primeiros dias a trabalhar para um diário de divulgação nacional, uma das lições que imediatamente aprendi resumia-se a uma frase muitas vezes repetida: "Não te preocupes se não te disserem nada acerca do teu trabalho, é sinal que estava bom; porque se estivesse mau, então sim, vinham falar contigo."
E assim estive perdido durante alguns anos. De vez em quando recebi alguns elogios, alguns recados de senhores que apesar de não conhecer pessoalmente sabia que teriam importância. Contam-se pelos dedos de uma mão: o dia em que João Marcelino "gostou muito" de um dos meus primeiros trabalhos como enviado especial, um trabalhito modesto nas competições europeias de basquetebol em Valencia. Um elogio que me ficou na memória pelo que significou na minha então embrionária carreira. Já na altura o agora todo-poderoso director do "Correio da Manhã" e director-editorial da "Sábado" era pouco menos que Deus no meu jornal e a sua palavra transformou-me de estagiário despassarado em "jovem promessa". Um estatuto que teimou em permanecer apenso ao meu nome apesar de cada vez menos jovem...
E depois veio a DEZ. Mais que uma revista, um espaço de análise, de comentário e, sobretudo, reportagem, a minha menina dos olhos. Cresci muito neste último ano e meio a trabalhar com uma equipa fantástica. Privar com alguns dos melhores jornalistas desportivos do país e mesmo com aquele que considero o melhor (António Tadeia), permitiu-me crescer e assumir a promessa com que me haviam ungido. Embora o diga sem falsas modéstias que nesta profissão nunca se sabe tudo. Será assim em muitas actividades, mas nesta mais que em nenhuma outra.
Mas sim, no meio disto tudo, sempre a trabalhar e sempre sem reconhecimento, sempre sem a confiança que um crónico inseguro como eu padece, todos os diasa provar que sou bom. A mim e ao mundo. Em cada palavra, em cada parágrafo, em cada vírgula, o jogo entre uma carreira e a prateleira. Não é por nada que há tantos profissionais desta área em consultas na Av. do Brasil...
Uma luta inglória mas que, de vez a vez, tem descanso: quando acabamos um trabalho ou quando ligamos para um conhecido comentador e recebemos do outro lado um "Eh pá, li um seu trabalho muito bom no outro dia. Geralmente nem reparo em quem assina mas neste caso até voltei ao início para ver quem era. Muito bom, sinceramente."
Pois é, às vezes esquecemos os maus salários, as muitas horas e tudo o resto. Porque há dias assim. Sabe bem.
Encontrar a verdade e publicá-la equilibrando valores como o respeito pela privacidade e o legítimo interesse público é cada vez mais difícil, e há até uma indústria montada na promiscuidade entre a esfera pública e a privada. Mas, enfim...ao contrário do que li há uns tempos, nem todo o jornalismo "é a mesma merda". Há jornalismo e há outras coisas. E se existe a tentação de distinguir o trigo do joio a partir dos títulos, deve dizer-se que a maior diferença faz-se pelos nomes de quem assina e não pela instituição que lhes paga o ordenado. Enfim, há bons jornalistas, há maus jornalistas e há escribas que não são nem uma coisa nem
outra.
"But I digress", o que eu queria mesmo falar era de outra coisa, de outro problema bem mais corriqueiro, mas que penaliza bastante gajos inseguros como eu: a falta de reconhecimento. Nos meus primeiros dias a trabalhar para um diário de divulgação nacional, uma das lições que imediatamente aprendi resumia-se a uma frase muitas vezes repetida: "Não te preocupes se não te disserem nada acerca do teu trabalho, é sinal que estava bom; porque se estivesse mau, então sim, vinham falar contigo."
E assim estive perdido durante alguns anos. De vez em quando recebi alguns elogios, alguns recados de senhores que apesar de não conhecer pessoalmente sabia que teriam importância. Contam-se pelos dedos de uma mão: o dia em que João Marcelino "gostou muito" de um dos meus primeiros trabalhos como enviado especial, um trabalhito modesto nas competições europeias de basquetebol em Valencia. Um elogio que me ficou na memória pelo que significou na minha então embrionária carreira. Já na altura o agora todo-poderoso director do "Correio da Manhã" e director-editorial da "Sábado" era pouco menos que Deus no meu jornal e a sua palavra transformou-me de estagiário despassarado em "jovem promessa". Um estatuto que teimou em permanecer apenso ao meu nome apesar de cada vez menos jovem...
E depois veio a DEZ. Mais que uma revista, um espaço de análise, de comentário e, sobretudo, reportagem, a minha menina dos olhos. Cresci muito neste último ano e meio a trabalhar com uma equipa fantástica. Privar com alguns dos melhores jornalistas desportivos do país e mesmo com aquele que considero o melhor (António Tadeia), permitiu-me crescer e assumir a promessa com que me haviam ungido. Embora o diga sem falsas modéstias que nesta profissão nunca se sabe tudo. Será assim em muitas actividades, mas nesta mais que em nenhuma outra.
Mas sim, no meio disto tudo, sempre a trabalhar e sempre sem reconhecimento, sempre sem a confiança que um crónico inseguro como eu padece, todos os diasa provar que sou bom. A mim e ao mundo. Em cada palavra, em cada parágrafo, em cada vírgula, o jogo entre uma carreira e a prateleira. Não é por nada que há tantos profissionais desta área em consultas na Av. do Brasil...
Uma luta inglória mas que, de vez a vez, tem descanso: quando acabamos um trabalho ou quando ligamos para um conhecido comentador e recebemos do outro lado um "Eh pá, li um seu trabalho muito bom no outro dia. Geralmente nem reparo em quem assina mas neste caso até voltei ao início para ver quem era. Muito bom, sinceramente."
Pois é, às vezes esquecemos os maus salários, as muitas horas e tudo o resto. Porque há dias assim. Sabe bem.
segunda-feira, outubro 10, 2005
Chuva na Frente Oriental
O dia nasceu chuvoso, talvez para limpar a merda que atingiu as nortenhas Gondomar, Felgueiras e a solarenga Oeiras. Em dias como este, acordo com a declarada esperança que a água que cai em barda seja suficiente. Mas nunca é.
Da madeira e ar das colunas da aparelhagem, a guitarra de Jack Johnson materializa-se e deambula sem destino pelas paredes do apartamento, colorindo-as de azul marinho.
Saio da janela e troco a água que cai lá fora pela água quente do chuveiro. Respiro o vapor e o cheiro a lençóis mornos que abandona de mansinho a minha pele.
Pequeno-almoço tomado, hora higiénica no ginásio cumprida e preparo a saída: tiro as peças da armadura têxtil com que vou atacar o dragão quotidiano, recolho as chaves de casa, as chaves do carro, o comando da garagem, o telemóvel, a caneta, os óculos escuros...a parafernália de objectos com que tenho de me armar e saio para a batalha. Para a chuva que não vai limpar tanto esterco.
Já perto do trabalho, o habitual exame dos jornais revela que tudo está na mesma no país. Tudo na mesma na Frente Oriental. E a Leste do Paraíso também.
Da madeira e ar das colunas da aparelhagem, a guitarra de Jack Johnson materializa-se e deambula sem destino pelas paredes do apartamento, colorindo-as de azul marinho.
Saio da janela e troco a água que cai lá fora pela água quente do chuveiro. Respiro o vapor e o cheiro a lençóis mornos que abandona de mansinho a minha pele.
Pequeno-almoço tomado, hora higiénica no ginásio cumprida e preparo a saída: tiro as peças da armadura têxtil com que vou atacar o dragão quotidiano, recolho as chaves de casa, as chaves do carro, o comando da garagem, o telemóvel, a caneta, os óculos escuros...a parafernália de objectos com que tenho de me armar e saio para a batalha. Para a chuva que não vai limpar tanto esterco.
Já perto do trabalho, o habitual exame dos jornais revela que tudo está na mesma no país. Tudo na mesma na Frente Oriental. E a Leste do Paraíso também.
quinta-feira, outubro 06, 2005
Bob Dylan...sempre actual
Come you masters of war
You that build all the guns
You that build the death planes
You that build the big bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks
You that never done nothin'
But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly
Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain
You fasten the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
As young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud
You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins
How much do I know
To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
Even Jesus would never
Forgive what you do
Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul
And I hope that you die
And your death'll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand o'er your grave
'Til I'm sure that you're dead
You that build all the guns
You that build the death planes
You that build the big bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks
You that never done nothin'
But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly
Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain
You fasten the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
As young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud
You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins
How much do I know
To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
Even Jesus would never
Forgive what you do
Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul
And I hope that you die
And your death'll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand o'er your grave
'Til I'm sure that you're dead
terça-feira, outubro 04, 2005
Piadinha
Um adepto do Porto chega a uma loja de material desportivo e depara-se com uma infinidade de camisolas de clubes de futebol. Só não via a do seu clube.
Meio sem graça, pergunta ao vendedor:
- Quanto custa a camisola do Real Madrid?
- 50 EUR
- E a do Chelsea?
- Essa custa 75 EUR
- E a do Benfica?
- Oh meu amigo... Essa é a mais cara da loja por se tratar do melhor clube do Mundo, e custa 100EUR.
Aí, o pobre arrisca:
- Você não tem aí a do Porto?
- Tenho sim. Está do outro lado, na prateleira das liquidações e custa 9,50 EUR.
- Pooo!!! Só 9,50 Euros!!!!!!
- É promoção para queima de stock, essas porcarias não se vendem...
- Então dê-me uma - estendendo uma nota de 10 Euros.
O vendedor vai então à caixa registadora, coça a cabeça e meio atrapalhado pergunta:
- Desculpe, mas eu estou sem troco. Quer levar uma camisola do Sporting para completar os 10 Euros?
Meio sem graça, pergunta ao vendedor:
- Quanto custa a camisola do Real Madrid?
- 50 EUR
- E a do Chelsea?
- Essa custa 75 EUR
- E a do Benfica?
- Oh meu amigo... Essa é a mais cara da loja por se tratar do melhor clube do Mundo, e custa 100EUR.
Aí, o pobre arrisca:
- Você não tem aí a do Porto?
- Tenho sim. Está do outro lado, na prateleira das liquidações e custa 9,50 EUR.
- Pooo!!! Só 9,50 Euros!!!!!!
- É promoção para queima de stock, essas porcarias não se vendem...
- Então dê-me uma - estendendo uma nota de 10 Euros.
O vendedor vai então à caixa registadora, coça a cabeça e meio atrapalhado pergunta:
- Desculpe, mas eu estou sem troco. Quer levar uma camisola do Sporting para completar os 10 Euros?
quarta-feira, setembro 28, 2005
Amor na ponta da pena
Primeiro foram os livros. Desde que me lembro, mesmo antes de aprender a ler, que retiro muito prazer do simples actos de os desfolhar. Logo a seguir, comecei a perceber que até tinha jeito para juntar as palavras, que até tinha coisas para dizer e que, mais importante, as sabia dizer.
Tudo isto para dizer que adoro ler e adoro escrever. Tanto que quando se me proporcionou a oportunidade de fazer o que amo e ser (mal) pago por isso, não vacilei.
Todavia, nos dias que correm, estou a ser atacado pela doença profissional das prostitutas: faço aquilo que gosto, mas faço-o com tanta frequência, a pedido e, muitas vezes num contexo que me diz pouco ou nada, que depois quando o tenho de fazer por amor, falta um pouco a vontade.
Pois, estou a abrir o flanco a piadinhas parvas, eu sei, mas é um risco: confiar.
Tudo isto para justificar a preguiça na contribuição para este espaço. Vamos tentar...prometo.
Tudo isto para dizer que adoro ler e adoro escrever. Tanto que quando se me proporcionou a oportunidade de fazer o que amo e ser (mal) pago por isso, não vacilei.
Todavia, nos dias que correm, estou a ser atacado pela doença profissional das prostitutas: faço aquilo que gosto, mas faço-o com tanta frequência, a pedido e, muitas vezes num contexo que me diz pouco ou nada, que depois quando o tenho de fazer por amor, falta um pouco a vontade.
Pois, estou a abrir o flanco a piadinhas parvas, eu sei, mas é um risco: confiar.
Tudo isto para justificar a preguiça na contribuição para este espaço. Vamos tentar...prometo.
terça-feira, agosto 23, 2005
Haja saúde
Aproveitando as minhas ainda recentes incursões nos desportos aquáticos, quero dizer aos meus amigos que vou entrar nesta onda: hospitais.
Infelizmente, o meu conhecimento dos hospitais públicos deste país já tem anos. Não por minha causa, que graças aos céus tenho uma saúde de ferro, mas por causa do meu pai.
Os muitos problemas de saúde de que padecia forçaram-me a longas noites nas salas de espera do Curry Cabral. Para não falar nas visitas semanais, sempre acompanhado da minha avó octogenária. E, digo-vos, eram experiências inolvidáveis.
Um hospital não é, não pode ser, um sítio agradável. Mas não acredito que a Ocidente dol Bangladesh e a Norte do Sudão existam hospitais tão maus como os portugueses.
Como passaram alguns anos desde aqueles tempos, e o meu pai já está muito além dos hospitais, cheguei a pensar que as coisas tivessem melhorado. Mas eis que uma ameaça de AVC da minha avó me levaram mais uma vez à sala de espera das urgências do Curry Cabral. A primeira impressão foi de que tudo, afinal, estava melhor. A senhora foi rapidamente atendida e o problema despistado. O pior foi que teve de ser submetida a uns exames.
Para encurtar uma história agoniadamente longa, resumo: estivemos quatro horas à espera da senhora porque a médica que a observou se esqueceu de passar os impressos para uma colheita de sangue. Assim, enquanto a velhota esteve numa maca num corredor, assustada e desorientada, e eu estava na sala de espera, a senhora médica, acompannhada de alguns colegas, conversava e fumava à espera que o tempo do turno se esgotasse. Pois, porque a noite era tranquila e o movimento era escasso. E por isso estivemos QUATRO HORAS depois da primeira observação, à espera de nada. No final, ao constatarem o erro grosseiro, o chefe do serviço disse que afinal as análises não eram necessárias e podíamos ir para casa.
Em suma: quatro horas, QUATRO! para nada.
E o pior é que todos os portugueses têm, pelo menos, uma história destas. Pois é, o país está doente. Terminal. E neste caso sou pela eutanásia.
PS: Segundo um estudo do Banco Central Europeu, e se o actual ritmo de crescimento se mantiver, em 2025 a Espanha será o país mais desenvolvido da Europa, à frente da Alemanha, França ou Inglaterra. Pois é, se ao menos o Afonso Henriques não tivesse espancado a mãe...
Infelizmente, o meu conhecimento dos hospitais públicos deste país já tem anos. Não por minha causa, que graças aos céus tenho uma saúde de ferro, mas por causa do meu pai.
Os muitos problemas de saúde de que padecia forçaram-me a longas noites nas salas de espera do Curry Cabral. Para não falar nas visitas semanais, sempre acompanhado da minha avó octogenária. E, digo-vos, eram experiências inolvidáveis.
Um hospital não é, não pode ser, um sítio agradável. Mas não acredito que a Ocidente dol Bangladesh e a Norte do Sudão existam hospitais tão maus como os portugueses.
Como passaram alguns anos desde aqueles tempos, e o meu pai já está muito além dos hospitais, cheguei a pensar que as coisas tivessem melhorado. Mas eis que uma ameaça de AVC da minha avó me levaram mais uma vez à sala de espera das urgências do Curry Cabral. A primeira impressão foi de que tudo, afinal, estava melhor. A senhora foi rapidamente atendida e o problema despistado. O pior foi que teve de ser submetida a uns exames.
Para encurtar uma história agoniadamente longa, resumo: estivemos quatro horas à espera da senhora porque a médica que a observou se esqueceu de passar os impressos para uma colheita de sangue. Assim, enquanto a velhota esteve numa maca num corredor, assustada e desorientada, e eu estava na sala de espera, a senhora médica, acompannhada de alguns colegas, conversava e fumava à espera que o tempo do turno se esgotasse. Pois, porque a noite era tranquila e o movimento era escasso. E por isso estivemos QUATRO HORAS depois da primeira observação, à espera de nada. No final, ao constatarem o erro grosseiro, o chefe do serviço disse que afinal as análises não eram necessárias e podíamos ir para casa.
Em suma: quatro horas, QUATRO! para nada.
E o pior é que todos os portugueses têm, pelo menos, uma história destas. Pois é, o país está doente. Terminal. E neste caso sou pela eutanásia.
PS: Segundo um estudo do Banco Central Europeu, e se o actual ritmo de crescimento se mantiver, em 2025 a Espanha será o país mais desenvolvido da Europa, à frente da Alemanha, França ou Inglaterra. Pois é, se ao menos o Afonso Henriques não tivesse espancado a mãe...
sexta-feira, agosto 05, 2005
Danças de fumo
Isto há dias assim. Depois de uma semana preenchida por um dos trabalhos mais difíceis que já levei a cabo na minha carreira (e, de certa forma, dos mais frustrantes), e na antecâmara de uma reportagem de contornos e desfecho ainda mais incertos do que é costume, tenho algum tempo para dar ao "gatilho". Cá vai:
1) Acabou o ballet Gulbenkian. Mais uma demonstração de menoridade de um país em que se desvaloriza a excelência, sobretudo na cultura, onde se gasta milhões nas Casas da Música e nos Centros Culturais de Belém e afins (e não que não façam falta, atenção), e depois se poupam tostões (cerca de dois milhões de euros ano) nos outros edifícios, aqueles de tijolos humanos e que são, afinal, os que mais fazem por essa coisa da cultura. Mas como não dá votos nem enche os bolsos a ninguém...
2) E por falar em encher os bolsos. De cinzas. Esta noite (ou madrugada, para ser rigoroso), quando regressava a casa, dei por mim mergulhado numa piscina de fumo. A cidade de Lisboa inteira e arredores estava mergulhada num manto cinzento que tudo sufocava. Tudo menos a indignação. Há por aí monstros com cara de homem que andam a queimar florestas, casas, o país inteiro. E o que faz o governo? Não sei. O que fazem as autarquias? Não sei. O que faço eu? Também não sei. Não sei o que fazer se não indignar-me. Merda.
3) Finalmente, umas derradeiras palavras para o circo das presidenciais. Digo circoi porque é o que está montado, muito por culpa também da Comunicação Social, que tanto aprecia a política espectáculo, o duelo de titãs. Soares e Cavaco. Bucha e Estica. Lobo e raposa. Resta saber quem é o quê. E no meio de todo este circo quem são os palhaços? Desconfio que nós, os eleitores, que são aqueles que se querem distraídos enquanto se faz aquela política menos vistosa que é, afinal, a que decide o nosso dia-a-dia.
1) Acabou o ballet Gulbenkian. Mais uma demonstração de menoridade de um país em que se desvaloriza a excelência, sobretudo na cultura, onde se gasta milhões nas Casas da Música e nos Centros Culturais de Belém e afins (e não que não façam falta, atenção), e depois se poupam tostões (cerca de dois milhões de euros ano) nos outros edifícios, aqueles de tijolos humanos e que são, afinal, os que mais fazem por essa coisa da cultura. Mas como não dá votos nem enche os bolsos a ninguém...
2) E por falar em encher os bolsos. De cinzas. Esta noite (ou madrugada, para ser rigoroso), quando regressava a casa, dei por mim mergulhado numa piscina de fumo. A cidade de Lisboa inteira e arredores estava mergulhada num manto cinzento que tudo sufocava. Tudo menos a indignação. Há por aí monstros com cara de homem que andam a queimar florestas, casas, o país inteiro. E o que faz o governo? Não sei. O que fazem as autarquias? Não sei. O que faço eu? Também não sei. Não sei o que fazer se não indignar-me. Merda.
3) Finalmente, umas derradeiras palavras para o circo das presidenciais. Digo circoi porque é o que está montado, muito por culpa também da Comunicação Social, que tanto aprecia a política espectáculo, o duelo de titãs. Soares e Cavaco. Bucha e Estica. Lobo e raposa. Resta saber quem é o quê. E no meio de todo este circo quem são os palhaços? Desconfio que nós, os eleitores, que são aqueles que se querem distraídos enquanto se faz aquela política menos vistosa que é, afinal, a que decide o nosso dia-a-dia.
sexta-feira, julho 22, 2005
Reinventar
Estava eu a fazer a habitual ronda pelos blogues dos meus correlegionários quando dei com uma interessante reflexão do meu amigo Hugo Alves (alcateialouca.blogs.sapo.pt)
Primeiro pensei ques estivesse a falar de engenharia genética e reprodução assistida ou algo da área, já que estava a falar de "clones".
Como achei que era um tema pouco "huguesco", perseverei na leitura e acabei com as dúvidas: o meu amigo estava a passar uma sentença sobre as questões do crescimento.
Não sei se ele sabia sequer que era de crescimento que se tratava o texto. Acho que ele até suspeitava, já que fez questão de o negar algumas vezes.
Que não, que não era contra a evolução, que não era contra o crescimento, que não era disso. Pois, mas só é.
O meu amigo diz que não percebe porque é que as pessoas que ele conheceu em tempos estão tão diferentes. Que já não as reconhece. E que por causa disso estarão, necessariamente, piores.
Ora essa amigo! Como acontece na maior parte das vezes, tenho de discordar.
Crescer é evoluir, não de uma forma suave e continuada, mas através de rupturas.
Como escrevi num "post" anterior, e que, suspeito, tem as mesmas raízes do texto do meu amigo, "crescer é violar". Todos crescemos à custa do nosso passado. Todos matamos o pai (ou a mãe, como ele diz) para crescer, todos rompemos com a pele antiga para crescer.
É claro que há quem tente manter as coisas inalteradas, mas é como agarrar areia da praia: mais tarde ou mais cedo, ela escorre pelos dedos e as mãos ficam vazias.
Também tenho nostalgia, é óbvio. Até porque, permitam-me a pretensão, já perdi mais do que a maior parte das pessoas. Porque a vida me fez perder, porque me foi roubado ou até porque, pura e simplesmente, abri mão.
O universo é feito de mudança. Nem sequer o tempo ou o espaço são constantes. Como é que alguém pode ter a pretensão de o ser?
Ok, podem tentar, mas correm o risco de parecer inadequados, um pouco ridículos ou pior.
Agora podia dizer que os dinossauros desapareceram porque não evoluíram. Mas a verdade é que sobreviveram: são aves. Reinventar, amigo. Crescer é reinventar, mesmo que à custa do que fomos.
Primeiro pensei ques estivesse a falar de engenharia genética e reprodução assistida ou algo da área, já que estava a falar de "clones".
Como achei que era um tema pouco "huguesco", perseverei na leitura e acabei com as dúvidas: o meu amigo estava a passar uma sentença sobre as questões do crescimento.
Não sei se ele sabia sequer que era de crescimento que se tratava o texto. Acho que ele até suspeitava, já que fez questão de o negar algumas vezes.
Que não, que não era contra a evolução, que não era contra o crescimento, que não era disso. Pois, mas só é.
O meu amigo diz que não percebe porque é que as pessoas que ele conheceu em tempos estão tão diferentes. Que já não as reconhece. E que por causa disso estarão, necessariamente, piores.
Ora essa amigo! Como acontece na maior parte das vezes, tenho de discordar.
Crescer é evoluir, não de uma forma suave e continuada, mas através de rupturas.
Como escrevi num "post" anterior, e que, suspeito, tem as mesmas raízes do texto do meu amigo, "crescer é violar". Todos crescemos à custa do nosso passado. Todos matamos o pai (ou a mãe, como ele diz) para crescer, todos rompemos com a pele antiga para crescer.
É claro que há quem tente manter as coisas inalteradas, mas é como agarrar areia da praia: mais tarde ou mais cedo, ela escorre pelos dedos e as mãos ficam vazias.
Também tenho nostalgia, é óbvio. Até porque, permitam-me a pretensão, já perdi mais do que a maior parte das pessoas. Porque a vida me fez perder, porque me foi roubado ou até porque, pura e simplesmente, abri mão.
O universo é feito de mudança. Nem sequer o tempo ou o espaço são constantes. Como é que alguém pode ter a pretensão de o ser?
Ok, podem tentar, mas correm o risco de parecer inadequados, um pouco ridículos ou pior.
Agora podia dizer que os dinossauros desapareceram porque não evoluíram. Mas a verdade é que sobreviveram: são aves. Reinventar, amigo. Crescer é reinventar, mesmo que à custa do que fomos.
quinta-feira, julho 21, 2005
Grande Bruce
DARKNESS ON THE EDGE OF TOWN
They're still racing out at the Trestles
But that blood it never burned in her veins
Now I hear she's got a house up in Fairview
And a style she's trying to maintain
Well if she wants to see me
You can tell her that I'm easily found
Tell her there's a spot out `neath Abram's Bridge
And tell her there's a darkness on the edge of town
Everybody's got a secret Sonny
Something that they just can't face
Some folks spend their whole lives trying to keep it
They carry it with them every step that they take
Till some day they just cut it loose
Cut it loose or let it drag `em down
Where no one asks any questions
Or looks too long in your face
In the darkness on the edge of town
Some folks are born into a good life
Other folks get it anyway anyhow
I lost my money and I lost my wife
Them things don't seem to matter much to me now
Tonight I'll be on that hill `cause I can't stop
I'll be on that hill with everything I got
Lives on the line where dreams are found and lost
I'll be there on time and I'll pay the cost
For wanting things that can only be found
In the darkness on the edge of town
They're still racing out at the Trestles
But that blood it never burned in her veins
Now I hear she's got a house up in Fairview
And a style she's trying to maintain
Well if she wants to see me
You can tell her that I'm easily found
Tell her there's a spot out `neath Abram's Bridge
And tell her there's a darkness on the edge of town
Everybody's got a secret Sonny
Something that they just can't face
Some folks spend their whole lives trying to keep it
They carry it with them every step that they take
Till some day they just cut it loose
Cut it loose or let it drag `em down
Where no one asks any questions
Or looks too long in your face
In the darkness on the edge of town
Some folks are born into a good life
Other folks get it anyway anyhow
I lost my money and I lost my wife
Them things don't seem to matter much to me now
Tonight I'll be on that hill `cause I can't stop
I'll be on that hill with everything I got
Lives on the line where dreams are found and lost
I'll be there on time and I'll pay the cost
For wanting things that can only be found
In the darkness on the edge of town
quarta-feira, julho 20, 2005
Nú com a mão no bolso
A liberdade é um reino vasto, com muitas quintas. A minha é recém-adquirida: andar nú em casa.
Não há sensação melhor que andar à vontade dentro do meu próprio domínio completamente livre dos empecilhos têxteis. É claro que gosto de roupa e prezo sobremaneira a sua protecção e a enorme possibilidade de expressão que esta nos dá. Mas andar nú faz-nos sentir mais puros e em contacto com a nossa verdadeira Natureza. Ok, e há a insubstituível sensação da aragem na genitália.
Pode parecer um disparate mas depois de viver em casa da mãe até aos 30 anos, com a privacidade obviamente limitada, não há coisa melhor do que poder usufruir deste pequeno grande prazer sem correr o risco de chocar o olhar materno com as (evidentes) alterações que este corpinho sofreu desde que a senhora nos expeliu para o frio do extra-útero.
Mas, e há sempre um "mas". Além de gostar de andar nú, também gosto de ter as janelas abertas. E apesar de não ser um gajo friorento e de estarmos no Verão, acabei por pagar o preço de dormir com o meu fato de nascimento: uma brutal gripe.
Já estou há perto de uma semana a acordar com a garganta dorida, o nariz permanentemente entupido e a voz de uma octogenária cantora de cabaré berlinense reformada.
Estou um bocado farto, mas há quem diga que a maior parte dos prazeres pagam-se.
Pelos vistos, até aqueles que são gozados a sós.
Não há sensação melhor que andar à vontade dentro do meu próprio domínio completamente livre dos empecilhos têxteis. É claro que gosto de roupa e prezo sobremaneira a sua protecção e a enorme possibilidade de expressão que esta nos dá. Mas andar nú faz-nos sentir mais puros e em contacto com a nossa verdadeira Natureza. Ok, e há a insubstituível sensação da aragem na genitália.
Pode parecer um disparate mas depois de viver em casa da mãe até aos 30 anos, com a privacidade obviamente limitada, não há coisa melhor do que poder usufruir deste pequeno grande prazer sem correr o risco de chocar o olhar materno com as (evidentes) alterações que este corpinho sofreu desde que a senhora nos expeliu para o frio do extra-útero.
Mas, e há sempre um "mas". Além de gostar de andar nú, também gosto de ter as janelas abertas. E apesar de não ser um gajo friorento e de estarmos no Verão, acabei por pagar o preço de dormir com o meu fato de nascimento: uma brutal gripe.
Já estou há perto de uma semana a acordar com a garganta dorida, o nariz permanentemente entupido e a voz de uma octogenária cantora de cabaré berlinense reformada.
Estou um bocado farto, mas há quem diga que a maior parte dos prazeres pagam-se.
Pelos vistos, até aqueles que são gozados a sós.
Animais
Essa coisa de ser humano tem muito que se lhe diga. Crescemos a ouvir grandes lições sobre a superioridade moral do ser humano, rei e senhor do planeta e de todas as bestas, mas de vez em quando há coisas...
"Na madrugada de 14 de Julho, alguém entrou nas instalações do canil-gatil de Évora presume-se que por cima da vedação, escolheu dois cães tidos como dos mais agressivos para os gatos, libertou-os das coleiras que os prendiam e abriu a entrada do gatil.
Depois, os cães foram largados e seguiu-se uma horrorosa chacina.
Quando, pelas nove horas da manhã, o tratador dos animais Marco Rebocho chegou às instalações, deparou-se com uma imagem indescritível. Ao ataque só sobreviveram quatro gatas adultas e uma cria. Pelo chão ficaram espalhados pedaços de 15 gatos adultos e crias.
Um dos dois cães envolvidos na macabra luta estava morto de fadiga. Mas outros quatro canídeos não envolvidos na matança apresentaram-se bastante debilitados e acabaram por morrer, aparentemente vítimas de envenenamento..."
in Público de quarta-feira, dia 20 de Julho, por Carlos Dias
Afinal, quem são as bestas?
"Na madrugada de 14 de Julho, alguém entrou nas instalações do canil-gatil de Évora presume-se que por cima da vedação, escolheu dois cães tidos como dos mais agressivos para os gatos, libertou-os das coleiras que os prendiam e abriu a entrada do gatil.
Depois, os cães foram largados e seguiu-se uma horrorosa chacina.
Quando, pelas nove horas da manhã, o tratador dos animais Marco Rebocho chegou às instalações, deparou-se com uma imagem indescritível. Ao ataque só sobreviveram quatro gatas adultas e uma cria. Pelo chão ficaram espalhados pedaços de 15 gatos adultos e crias.
Um dos dois cães envolvidos na macabra luta estava morto de fadiga. Mas outros quatro canídeos não envolvidos na matança apresentaram-se bastante debilitados e acabaram por morrer, aparentemente vítimas de envenenamento..."
in Público de quarta-feira, dia 20 de Julho, por Carlos Dias
Afinal, quem são as bestas?
terça-feira, julho 19, 2005
Cristais de açúcar
Dias de inocência
de açucar polvilhados
Sorrisos cúmplices
de ignorância maquilhados
Abraços fraternos
corações agrilhoados
Crescer é violar
de açucar polvilhados
Sorrisos cúmplices
de ignorância maquilhados
Abraços fraternos
corações agrilhoados
Crescer é violar
sexta-feira, julho 15, 2005
Dez para as nove e meia
Rasgas o peito e a vaidade
Vestes a fria pele do lagarto
da cor do desgosto
mal curado
As manhãs da vida parecem distantes
e o fim ao virar de uma esquina rugosa
que acena desbragada
dos confins da depressão
Olhas para os espelhos
que quebraste
para as portas que não fechaste
e aumenta a confusão
Os métodos que não seguiste
perseguem-te e tentam
marcar na tua nova pele de
lagarto-da-cor-do-desgosto
o cunho da normalidade
A normal normalidade normalizadora
que é pior que nada, mas o próprio esmagador
nada
Trânsito, filhos, café instantâneo
torradas com margarina fina
que delícia
E os ombros que descaem
E os olhos que embaciam
prisioneiros
do nevoeiro sujo
das palavras sujas
desta vida suja
em que afocinhas
e te esfregas
Os lençois suados de lágrimas
e semen que te puxam para baixo
que te seduzem para o escuro
são a doce armadilha, o intenso mosto
a toca de um homem com pele de lagarto
da cor do desgosto
Vestes a fria pele do lagarto
da cor do desgosto
mal curado
As manhãs da vida parecem distantes
e o fim ao virar de uma esquina rugosa
que acena desbragada
dos confins da depressão
Olhas para os espelhos
que quebraste
para as portas que não fechaste
e aumenta a confusão
Os métodos que não seguiste
perseguem-te e tentam
marcar na tua nova pele de
lagarto-da-cor-do-desgosto
o cunho da normalidade
A normal normalidade normalizadora
que é pior que nada, mas o próprio esmagador
nada
Trânsito, filhos, café instantâneo
torradas com margarina fina
que delícia
E os ombros que descaem
E os olhos que embaciam
prisioneiros
do nevoeiro sujo
das palavras sujas
desta vida suja
em que afocinhas
e te esfregas
Os lençois suados de lágrimas
e semen que te puxam para baixo
que te seduzem para o escuro
são a doce armadilha, o intenso mosto
a toca de um homem com pele de lagarto
da cor do desgosto
segunda-feira, julho 11, 2005
(Des)equilíbrios
As férias acabaram. Uma constatação por demais evidente quando te vês reintegrado na monótona procissão rodoviária até à capital.
Enquanto percorria a Segunda Circular, instalado na minha modesta carripana, fui fazendo contas às tarefas que tinha pela frente: esgalhar um artigo sobre a campanha portuguesa de qualificação para o Mundial de voleibol; digerir mais algumas ideias de trabalho, limpar a minha caixa de e-mail e, já agora, acabar com o meu blogue.
Pois é. A verdade é que nunca me senti muito à vontade em despir-me em público. Algo que se tem tornado cada vez mais penoso nos últimos tempos.
Também nunca fui gajo para perder o meu precioso tempo a dedilhar banalidades em cima de generalidades. Se, aqui e ali, o fiz o peço desculpa.
E se digo que me tenho despido em público, a verdade é que este "público" são amigos, conhecidos e alguns estranhos.
O problema é que na vida tudo muda e essas categorias são tudo menos fixas.
Aquele a quem hoje chamas amigo, pode muito bem ser um estranho. Ou então gostarias que fosse. A verdade é que de conhecido, és obrigado a perceber, tem muito pouco.
Tudo isto gira à volta de um conceito escorregadio: o equilíbrio. Palavra que sugere estabilidade, solidez, equidade, a verdade é que, na vida, e no que às pessoas diz respeito, o equilíbrio é tudo menos sólido, mas antes fluido, adaptável.
E é na falta dessa adaptabilidade, que surgem os desequilíbrios. Desequilíbrios de quem não se adapta, de quem não vive bem com a mudança. Porque não tem capacidade, ou coragem, para o fazer.
Confesso que também padeço, por vezes, desse mal. Às vezes desculpo-me com essa deficiência com as circunstâncias atribuladas da minha vida. Mas também quem se pode gabar de ter uma vida fácil? Acho que ninguém.
Assim, bem ou mal, com muitos trambolhões, cabeçadas e hesitações, tiros no pé e muitas segundas oportunidades e ajudas, lá fui levando a água ao meu moinho. Como toda a gente. Ou não?
Uma das razões que me levam a considerar encerrar aqui esta participação virtual, talvez mesmo a mais forte, é perceber que aquilo que deveria ser um espaço de reflexão, de troca de ideias e até, porque não, de tentativas mais ou menos conseguidas de fazer literatura, está a transformar-se numa praça de troca, não de ideias, mas de insultos, de recadinhos (e o diminuitivo refere-se à mesquinhez dos textos e seus autores, e porque não, à menoridade intelectual) e mal destiladas invejas.
Não quero entrar nesse jogo. Não vou entrar nesse jogo. Não tenho feitio nem paciência.
Esta página está com a cabeça no cepo. Como a minha paciência.
Enquanto percorria a Segunda Circular, instalado na minha modesta carripana, fui fazendo contas às tarefas que tinha pela frente: esgalhar um artigo sobre a campanha portuguesa de qualificação para o Mundial de voleibol; digerir mais algumas ideias de trabalho, limpar a minha caixa de e-mail e, já agora, acabar com o meu blogue.
Pois é. A verdade é que nunca me senti muito à vontade em despir-me em público. Algo que se tem tornado cada vez mais penoso nos últimos tempos.
Também nunca fui gajo para perder o meu precioso tempo a dedilhar banalidades em cima de generalidades. Se, aqui e ali, o fiz o peço desculpa.
E se digo que me tenho despido em público, a verdade é que este "público" são amigos, conhecidos e alguns estranhos.
O problema é que na vida tudo muda e essas categorias são tudo menos fixas.
Aquele a quem hoje chamas amigo, pode muito bem ser um estranho. Ou então gostarias que fosse. A verdade é que de conhecido, és obrigado a perceber, tem muito pouco.
Tudo isto gira à volta de um conceito escorregadio: o equilíbrio. Palavra que sugere estabilidade, solidez, equidade, a verdade é que, na vida, e no que às pessoas diz respeito, o equilíbrio é tudo menos sólido, mas antes fluido, adaptável.
E é na falta dessa adaptabilidade, que surgem os desequilíbrios. Desequilíbrios de quem não se adapta, de quem não vive bem com a mudança. Porque não tem capacidade, ou coragem, para o fazer.
Confesso que também padeço, por vezes, desse mal. Às vezes desculpo-me com essa deficiência com as circunstâncias atribuladas da minha vida. Mas também quem se pode gabar de ter uma vida fácil? Acho que ninguém.
Assim, bem ou mal, com muitos trambolhões, cabeçadas e hesitações, tiros no pé e muitas segundas oportunidades e ajudas, lá fui levando a água ao meu moinho. Como toda a gente. Ou não?
Uma das razões que me levam a considerar encerrar aqui esta participação virtual, talvez mesmo a mais forte, é perceber que aquilo que deveria ser um espaço de reflexão, de troca de ideias e até, porque não, de tentativas mais ou menos conseguidas de fazer literatura, está a transformar-se numa praça de troca, não de ideias, mas de insultos, de recadinhos (e o diminuitivo refere-se à mesquinhez dos textos e seus autores, e porque não, à menoridade intelectual) e mal destiladas invejas.
Não quero entrar nesse jogo. Não vou entrar nesse jogo. Não tenho feitio nem paciência.
Esta página está com a cabeça no cepo. Como a minha paciência.
quarta-feira, junho 08, 2005
Pés de barro
Durante a vida de um homem, existem algumas questões que pairam insistentes. Nuvens etéreas que, de quando em quando se fazem sentir, como um arrepio...
No meu caso, uma dessas questões tem a ver com...(rufar dos tambores)...os pés.
A primeira vez que tomei conhecimento deste problema fundamental foi graças a uma mulher. Que não gostava dos pés e tal. Desvalorizei. Mas mais tarde voltei a encontrar esse "problema", com outra mulher. Modelo fotográfico, atleta, gira e tal, corpo escultural e...pés feios. Feios? Ela dizia que sim, mas quem estava a olhar para os pés?
E como toda a problemática da pedicultura me foi apresentada por mulheres, cheguei a pensar que fosse uma daquelas coisas de gaja, como a síndrome pré-menstrual e as revistas que dizem coisas como "conquiste o seu homem na cama".
Puro engano.
De repente, ao conversar com alguns amigos daqueles bem machos que bebem cerveja ao litro e curtem futebol, recebi um soco no estomâgo: "Pés? Eh pá, muito importante. Digo-te mais, era incapaz de fazer o que fosse com, deixa ver...a Angelina Jolie por exemplo (silêncio reverentemente religioso) se ela tivesse os pés feios. Só de imaginar uns pés feios a tocar-me..."
Ok, este foi o caso mais extremo. Mas o que é certo é que depois, após apurada investigação, descobri toda uma tribo de adoradores de pés, de amantes de sandálias, de fanáticos dos saltos altos.
Gosto de pensar que sou dotado de apurado sentido estético, logo até distingo o que é isso de um pé bonito. Mas será assim tão relevante?
E as mãos? E os cotovelos? E os pulsos? Sei lá, de repente, todo um universo anatómico pouco explorado se abre diante dos meus olhos. Não como partes discretas bem integradas num todo que se quer harmonioso, mas como elementos valiosos "per se".
Tudo isto porque hoje o 24 Horas trazia na manchete que Daniela Cicarelli tinha "pés feiosos". Sim? e daí?
Será que a beleza, esse valor esguio e vaporoso, depende da "perfeição" (outro conceito perigosíssimo) anatómica de coisas como os pés?
A beleza é uma coisa estranha. Uns perseguem-na obsessivamente, outros não. Uns pensam que são belos sem o ser quando quem o é geralmente nem percebe. Porque a verdadeira beleza não pode depender da perfeição de uns pés. Não pode.
E depois existem ainda outros casos: os daqueles que pensamos que são belos. E, curiosamente, eles também pensam que o são; e vivemos todos nessa entorpecedora ilusão. Até lhes olharmos para os pés e percebemos que são feios...de barro.
No meu caso, uma dessas questões tem a ver com...(rufar dos tambores)...os pés.
A primeira vez que tomei conhecimento deste problema fundamental foi graças a uma mulher. Que não gostava dos pés e tal. Desvalorizei. Mas mais tarde voltei a encontrar esse "problema", com outra mulher. Modelo fotográfico, atleta, gira e tal, corpo escultural e...pés feios. Feios? Ela dizia que sim, mas quem estava a olhar para os pés?
E como toda a problemática da pedicultura me foi apresentada por mulheres, cheguei a pensar que fosse uma daquelas coisas de gaja, como a síndrome pré-menstrual e as revistas que dizem coisas como "conquiste o seu homem na cama".
Puro engano.
De repente, ao conversar com alguns amigos daqueles bem machos que bebem cerveja ao litro e curtem futebol, recebi um soco no estomâgo: "Pés? Eh pá, muito importante. Digo-te mais, era incapaz de fazer o que fosse com, deixa ver...a Angelina Jolie por exemplo (silêncio reverentemente religioso) se ela tivesse os pés feios. Só de imaginar uns pés feios a tocar-me..."
Ok, este foi o caso mais extremo. Mas o que é certo é que depois, após apurada investigação, descobri toda uma tribo de adoradores de pés, de amantes de sandálias, de fanáticos dos saltos altos.
Gosto de pensar que sou dotado de apurado sentido estético, logo até distingo o que é isso de um pé bonito. Mas será assim tão relevante?
E as mãos? E os cotovelos? E os pulsos? Sei lá, de repente, todo um universo anatómico pouco explorado se abre diante dos meus olhos. Não como partes discretas bem integradas num todo que se quer harmonioso, mas como elementos valiosos "per se".
Tudo isto porque hoje o 24 Horas trazia na manchete que Daniela Cicarelli tinha "pés feiosos". Sim? e daí?
Será que a beleza, esse valor esguio e vaporoso, depende da "perfeição" (outro conceito perigosíssimo) anatómica de coisas como os pés?
A beleza é uma coisa estranha. Uns perseguem-na obsessivamente, outros não. Uns pensam que são belos sem o ser quando quem o é geralmente nem percebe. Porque a verdadeira beleza não pode depender da perfeição de uns pés. Não pode.
E depois existem ainda outros casos: os daqueles que pensamos que são belos. E, curiosamente, eles também pensam que o são; e vivemos todos nessa entorpecedora ilusão. Até lhes olharmos para os pés e percebemos que são feios...de barro.
terça-feira, maio 31, 2005
Guerra das Estrelas
Estávamos em meados da década de 80, no tempo em que ainda ia a matinées. O local, um cinema da Linha do Estoril. Tinha ido acompanhar a minha mãe numa visita a um familiar e, aborrecido de morte, lá cravei uns trocos para ir ver um filme de que ouvia falar há anos e que estava em reposição. Era a Guerra das Estrelas.
Passaram-se anos desde que me foram apresentados o jovem Luke Skywalker, o rebelde Han Solo, o sábio Obi Wan ou a irreverente princesa Leia.
Sábado passado arrastei a minha namorada para ver o Episódio III da Guerra das Estrelas. Foi a ponte para aquela já distante tarde de 80 e tal.
Foi também uma porta aberta para uma série de questões e temas que me apaixonaram nos três primeiros episódios da série (que também são os últimos, perceba-se lá isto).
A corrupção dos regimes democráticos e dos homens que, afinal, os compõem; o amor, a morte, a relação entre pais e filhos e a redenção dos pais pelos filhos, a proximidade entre os opostos. Conspiração, intriga, fosso de gerações.
E aqui chegamos às críticas que facilmente enchem as páginas da especialidade. Que é incoerente, que existem incorrecções científicas e tecnológicas. Que os robôs não ficavam obsoletos apesar dos anos, se não haveria ecografias ou outro tipo de processos para determinar se eram gémeos ou não, etc, etc, etc.
Pois é. A mania de olhar para as árvores em vez de contemplar a floresta. Amigos, esqueçam as naves, os robôs e os alienígenas. No séc. XVI William Shakespeare escreveu peças com fadas e outros seres fabulosos. Há algum crítico que fale contra o mestre?
Não digo que a "Guerra das Estrelas" seja digna de Shakespeare, mas o homem não desdenharia uma história destas. Só que com fadas em vez de robôs.
Passaram-se anos desde que me foram apresentados o jovem Luke Skywalker, o rebelde Han Solo, o sábio Obi Wan ou a irreverente princesa Leia.
Sábado passado arrastei a minha namorada para ver o Episódio III da Guerra das Estrelas. Foi a ponte para aquela já distante tarde de 80 e tal.
Foi também uma porta aberta para uma série de questões e temas que me apaixonaram nos três primeiros episódios da série (que também são os últimos, perceba-se lá isto).
A corrupção dos regimes democráticos e dos homens que, afinal, os compõem; o amor, a morte, a relação entre pais e filhos e a redenção dos pais pelos filhos, a proximidade entre os opostos. Conspiração, intriga, fosso de gerações.
E aqui chegamos às críticas que facilmente enchem as páginas da especialidade. Que é incoerente, que existem incorrecções científicas e tecnológicas. Que os robôs não ficavam obsoletos apesar dos anos, se não haveria ecografias ou outro tipo de processos para determinar se eram gémeos ou não, etc, etc, etc.
Pois é. A mania de olhar para as árvores em vez de contemplar a floresta. Amigos, esqueçam as naves, os robôs e os alienígenas. No séc. XVI William Shakespeare escreveu peças com fadas e outros seres fabulosos. Há algum crítico que fale contra o mestre?
Não digo que a "Guerra das Estrelas" seja digna de Shakespeare, mas o homem não desdenharia uma história destas. Só que com fadas em vez de robôs.
quinta-feira, maio 26, 2005
As costas dos ponteiros
Trabalhar em equipa tem destas coisas. E eu odeio. Bom ou mau, gosto de ser responsável pelos meus actos.Depois de amanhã sai uma reportagem/perfil com a vida do treinador José Rachão.
Boa ou má reportagem, não me cabe dizer. Agora, quando um imbecil da revisão troca a expressão "os ponteiros voltam atrás" por um "os ponteiros viram-se para trás"!!! Ai fico irritado, pois claro que fico. É que o nome do imbecil que passou dois dias a compor aquela merda de trabalho está em letras garrafais por cima daquele pedaço de esterco. E o imbecil é, adivinharam, este vosso servo.
Porra! como detesto incompetentes. Assim, amigos, não quero saber dos cerca de 90 mil gajos que lêem a Record DEZ e vão pensar que este Carlos Mariano é um "atrasado mental". Basta saber que vocês sabem que este gajo é mesmo um atrasado mental, ok, mas que sabe que os ponteiros não têm costas.
Boa ou má reportagem, não me cabe dizer. Agora, quando um imbecil da revisão troca a expressão "os ponteiros voltam atrás" por um "os ponteiros viram-se para trás"!!! Ai fico irritado, pois claro que fico. É que o nome do imbecil que passou dois dias a compor aquela merda de trabalho está em letras garrafais por cima daquele pedaço de esterco. E o imbecil é, adivinharam, este vosso servo.
Porra! como detesto incompetentes. Assim, amigos, não quero saber dos cerca de 90 mil gajos que lêem a Record DEZ e vão pensar que este Carlos Mariano é um "atrasado mental". Basta saber que vocês sabem que este gajo é mesmo um atrasado mental, ok, mas que sabe que os ponteiros não têm costas.
sexta-feira, maio 13, 2005
Pobre país pobre
-- Ténis para jogar ténis?
-- Sim, eu sei que soa mal mas percebe o que quero dizer, não é?
-- Claro, mas não temos?
-- Não têm? Mas então...?
--Experimente na Sport Zone. É que sabe, o ténis não é um desporto muito...
Este diálogo teve lugar entre mim e um assistente de uma loja dita de desporto no Centro Coimercial Colombo. Antes disso já tinha virado o Vasco da Gama (três modelos de ténis distribuídos entre a loja da Nike e a Sport Zone); o Olivais Shoppping (ah, temos os Adidas Stan Smith [nota: modelo com trinta anos e mais apropriado para passear]) e finalmente o Colombo onde apenas na Sport Zone (e isto inclui a Foot Locker) encontrei alguns modelos, quatro, para ser preciso, e apenas em alguns números. Mais ou menos o mesmo cenário que no El Corte Inglés.
Ok, quem aguentou ler até aqui já se convenceu da frivolidade deste texto. Contudo, não quero aqui falar do drama do menino queque que não conseguia encontrar uns ténis, que hôrrooore!
Não, estou a escrever isto porque nunca tinha sentido tão veementemente o quão terceiro mundista é um país em que se diz que o ténis "é para ricos".
Um par de ténis custa cerca de 50 euros. Uma raquete razoável custa outros cinquenta. Um "pack" de quatro bolas custa cerca de 10 euros. E uma hora num "court" sai mais barato do que uma hora de snooker num qualquer café. Isto é para ricos?
Vivemos num pobre país de pobres...de espírito. Os nossos melhores jogadores de ténis flutuaram algures nos Top 200 mundial. Tivemos um número um de juniores, Cunha e Silva, que aos 18 anos era um ano mais velho que o campeão de Wimbledon da altura, um tal Boris Becker.
Entretanto, acabo de escrever o perfil de Rafael Nadal, um jovem de 18 anos que é o grande candidato a ganhar Roland Garros e a, em breve, ocupar o topo do "ranking" ATP. Ah, e é espanhol. Uma realidade tão próxima no mapa e, no entanto, tão irremediavelmente distante.
Enfim, e isto só me bateu a sério quando quis comprar uns ténis. Incrível.
Em suma:
Viva o país do futebol.
-- Sim, eu sei que soa mal mas percebe o que quero dizer, não é?
-- Claro, mas não temos?
-- Não têm? Mas então...?
--Experimente na Sport Zone. É que sabe, o ténis não é um desporto muito...
Este diálogo teve lugar entre mim e um assistente de uma loja dita de desporto no Centro Coimercial Colombo. Antes disso já tinha virado o Vasco da Gama (três modelos de ténis distribuídos entre a loja da Nike e a Sport Zone); o Olivais Shoppping (ah, temos os Adidas Stan Smith [nota: modelo com trinta anos e mais apropriado para passear]) e finalmente o Colombo onde apenas na Sport Zone (e isto inclui a Foot Locker) encontrei alguns modelos, quatro, para ser preciso, e apenas em alguns números. Mais ou menos o mesmo cenário que no El Corte Inglés.
Ok, quem aguentou ler até aqui já se convenceu da frivolidade deste texto. Contudo, não quero aqui falar do drama do menino queque que não conseguia encontrar uns ténis, que hôrrooore!
Não, estou a escrever isto porque nunca tinha sentido tão veementemente o quão terceiro mundista é um país em que se diz que o ténis "é para ricos".
Um par de ténis custa cerca de 50 euros. Uma raquete razoável custa outros cinquenta. Um "pack" de quatro bolas custa cerca de 10 euros. E uma hora num "court" sai mais barato do que uma hora de snooker num qualquer café. Isto é para ricos?
Vivemos num pobre país de pobres...de espírito. Os nossos melhores jogadores de ténis flutuaram algures nos Top 200 mundial. Tivemos um número um de juniores, Cunha e Silva, que aos 18 anos era um ano mais velho que o campeão de Wimbledon da altura, um tal Boris Becker.
Entretanto, acabo de escrever o perfil de Rafael Nadal, um jovem de 18 anos que é o grande candidato a ganhar Roland Garros e a, em breve, ocupar o topo do "ranking" ATP. Ah, e é espanhol. Uma realidade tão próxima no mapa e, no entanto, tão irremediavelmente distante.
Enfim, e isto só me bateu a sério quando quis comprar uns ténis. Incrível.
Em suma:
Viva o país do futebol.
quinta-feira, abril 14, 2005
CCB? -Dêem-nos música
Os cínicos costumam dizer a respeito a política qualquer coisa a respeito das moscas e da merda. Não sei se sim se não.
O que eu sei é que, merda ou não, há coisas que, de facto, não mudam. Há coisa de uma década indignava-me com a "derrapagem financeira" (belo eufemismo) do Centro Cultural de Belém. Mais que o despesismo, criticava um governo que pensava que o evidente défice cultural do país se resolvia com projectos megalómanos.
Muito tempo passou, vários governos se foram com a espuma dos dias, e, no entanto, hoje inaugura-se mais um CCB. Só que como as coisas mudam, este chama-se Casa da Música e é no Porto.
Gaba-se a arquitectura, fala-se das maravilhas que este projecto vai trazer à vida cultural do país, etc, etc.
Só sei que um projecto com orçamento previsto para 40 milhões de euros (oito milhões de contos dos antigos) apresenta hoje uma factura de 100 milhões, ou seja, vinte milhões dos entretanto extintos contos. Pois, porque as coisas mudam...
Posto isto, algumas perguntas:
Quantos teatros se constroem com 100 milhões?
Quantas bibliotecas?
Quantas escolas?
Quantos empregos para
professores, educadores, músicos, actores, se podem criar?
Isto é tudo CCB -- Centralização Cultural para Burros.
Porque a cultura não é isto.
O que eu sei é que, merda ou não, há coisas que, de facto, não mudam. Há coisa de uma década indignava-me com a "derrapagem financeira" (belo eufemismo) do Centro Cultural de Belém. Mais que o despesismo, criticava um governo que pensava que o evidente défice cultural do país se resolvia com projectos megalómanos.
Muito tempo passou, vários governos se foram com a espuma dos dias, e, no entanto, hoje inaugura-se mais um CCB. Só que como as coisas mudam, este chama-se Casa da Música e é no Porto.
Gaba-se a arquitectura, fala-se das maravilhas que este projecto vai trazer à vida cultural do país, etc, etc.
Só sei que um projecto com orçamento previsto para 40 milhões de euros (oito milhões de contos dos antigos) apresenta hoje uma factura de 100 milhões, ou seja, vinte milhões dos entretanto extintos contos. Pois, porque as coisas mudam...
Posto isto, algumas perguntas:
Quantos teatros se constroem com 100 milhões?
Quantas bibliotecas?
Quantas escolas?
Quantos empregos para
professores, educadores, músicos, actores, se podem criar?
Isto é tudo CCB -- Centralização Cultural para Burros.
Porque a cultura não é isto.
quinta-feira, abril 07, 2005
De carroça
Há um problema grave neste país: a mania de resolver as questões na flor em vez de na raíz.
Um dos exemplos mais óbvios tem a ver com os automóveis. Os automobilistas deste país são a grande vaca leiteira do Estado.
Na aquisição de automóvel, entre IVA e IA, os portugueses são dos que mais se esforçam. Basta dizer que, na Europa, apenas os Dinamarqueses pagam mais para ter carro. Em Portugal o salário mínimo é de 374,70 euros. Na Dinamarca, não há salário mínimo mas recordo-me de ter lido uma reportagem acerca de um emigrante cubano na Dinamarca que ganhava cerca de dois mil euros a servir às mesas. Enfim...
A título de exemplo, um VW Golf 2.0 TDI custa cerca de 10 mil euros mais em Portugal do que em Espanha. 10 mil euros em impostos. Ah, e os espanhóis têm salário mínimo. 526 euros segundo os meus números mais recentes.
Mas há mais. Temos o imposto de circulação (selo), as portagens, a gasolina...
Mas e depois o dinheiro dos impostos é bem aplicado. Em medidas ambientais, em estradas melhores e mais seguras, na melhoria do ensino da condução...pois. Talvez na Dinamarca.
Portagens: Há quarenta anos que os portugueses pagam uma ponte ultrapassada. Fez-se outra, que até desviava o trânsito de uma zona importante da cidade de Lisboa e tal...e é exorbitante.
Para não falar nas auto-estradas. E há alternativas? Pois há. Em alguns casos, as SCUT. Que os senhores do governo cessante queriam cobrar. Que os senhores do actual governo ainda equacionam cobrar.
Gasolina: Os mesmos senhores que queriam cobrar portagens nas SCUT fizeram o favor de liberalizar o preço da gasolina. Como os senhores das gasolineiras até já fazem pouco dinheiro, como até não combinam entre si os preços (cartéis não são só os colombianos), está provado que foi uma excelente medida. A somar a mais impostos, mais que em Espanha, por exemplo, o resultado é o do costume.
Parquímetros: Cobrados por empresas ilegais. Como as pessoas perceberam que a EMEL, por exemplo, não tinha legitimidade legal para passar multas, deixaram de as pagar. Como tal, esses senhores passaram a bloquear e a rebocar carros. Extorsão pura. Mas o que esperar de uma cidade que permite os "arrumadores", senhores que ganham a vida retendo os carros como reféns? Bem, mas a própria EMEL não é mais que uma firma de arrumadores organizados.
Ambiente: E os impostos são usados em medidas ambientais? Pois, tanto que somos o único país da UE que taxa mais a gasolina que o gasóleo (mais poluente).
Estradas: E os impostos são usados na construção de melhores estradas? Para quem já passou no IP4 e IP5 a pergunta é uma anedota trágica.
Mas com tudo isto, chegamos à conclusão. Tive uma discussão com uma amiga que me dizia que o carro é um luxo. É o que pensam os nossos governantes. Eu também pensaria assim se tivesse alternativas. Mas não tenho. Não tenho transportes públicos bons e baratos. Quanto à qualidade, recomendo a leitura do blog "Alcateia de Loucos" onde o meu amigo Hugo Alves faz uma interpretação bem engraçada, mas real, de uma viagem num autocarro da Carris. E para quem vive fora de Lisboa, então...sem palavras.
Mas vamos taxar os automobilistas. Porque o carro é um luxo. Ao preço por que pagamos os carros em Portugal, é mesmo. E, já agora, a relação entre tudo isto e as mortes na estrada? Há a educação e a falta dela. Pois é. Mas isso reflecte-se no número de acidentes. Agora se há muitos acidentes que resultam em morte, se calhar é porque os portugueses quando batem, batem de Renault Clio e não de Mercedes.
Mas de carroça, como o país, a coisa corria muito melhor.
Um dos exemplos mais óbvios tem a ver com os automóveis. Os automobilistas deste país são a grande vaca leiteira do Estado.
Na aquisição de automóvel, entre IVA e IA, os portugueses são dos que mais se esforçam. Basta dizer que, na Europa, apenas os Dinamarqueses pagam mais para ter carro. Em Portugal o salário mínimo é de 374,70 euros. Na Dinamarca, não há salário mínimo mas recordo-me de ter lido uma reportagem acerca de um emigrante cubano na Dinamarca que ganhava cerca de dois mil euros a servir às mesas. Enfim...
A título de exemplo, um VW Golf 2.0 TDI custa cerca de 10 mil euros mais em Portugal do que em Espanha. 10 mil euros em impostos. Ah, e os espanhóis têm salário mínimo. 526 euros segundo os meus números mais recentes.
Mas há mais. Temos o imposto de circulação (selo), as portagens, a gasolina...
Mas e depois o dinheiro dos impostos é bem aplicado. Em medidas ambientais, em estradas melhores e mais seguras, na melhoria do ensino da condução...pois. Talvez na Dinamarca.
Portagens: Há quarenta anos que os portugueses pagam uma ponte ultrapassada. Fez-se outra, que até desviava o trânsito de uma zona importante da cidade de Lisboa e tal...e é exorbitante.
Para não falar nas auto-estradas. E há alternativas? Pois há. Em alguns casos, as SCUT. Que os senhores do governo cessante queriam cobrar. Que os senhores do actual governo ainda equacionam cobrar.
Gasolina: Os mesmos senhores que queriam cobrar portagens nas SCUT fizeram o favor de liberalizar o preço da gasolina. Como os senhores das gasolineiras até já fazem pouco dinheiro, como até não combinam entre si os preços (cartéis não são só os colombianos), está provado que foi uma excelente medida. A somar a mais impostos, mais que em Espanha, por exemplo, o resultado é o do costume.
Parquímetros: Cobrados por empresas ilegais. Como as pessoas perceberam que a EMEL, por exemplo, não tinha legitimidade legal para passar multas, deixaram de as pagar. Como tal, esses senhores passaram a bloquear e a rebocar carros. Extorsão pura. Mas o que esperar de uma cidade que permite os "arrumadores", senhores que ganham a vida retendo os carros como reféns? Bem, mas a própria EMEL não é mais que uma firma de arrumadores organizados.
Ambiente: E os impostos são usados em medidas ambientais? Pois, tanto que somos o único país da UE que taxa mais a gasolina que o gasóleo (mais poluente).
Estradas: E os impostos são usados na construção de melhores estradas? Para quem já passou no IP4 e IP5 a pergunta é uma anedota trágica.
Mas com tudo isto, chegamos à conclusão. Tive uma discussão com uma amiga que me dizia que o carro é um luxo. É o que pensam os nossos governantes. Eu também pensaria assim se tivesse alternativas. Mas não tenho. Não tenho transportes públicos bons e baratos. Quanto à qualidade, recomendo a leitura do blog "Alcateia de Loucos" onde o meu amigo Hugo Alves faz uma interpretação bem engraçada, mas real, de uma viagem num autocarro da Carris. E para quem vive fora de Lisboa, então...sem palavras.
Mas vamos taxar os automobilistas. Porque o carro é um luxo. Ao preço por que pagamos os carros em Portugal, é mesmo. E, já agora, a relação entre tudo isto e as mortes na estrada? Há a educação e a falta dela. Pois é. Mas isso reflecte-se no número de acidentes. Agora se há muitos acidentes que resultam em morte, se calhar é porque os portugueses quando batem, batem de Renault Clio e não de Mercedes.
Mas de carroça, como o país, a coisa corria muito melhor.
quarta-feira, abril 06, 2005
Vida II
Para evitar confusões, vou retirar todas as considerações genéricas de uma entrada anterior e colocar uma questão "à" referendo: Deve uma mulher que interrompe a gravidez até (digamos) às 12 semanas, sofrer sanções?"
Ou então à bruta: Deve uma mulher que interrompa a gravidez até às (mais uma vez o prazo) ir para a cadeia e ser duplamente castigada (porque o aborto também é uma pena)?
Se se quer evitar o aborto, criem-se condições de acompanhamento nos hospitais, com psicólogos, assistentes sociais, criem alternativas e informem as pessoas da sua existência. Se não se pode criar as condições para toda a gente ter os filhos que quiser, quando quiser então dêem-lhes alternativas. Asseguro que o número de abortos diminuiria drasticamente. E isso é o que todos querem.
Agora, e é só isso que estou a dizer, mandar as pessoas para a prisão é absurdo. A sociedade que promulga e apoia leis como esta é necessaria e implicitamente hipócrita. Não é uma questão religiosa. É uma questão de pão e educação, duas coisas que faltam (muito) neste país.
E para esclarecer os meus amigos comentadores, não sou "bloquista" nem acho que as mulheres sejam as únicas com o poder de escolha sobre o destino do feto. Nunca disse isso. Mas ver no aborto uma forma de "eugenia social" para acabar com os "inadequados" é, no mínimo, um argumento puramente demagógico muitas vezes invocado por aquela franja político-partidária que ideologicamente se posiciona nos antípodas do BE. E os extremos tocam-se e misturam-se. Na máxima expressão tornam-se fanatismos.
Ou então à bruta: Deve uma mulher que interrompa a gravidez até às (mais uma vez o prazo) ir para a cadeia e ser duplamente castigada (porque o aborto também é uma pena)?
Se se quer evitar o aborto, criem-se condições de acompanhamento nos hospitais, com psicólogos, assistentes sociais, criem alternativas e informem as pessoas da sua existência. Se não se pode criar as condições para toda a gente ter os filhos que quiser, quando quiser então dêem-lhes alternativas. Asseguro que o número de abortos diminuiria drasticamente. E isso é o que todos querem.
Agora, e é só isso que estou a dizer, mandar as pessoas para a prisão é absurdo. A sociedade que promulga e apoia leis como esta é necessaria e implicitamente hipócrita. Não é uma questão religiosa. É uma questão de pão e educação, duas coisas que faltam (muito) neste país.
E para esclarecer os meus amigos comentadores, não sou "bloquista" nem acho que as mulheres sejam as únicas com o poder de escolha sobre o destino do feto. Nunca disse isso. Mas ver no aborto uma forma de "eugenia social" para acabar com os "inadequados" é, no mínimo, um argumento puramente demagógico muitas vezes invocado por aquela franja político-partidária que ideologicamente se posiciona nos antípodas do BE. E os extremos tocam-se e misturam-se. Na máxima expressão tornam-se fanatismos.
domingo, abril 03, 2005
Campeões
Uma recordação da minha amiga e campeã Susana Barroso. Esta grande mulher mostra todos os dias que a vida é uma luta que só se vence...vivendo.
E esses é que são os campeões, os que não se rendem, os que não baixam o jogo, mesmo quando as cartas que o Universo lhes dá são das mais baixas do baralho. Força, esperança, fé, amor. Ainda há quem se lembre o que é isto? É tão triste ver tanta gente imersa nas suas preocupações mesquinhas e sem tempo para agradecer o tanto que têm. A minha amiga Susana Barroso gostaria de ter a mesma força. Mas tem um músculo muito mais poderoso. Mesmo que os médicos digam que vai enfraquecer: o coração.
E esses é que são os campeões, os que não se rendem, os que não baixam o jogo, mesmo quando as cartas que o Universo lhes dá são das mais baixas do baralho. Força, esperança, fé, amor. Ainda há quem se lembre o que é isto? É tão triste ver tanta gente imersa nas suas preocupações mesquinhas e sem tempo para agradecer o tanto que têm. A minha amiga Susana Barroso gostaria de ter a mesma força. Mas tem um músculo muito mais poderoso. Mesmo que os médicos digam que vai enfraquecer: o coração.

quinta-feira, março 31, 2005
Vida
O direito à vida. Eis um conceito mais uma vez em voga.
Em Portugal, discute-se o aborto. Uma questão da qual se diz ser fracturante. Porque todos têm uma posição. Porque ninguém muda de campo. Porque todos acham que têm razão.
E como todos têm uma posição, eu tenho a minha: sou a favor da despenalização do aborto.
Porque sou contra a hipocrisia.
Porque sou contra a injustiça que a actual lei cultiva.
Porque não suporto as senhoras católicas que aparecem nas revistas, vestidas pelas melhores casas francesas e italianas, a pregar sentenças sobre
vidas que nascem ou se perdem num mundo do qual elas só conhecem através dos relatos das empregadas.
Porque há mulheres que morrem ou ficam mutiladas.
Porque há mulheres que têm os corpos invadidos por curiosos armados de instrumentos mal esterilizados, escondidas em quartos sujos.
Porque a sociedade não as deixa sair desses mesmos quartos sujos, penalizando-as, castigando-as por algo a que são forçadas pela ignorância, pela pobreza.
Direito à vida. E Vida será o mesmo que existência? Penso que seja algo mais que isso.
Direito à vida. Acabo de ver o presidente de uma nação responsável por milhares de mortos no Iraque insurgir-se contra a libertação do corpo de uma mulher que há muito havia partido. Como se pode ser tão flexível sobre algo. Só quem não tem espinha o pode fazer.
Direito à vida. Adoro crianças e adoraria, um dia, ser pai. Mas isso tem algo a ver? Só para os ignorantes, os hipócritas ou os burros como George W. Bush.
Em Portugal, discute-se o aborto. Uma questão da qual se diz ser fracturante. Porque todos têm uma posição. Porque ninguém muda de campo. Porque todos acham que têm razão.
E como todos têm uma posição, eu tenho a minha: sou a favor da despenalização do aborto.
Porque sou contra a hipocrisia.
Porque sou contra a injustiça que a actual lei cultiva.
Porque não suporto as senhoras católicas que aparecem nas revistas, vestidas pelas melhores casas francesas e italianas, a pregar sentenças sobre
vidas que nascem ou se perdem num mundo do qual elas só conhecem através dos relatos das empregadas.
Porque há mulheres que morrem ou ficam mutiladas.
Porque há mulheres que têm os corpos invadidos por curiosos armados de instrumentos mal esterilizados, escondidas em quartos sujos.
Porque a sociedade não as deixa sair desses mesmos quartos sujos, penalizando-as, castigando-as por algo a que são forçadas pela ignorância, pela pobreza.
Direito à vida. E Vida será o mesmo que existência? Penso que seja algo mais que isso.
Direito à vida. Acabo de ver o presidente de uma nação responsável por milhares de mortos no Iraque insurgir-se contra a libertação do corpo de uma mulher que há muito havia partido. Como se pode ser tão flexível sobre algo. Só quem não tem espinha o pode fazer.
Direito à vida. Adoro crianças e adoraria, um dia, ser pai. Mas isso tem algo a ver? Só para os ignorantes, os hipócritas ou os burros como George W. Bush.
quarta-feira, março 30, 2005
Escravatura e máscaras de argila
Descansem as mulheres. A igualdade chegou. A parte final do século XIX e todo o século passado foram feitos pela luta das mulheres pela igualdade. Hoje, finalmente, a guerra está a ser ganha.
A ideia bateu-me como um martelo quando dei por mim a ler uma série de folhetos subordinados ao tema da cosmética masculina. Biotherme, Nickel, Lab Series, Clarins, Shiseido, enfim, uma bateria de nomes que entram assim de rompante no meu quotidiano. Eles são os esfoliantes, os hidratantes, os anti-rugas, os cremes de dia, os cremes de noite, e, a minha favorita, a máscara de argila.
Agora sim, estou-me a ver a aspirar a casa, de roupão, num sábado de manhã e com uma máscara de argila no focinho. Só me lembro do teledisco dos Queen.
É verdade que a necessidade é a mãe da invenção, mas o que se passa com este fenómeno é a criação de necessidades. Que homem (ou mulher) precisa de tanta coisa para se sentir bem e saudável? Já para não falar na tanga dos cremes para "adelgaçar a cintura". Pelo amor de Deus! Passei anos a gozar com os cremes anti-celulite das mulheres, um mito para obrigar as senhoras a gastar dinheiro, sem qualquer retorno. E agora querem impingir-nos essas coisas? Valha-nos Deus!
Bem, ao cabo de tanta leitura, fiquei na mesma. O problema é que, de manhã, quando desço no elevador, olho para o espelho e dou por mim a olhar para as linhas dos cantos dos olhos.
Enfim, como as gajas.
A ideia bateu-me como um martelo quando dei por mim a ler uma série de folhetos subordinados ao tema da cosmética masculina. Biotherme, Nickel, Lab Series, Clarins, Shiseido, enfim, uma bateria de nomes que entram assim de rompante no meu quotidiano. Eles são os esfoliantes, os hidratantes, os anti-rugas, os cremes de dia, os cremes de noite, e, a minha favorita, a máscara de argila.
Agora sim, estou-me a ver a aspirar a casa, de roupão, num sábado de manhã e com uma máscara de argila no focinho. Só me lembro do teledisco dos Queen.
É verdade que a necessidade é a mãe da invenção, mas o que se passa com este fenómeno é a criação de necessidades. Que homem (ou mulher) precisa de tanta coisa para se sentir bem e saudável? Já para não falar na tanga dos cremes para "adelgaçar a cintura". Pelo amor de Deus! Passei anos a gozar com os cremes anti-celulite das mulheres, um mito para obrigar as senhoras a gastar dinheiro, sem qualquer retorno. E agora querem impingir-nos essas coisas? Valha-nos Deus!
Bem, ao cabo de tanta leitura, fiquei na mesma. O problema é que, de manhã, quando desço no elevador, olho para o espelho e dou por mim a olhar para as linhas dos cantos dos olhos.
Enfim, como as gajas.
domingo, março 20, 2005
Sexo com uma lutadora de sumo
Antes que alguém queira corrigir, eu antecipo: o sumo é só para homens. E ainda bem.
Mas eu explico. À beira dos 30 anos comprei uma prancha. Ontem, na companhia de dois amigos fiz-me ao mar em Carcavelos. Entrei com alguma relutância, a água não é das mais limpas. Mas entrei.
Depois de alguma luta para passar a rebentação, habitual em quem ainda não domina a técnica de "mergulho de pato" e que, portanto, é sistematicamente empurrado pela rebentação de volta à praia, tive a minha recompensa. O mar estava pintado daquele verde-cinza profundo que oscila até ao azul-cobalto. As ondas rareavam mas eram cheias. E algumas, de quando em quando, eram mesmo poderosas.
Estava a falar com um dos meus amigos quando fui surpreendido por uma dessas raras preciosidades: uma parede com franja branca de espuma e uma boca cavernosa. Disse "até já" aos meus parceiros e comecei a remar. A sensação foi a do costume: incrível.
Uma força viva e imensa que pega em nós como um palito de gelado. Mas errei. A trajectória não foi a melhor e passei do topo do edífício para a barriga do monstro. Fui engolido. A prancha puxava para um lado, enquanto as pernas eram empurradas em direcções opostas, dobradas em ângulos impossíveis.
Felizmente, sempre me senti à vontade na água e não entro em pânico. Basta suster o fôlego e esperar que o urso verde se canse de brincar connosco. Subi para respirar e vi que estava à beira da praia. A sensação é de exaustão. Vista "a posteriori" é como fazer amor com uma lutadora de sumo: ora estás em cima e seguro, ou estás dentro e debaixo, quase sufocado naquela enorme massa.
Ah, sim, voltei a remar de volta mas ontem não voltei a apanhar outra onda assim.
Mas eu explico. À beira dos 30 anos comprei uma prancha. Ontem, na companhia de dois amigos fiz-me ao mar em Carcavelos. Entrei com alguma relutância, a água não é das mais limpas. Mas entrei.
Depois de alguma luta para passar a rebentação, habitual em quem ainda não domina a técnica de "mergulho de pato" e que, portanto, é sistematicamente empurrado pela rebentação de volta à praia, tive a minha recompensa. O mar estava pintado daquele verde-cinza profundo que oscila até ao azul-cobalto. As ondas rareavam mas eram cheias. E algumas, de quando em quando, eram mesmo poderosas.
Estava a falar com um dos meus amigos quando fui surpreendido por uma dessas raras preciosidades: uma parede com franja branca de espuma e uma boca cavernosa. Disse "até já" aos meus parceiros e comecei a remar. A sensação foi a do costume: incrível.
Uma força viva e imensa que pega em nós como um palito de gelado. Mas errei. A trajectória não foi a melhor e passei do topo do edífício para a barriga do monstro. Fui engolido. A prancha puxava para um lado, enquanto as pernas eram empurradas em direcções opostas, dobradas em ângulos impossíveis.
Felizmente, sempre me senti à vontade na água e não entro em pânico. Basta suster o fôlego e esperar que o urso verde se canse de brincar connosco. Subi para respirar e vi que estava à beira da praia. A sensação é de exaustão. Vista "a posteriori" é como fazer amor com uma lutadora de sumo: ora estás em cima e seguro, ou estás dentro e debaixo, quase sufocado naquela enorme massa.
Ah, sim, voltei a remar de volta mas ontem não voltei a apanhar outra onda assim.
terça-feira, março 08, 2005
Dias
Dia da Mulher. Sinto-me na obrigação de sublinhar que nada me move contra as mulheres. Bem pelo contrário.
Aliás, é precisamente por ser a favor das mulheres que me quero insurgir contra o "Dia da Mulher". Depois do dia da árvore, do dia dos avós, do dia da criança, do dia do velho, do dia dos jardineiros e do dia dos comedores de "sushi", eis o dia da mulher.
Essa coisa dos dias de qualquer coisa tem graça e fundamento quando falamos de minorias, o que não é o caso. Que eu saiba, segundo os números mais recentes, as mulheres estão mesmo em maioria.
A existência de um "Dia da Mulher" faz tanto sentido como a de um "Dia do Homem". E não há, pois não?
Enfim, hoje deu-me para aqui, o que fazer. Mas será só a mim que isto faz confusão?
Aliás, é precisamente por ser a favor das mulheres que me quero insurgir contra o "Dia da Mulher". Depois do dia da árvore, do dia dos avós, do dia da criança, do dia do velho, do dia dos jardineiros e do dia dos comedores de "sushi", eis o dia da mulher.
Essa coisa dos dias de qualquer coisa tem graça e fundamento quando falamos de minorias, o que não é o caso. Que eu saiba, segundo os números mais recentes, as mulheres estão mesmo em maioria.
A existência de um "Dia da Mulher" faz tanto sentido como a de um "Dia do Homem". E não há, pois não?
Enfim, hoje deu-me para aqui, o que fazer. Mas será só a mim que isto faz confusão?
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Também tu, Baía?
Há coisas do diabo. Numa altura em que se fala tanto de boatos e tal...
Bem, que tal darem uma espreitadela a uma certa vivenda na zona de Penafiel? Talvez fiquem tão surpreendidos como eu fiquei quando soube que aí reside a razão pela qual Vítor Baía se separou da mulher.
Ah, e razão faz a barba.
Bem, que tal darem uma espreitadela a uma certa vivenda na zona de Penafiel? Talvez fiquem tão surpreendidos como eu fiquei quando soube que aí reside a razão pela qual Vítor Baía se separou da mulher.
Ah, e razão faz a barba.
segunda-feira, janeiro 24, 2005
Terra do Nunca
Ontem fui ver um dos melhores filmes que já tive o privilégio de assistir. "À procura da Terra do Nunca" como lhe chamam por cá é um exemplo magistral de como se pode contar uma história emocionalmente poderosa de forma soberbamente contida.
É raro, mas às vezes tenho de concordar com o meu amigo Hugo.
É raro, mas às vezes tenho de concordar com o meu amigo Hugo.
sexta-feira, janeiro 21, 2005
Inveja
Recomendo vivamente a leitura do livro de José Gil "Portugal, Hoje: o Medo de Mudar". Li a entrevista que este pensador (considerado um dos maiores 25 pensadores do mundo pelo "Nouvelle Observateur") deu à revista Pública do último domingo e fiquei esclarecido.
"Vivemos paralisados pela inveja", afirma o autor, que coloca este sentimento bem acima desta condição: é algo que faz parte do próprio sangue deste povo.
E, de facto, ao reflectir no que diz José Gil, desde cedo que somos vítimas desta cultura da mediocridade. Desde os bancos de escola, os melhores alunos são reprimidos, marginalizados e só são integrados e aceites quando deixam de brilhar. É a cultura do lodo.
Inveja. Em vez de ganharmos força e motivação com o sucesso dos outros, em vez de procurar imitar o seu exemplo, arrumamo-los com rótulos, insultos, ou a assassina ironia de quem sabe que em Portugal todos vivemos com medo e sensibilidade à flor da pele. Porque este é um país verde, imaturo, sufocado durante anos pelo Salazarismo. Mas não só. É um medo atávico que prefere diminuir os outros à sua própria insignificância.
E é por isso que o país não anda para a frente? Versão Reader's Digest: Sim. Não só, mas claramente também.
"Vivemos paralisados pela inveja", afirma o autor, que coloca este sentimento bem acima desta condição: é algo que faz parte do próprio sangue deste povo.
E, de facto, ao reflectir no que diz José Gil, desde cedo que somos vítimas desta cultura da mediocridade. Desde os bancos de escola, os melhores alunos são reprimidos, marginalizados e só são integrados e aceites quando deixam de brilhar. É a cultura do lodo.
Inveja. Em vez de ganharmos força e motivação com o sucesso dos outros, em vez de procurar imitar o seu exemplo, arrumamo-los com rótulos, insultos, ou a assassina ironia de quem sabe que em Portugal todos vivemos com medo e sensibilidade à flor da pele. Porque este é um país verde, imaturo, sufocado durante anos pelo Salazarismo. Mas não só. É um medo atávico que prefere diminuir os outros à sua própria insignificância.
E é por isso que o país não anda para a frente? Versão Reader's Digest: Sim. Não só, mas claramente também.
quinta-feira, janeiro 13, 2005
O castigo da normalidade
Não há pena maior, castigo mais duro e condição mais desgraçada que a de ser normal. Infelizmente, parece que é a isso que, cada vez mais, estou fadado.
Subi a encosta da vida convencido que seria algo de extraordinário, que a minha vida seria qualquer coisa de marcante e que pairaria muito acima da mediocridade dos "normais".
Mesmo nas alturas em que todo o ser humano reza para ser o mais igual ao seu vizinho, ostentei as minhas diferenças com orgulho, como se a mera inadaptação fosse uma marca de água da grandiosidade que me esperava ao fundo do túnel.
Entretanto, fiz 30 anos, uma data que sugere balanços. Alguns amigos colocam-me a coisa nestes termos: "Tens casa, carro, dinheiro e um bom emprego e uma miúda que gosta de ti. Porque é que dizes que não és feliz? porque é que dizes que te falta algo? Falta?"
Falta. A diferença. Falta a tal marca de água, falta a chama e a crença de que nasci para ser diferente, superlativo.
Estou cada vez mais normal. Cada vez mais presa da normalidade assassina que esfuma as linhas do rosto e a chama dos olhos e do peito, que torna rombas as facas dos dentes.
Tenho trinta anos. Aos quarenta, o animal ressurge, dizem. Esperemos que o acordar da minha besta não se manifeste pela compra de um descapotável.
Subi a encosta da vida convencido que seria algo de extraordinário, que a minha vida seria qualquer coisa de marcante e que pairaria muito acima da mediocridade dos "normais".
Mesmo nas alturas em que todo o ser humano reza para ser o mais igual ao seu vizinho, ostentei as minhas diferenças com orgulho, como se a mera inadaptação fosse uma marca de água da grandiosidade que me esperava ao fundo do túnel.
Entretanto, fiz 30 anos, uma data que sugere balanços. Alguns amigos colocam-me a coisa nestes termos: "Tens casa, carro, dinheiro e um bom emprego e uma miúda que gosta de ti. Porque é que dizes que não és feliz? porque é que dizes que te falta algo? Falta?"
Falta. A diferença. Falta a tal marca de água, falta a chama e a crença de que nasci para ser diferente, superlativo.
Estou cada vez mais normal. Cada vez mais presa da normalidade assassina que esfuma as linhas do rosto e a chama dos olhos e do peito, que torna rombas as facas dos dentes.
Tenho trinta anos. Aos quarenta, o animal ressurge, dizem. Esperemos que o acordar da minha besta não se manifeste pela compra de um descapotável.
terça-feira, janeiro 11, 2005
No olho do ciclone
Confesso: estou mal habituado. Moldado ou distorcido por uma maturação complicada, posso dizer que me tornei um vinho encorpado, de cor vermelho-rubi (clubística e politicamente) e um aroma profundo e inebriante, matizado de taninos suaves e um ligeiro sabor persistente a teimosia.
Bem, piadas à parte, sou o que sou, bem ou mal, graças às dificuldades; por não dar nunca nada como adquirido e lutar pelo que quero.
E agora? Agora atravesso um estranho momento de calmaria. Sem dramas, sem dificuldades de maior além das que tento imaginar, estou lentamente a perder propriedades.
Ou se calhar estou no olhbo do furacão, atento à vida que circula transtornada à minha volta. À vida dos outros, porque da minha apenas digo que estou aborrecido. Um bocadinho.
Bem, piadas à parte, sou o que sou, bem ou mal, graças às dificuldades; por não dar nunca nada como adquirido e lutar pelo que quero.
E agora? Agora atravesso um estranho momento de calmaria. Sem dramas, sem dificuldades de maior além das que tento imaginar, estou lentamente a perder propriedades.
Ou se calhar estou no olhbo do furacão, atento à vida que circula transtornada à minha volta. À vida dos outros, porque da minha apenas digo que estou aborrecido. Um bocadinho.
segunda-feira, janeiro 03, 2005
Ano novo...
Aqui está 2005.
Confesso que cada vez tenho menos fascínio por essa coisa do ano novo. É conveniente que haja um calendário que nos lembre da passagem do tempo mas estou a habituar-me a catalogar as gavetas da minha vida em função de eventos marcantes. Talvez porque tenho tido muitos.
Adiante, é apenas uma proposta. Não deve ser das mais práticas, mas nunca fui conhecido por ser prático.
PS: Para alguém que conheço, 2005 é um bom exemplo. Será o ano em que nasce sua filha. Só isso deveria chegar, não?
Parabéns
Confesso que cada vez tenho menos fascínio por essa coisa do ano novo. É conveniente que haja um calendário que nos lembre da passagem do tempo mas estou a habituar-me a catalogar as gavetas da minha vida em função de eventos marcantes. Talvez porque tenho tido muitos.
Adiante, é apenas uma proposta. Não deve ser das mais práticas, mas nunca fui conhecido por ser prático.
PS: Para alguém que conheço, 2005 é um bom exemplo. Será o ano em que nasce sua filha. Só isso deveria chegar, não?
Parabéns
quinta-feira, dezembro 02, 2004
Justiça
À hora que escrevo estas linhas, corre a notícia, ainda não confirmada, que Pinto da Costa foi notificado na sequência do caso "apito dourado". Dizem ainda que o "Papa" está em Espanha. Azar do caraças!
Ao cabo de 20 anos de roubos declarados, conspirações e todo o tipo de jogadas sujas, o reinado de Pinto da Costa está, finalmente, a chegar ao fim.
Escrevo isto sem ponta de clubismo. Também aplaudiria se LF Vieira fosse preso. Aliás, ainda falta esse. Falo em nome do futebol. Há alguns anos, um presidente do Sporting veio falar do "25 de Abril do futebol"; parece que, finalmente, os tanques estão na rua.
Ao cabo de 20 anos de roubos declarados, conspirações e todo o tipo de jogadas sujas, o reinado de Pinto da Costa está, finalmente, a chegar ao fim.
Escrevo isto sem ponta de clubismo. Também aplaudiria se LF Vieira fosse preso. Aliás, ainda falta esse. Falo em nome do futebol. Há alguns anos, um presidente do Sporting veio falar do "25 de Abril do futebol"; parece que, finalmente, os tanques estão na rua.
terça-feira, novembro 30, 2004
quinta-feira, novembro 18, 2004
Intimidade e sim, ovos mexidos
Temos medo. O sexo, mais conhecido nestas páginas como "ovos mexidos" (ver "post" com o mesmo título) é bom. Afirmação pouco polémica. Tão pouco que a sabedoria "hollywoodesca" já a sintetizou: "Sexo é como pizza: mesmo quando é mau, é bom".
Então não é de sexo que temos medo. Ok, concedo que até haja quem tenha medo de sexo, mas isso é uma questão dos que ainda não o começaram e dos que estão com medo que acabe. Coisas do tempo. Daquele que temos e do que ainda nos resta, dependendo da perspectiva.
Mas no meio, entre os inícios e os finalmentes, há os entretantos, os dos ovos mexidos. E é aí que entra o outro medo, o egoísta: medo da intimidade.
O segredo do bom sexo (dizem, que eu não percebo nada disso) é o esquecimento, a anulação da consciência. Esquecermo-nos de quem somos perante outra pessoa; esquecer o pudor, a inadequação. E aí as hormonas ajudam.
O problema é quando passa a "magia" química: nús, umas vezes em cama alheia, outras com alguém que, vendo bem, é praticamente um estranho, estamos paradoxalmente sós.
Lembro-me da história de um amigo que percebeu a real dimensão do erro quando depois de uma noite tórrida, a parceira de idílio erótico o convidou para o seu duche. O problema foi que ele estava urinando e a moça entra casa de banho adentro, sem respeito por aquele momento...íntimo.
Pois é: intimidade. É esse o cerne do problema. É que, nestes dias de propaganda generalizada, de corpos perfeitos enlaçados, o sexo não é, não pode ser, a medida da intimidade.
A intimidade faz-se na partilha de coisas simples mas secretas. É deixar entrar outrém no pequeno e secreto espaço em que nos habituámos a viver. E não é fácil. Para muitos de nós, o proverbial armário onde guardamos os "esqueletos", ou a partilha de uma casa de banho, não é tarefa simples. E é aí, nesse tão menosprezado campo de batalha que se ganham ou perdem relações.
Formulado de maneira sintética: "Posso ir contigo para a cama mas, por favor, não me vejas mijar."
Amén
Então não é de sexo que temos medo. Ok, concedo que até haja quem tenha medo de sexo, mas isso é uma questão dos que ainda não o começaram e dos que estão com medo que acabe. Coisas do tempo. Daquele que temos e do que ainda nos resta, dependendo da perspectiva.
Mas no meio, entre os inícios e os finalmentes, há os entretantos, os dos ovos mexidos. E é aí que entra o outro medo, o egoísta: medo da intimidade.
O segredo do bom sexo (dizem, que eu não percebo nada disso) é o esquecimento, a anulação da consciência. Esquecermo-nos de quem somos perante outra pessoa; esquecer o pudor, a inadequação. E aí as hormonas ajudam.
O problema é quando passa a "magia" química: nús, umas vezes em cama alheia, outras com alguém que, vendo bem, é praticamente um estranho, estamos paradoxalmente sós.
Lembro-me da história de um amigo que percebeu a real dimensão do erro quando depois de uma noite tórrida, a parceira de idílio erótico o convidou para o seu duche. O problema foi que ele estava urinando e a moça entra casa de banho adentro, sem respeito por aquele momento...íntimo.
Pois é: intimidade. É esse o cerne do problema. É que, nestes dias de propaganda generalizada, de corpos perfeitos enlaçados, o sexo não é, não pode ser, a medida da intimidade.
A intimidade faz-se na partilha de coisas simples mas secretas. É deixar entrar outrém no pequeno e secreto espaço em que nos habituámos a viver. E não é fácil. Para muitos de nós, o proverbial armário onde guardamos os "esqueletos", ou a partilha de uma casa de banho, não é tarefa simples. E é aí, nesse tão menosprezado campo de batalha que se ganham ou perdem relações.
Formulado de maneira sintética: "Posso ir contigo para a cama mas, por favor, não me vejas mijar."
Amén
quarta-feira, novembro 10, 2004
Silêncio de ouro
Parado para obras. Deixei passar as eleições presidenciais norte-americanas, os desvarios governativos do túnel do Rossio, da anunciada taxa para a entrada de automóveis em Lisboa, até do real peso da (alegada) redução das taxas do IRS.
Tudo porque estou em obras.
Quando as coisas mudam bruscamente e o meu mundo parece virado de pernas para o ar (ou finalmente deixa de estar), então mais vale parar para pensar. A palavra pode, de facto, ser de prata. Mas, amigos, em "certas e determinadas situações"...o silêncio é mesmo de ouro.
Tudo porque estou em obras.
Quando as coisas mudam bruscamente e o meu mundo parece virado de pernas para o ar (ou finalmente deixa de estar), então mais vale parar para pensar. A palavra pode, de facto, ser de prata. Mas, amigos, em "certas e determinadas situações"...o silêncio é mesmo de ouro.
terça-feira, novembro 02, 2004
Fidel de bolso
Em resposta ao amigo que se insurge contra a minha caracterização da Madeira:
O estilo, em política, é indissociável da sua práxis. E se o estilo de Alberto João é "latino-americano", caro amigo, por sua vez reconhecerá que a política betoneira da "obra feita", tão ao gosto da era cavaquista, não faz mais que esconder as profundíssimas assimetrias de uma ilha dividida entre o Funchal turístico e a "paisagem".
Meu caro, numa coisa eu lhe concedo razão: as falhas da Madeira não serão assim tão diferentes daquelas que todos os dias assinalamos no resto do nosso país, o problema é que a sua insularidade acentua esses problemas. O resto é problema dessa mesma insularidade especial, estimulada por um governo trauliteiro, caricatura de fontismo e cavaquismo. Um regime que parece querer ter pouco de democrático na sua obsessão em dificultar o trabalho dos "patetas da comunicação social do continente".
Quanto ao facto de não terem sido detectadas ou denunciadas fraudes eleitorais, devo dizer que a manipulação de um boletim de voto não é a única forma de viciar umas eleições. Se o meu amigo, como tudo indica, é madeirense, saberá melhor do que eu o que é o caciquismo, já para não falar na demagogia populista e caceteira.
Entretanto, das conversas que tive com alguns madeiren ses sobre o assunto, é voz corrente e crença comum que existe de facto "algo estranho" nas recorrentes reeleições de Alberto João Jardim. Conversas não passam disso mesmo e à falta de provas não lhes posso atribuir grande importância, mas que não deixam de ser sintomáticas.
Em suma, caro amigo, sei que estamos em posições inconciliáveis. Concedo que talvez o povo da Madeira não tenha grandes alternativas ao "Fidel de bolso" Jardim, mas a escolha de um homem que promove o culto da personalidade, do "regionalismo" quase racista (e nesse campeonato também temos o Pinto da Costa) e que capitaliza votos a partir da ignorância de um povo dividido por profundas fracturas soció-económicas, não o dignifica em nada.
E mais uma coisa quanto à obra feita: Tem qualquer coisa de edipiano o "lobbying" feito pelo "presidente da Madeira" (conforme dizia esta semana uma responsável do PSD num lapso inconsciente muito interessante), para conseguir boas fatias do OE e depois apelidar a esmagadora maioria dos portugueses, os que vivem no continente paterno e lhe pagam "a obra feita" com os seus impostos, de cubanos. Mas para um Fidel de bolso o que mais poderíamos esperar?
O estilo, em política, é indissociável da sua práxis. E se o estilo de Alberto João é "latino-americano", caro amigo, por sua vez reconhecerá que a política betoneira da "obra feita", tão ao gosto da era cavaquista, não faz mais que esconder as profundíssimas assimetrias de uma ilha dividida entre o Funchal turístico e a "paisagem".
Meu caro, numa coisa eu lhe concedo razão: as falhas da Madeira não serão assim tão diferentes daquelas que todos os dias assinalamos no resto do nosso país, o problema é que a sua insularidade acentua esses problemas. O resto é problema dessa mesma insularidade especial, estimulada por um governo trauliteiro, caricatura de fontismo e cavaquismo. Um regime que parece querer ter pouco de democrático na sua obsessão em dificultar o trabalho dos "patetas da comunicação social do continente".
Quanto ao facto de não terem sido detectadas ou denunciadas fraudes eleitorais, devo dizer que a manipulação de um boletim de voto não é a única forma de viciar umas eleições. Se o meu amigo, como tudo indica, é madeirense, saberá melhor do que eu o que é o caciquismo, já para não falar na demagogia populista e caceteira.
Entretanto, das conversas que tive com alguns madeiren ses sobre o assunto, é voz corrente e crença comum que existe de facto "algo estranho" nas recorrentes reeleições de Alberto João Jardim. Conversas não passam disso mesmo e à falta de provas não lhes posso atribuir grande importância, mas que não deixam de ser sintomáticas.
Em suma, caro amigo, sei que estamos em posições inconciliáveis. Concedo que talvez o povo da Madeira não tenha grandes alternativas ao "Fidel de bolso" Jardim, mas a escolha de um homem que promove o culto da personalidade, do "regionalismo" quase racista (e nesse campeonato também temos o Pinto da Costa) e que capitaliza votos a partir da ignorância de um povo dividido por profundas fracturas soció-económicas, não o dignifica em nada.
E mais uma coisa quanto à obra feita: Tem qualquer coisa de edipiano o "lobbying" feito pelo "presidente da Madeira" (conforme dizia esta semana uma responsável do PSD num lapso inconsciente muito interessante), para conseguir boas fatias do OE e depois apelidar a esmagadora maioria dos portugueses, os que vivem no continente paterno e lhe pagam "a obra feita" com os seus impostos, de cubanos. Mas para um Fidel de bolso o que mais poderíamos esperar?
sexta-feira, outubro 29, 2004
Ilhas
Escrevo estas linhas sentado numa cadeira metálica de um cibercafé do Funchal. O facto de estar numa ilha fez-me reflectir sobre essa condição especial que é a de ilhéu.
Deve ser interessante viver neste pedaço de terra que é português na denominação, europeu na população e latino-americano no regime, sim porque apesar de o tio Alberto nos chamar a todos "cubanos", é ele que tem as tendências "fidelcastrinianas".
Mas fui mais longe. Não sei porquê , ocorreu-me, de forma óbvia e pungente, a doída voz de Paul Simon e o dedilhar da guitarra no tema "I am an Island". Afinal, não o somos todos?
Não somos todos nós ilhéus de nós mesmos? massas de gente cercadas de vazios por todos os lados?
Haverá alguns de entre vós que acorrerão a desmentir-me. Rejeitarão esta tese "fruto dos teus habituados estados depressivos", dirão, arengando com a felicidade que lhes é emprestada por momentos, cientes que ninguém a retirará.
Outros, momentaneamente vencidos pela vida, dirão sem perceberem a mensagem, que sim, que temem que tenho razão, que "tudo é uma merda" e todos os dias assistem impotentes ao desmoronar das ilusões telenovelescas que lhes aqueceram os pés ao longo de anos de novelas da Globo.
"I am a rock, I am an island, and a rock feels no pain, and an island never cries", diz o Paul. Não sei a resposta, apenas tenho perguntas, muitas. É que há algo que nos separa desta ilha e de todas as outras, as geológicas: sentimos dor, choramos, e tocamos. E para além dessas noções quebradiças de felicidade e infelicidade, também somos, nem que seja por momentos, arquipélagos, penínsulas e até, nem que seja por um segundo, enormes continentes de esperança.
Deve ser interessante viver neste pedaço de terra que é português na denominação, europeu na população e latino-americano no regime, sim porque apesar de o tio Alberto nos chamar a todos "cubanos", é ele que tem as tendências "fidelcastrinianas".
Mas fui mais longe. Não sei porquê , ocorreu-me, de forma óbvia e pungente, a doída voz de Paul Simon e o dedilhar da guitarra no tema "I am an Island". Afinal, não o somos todos?
Não somos todos nós ilhéus de nós mesmos? massas de gente cercadas de vazios por todos os lados?
Haverá alguns de entre vós que acorrerão a desmentir-me. Rejeitarão esta tese "fruto dos teus habituados estados depressivos", dirão, arengando com a felicidade que lhes é emprestada por momentos, cientes que ninguém a retirará.
Outros, momentaneamente vencidos pela vida, dirão sem perceberem a mensagem, que sim, que temem que tenho razão, que "tudo é uma merda" e todos os dias assistem impotentes ao desmoronar das ilusões telenovelescas que lhes aqueceram os pés ao longo de anos de novelas da Globo.
"I am a rock, I am an island, and a rock feels no pain, and an island never cries", diz o Paul. Não sei a resposta, apenas tenho perguntas, muitas. É que há algo que nos separa desta ilha e de todas as outras, as geológicas: sentimos dor, choramos, e tocamos. E para além dessas noções quebradiças de felicidade e infelicidade, também somos, nem que seja por momentos, arquipélagos, penínsulas e até, nem que seja por um segundo, enormes continentes de esperança.
quinta-feira, outubro 21, 2004
Misantropo
Misantropo. Para quem não se lembra ou não passou por isso (Sim, que eu não estou a ficar mais novo), esta era uma das palavras que pintalgava a PGA (Prova Geral de Acesso), prova polémica que mandou abaixo ministros da Educação e deu mais uma das muitas facadas no governo de Cavaco.
Tudo isto irrompeu pela minha memória dentro quando vi a carga policial aos estudantes de Coimbra que tentavam invadir (pacificamente, sublinhe-se) o Senado académico. A causa das queixas, desta vez, mais uma vez, são as propinas mas poderia ser outra coisa qualquer, quem sabe, até a PGA.
Quanto a essa prova, devo dizer que até gostava daquilo: não tinha de se estudar e podia-se colocar em acção todo o manancial de conhecimentos que o puto já tinha acumulado aos 17 anos.
Mas era o princípio da coisa, que me parecia algo fascista, que me levou à rua a protestar.
Todavia, nem nos piores tempos da Ferreira Leite e do Grilo na Educação e do Cavaco no governo, vi algo semelhante áquilo que se passou em Coimbra: é o (des)governo Santana em todo o seu esplendor.
Entretanto, e ainda na mesma linha, gostei muito de ver Morais Sarmento assumir a vocação ditatorial deste (des)governo quando em pleno Parlamento advogou que o (des)governo deveria controlar a programação da televisão pública porque "não são os administradores ou os jornalistas a responder perante os eleitores".
Fantástico.
Já agora, porque não colocar o povo a governar directamente? Venha a anarquia e pronto. Sim, porque pela mesma lógica do senhor ministro, não são eles a sentir na pele os efeitos da sua desastrada governação?
Enfim, como se dizia em 92: Cambada de Misantropos
Tudo isto irrompeu pela minha memória dentro quando vi a carga policial aos estudantes de Coimbra que tentavam invadir (pacificamente, sublinhe-se) o Senado académico. A causa das queixas, desta vez, mais uma vez, são as propinas mas poderia ser outra coisa qualquer, quem sabe, até a PGA.
Quanto a essa prova, devo dizer que até gostava daquilo: não tinha de se estudar e podia-se colocar em acção todo o manancial de conhecimentos que o puto já tinha acumulado aos 17 anos.
Mas era o princípio da coisa, que me parecia algo fascista, que me levou à rua a protestar.
Todavia, nem nos piores tempos da Ferreira Leite e do Grilo na Educação e do Cavaco no governo, vi algo semelhante áquilo que se passou em Coimbra: é o (des)governo Santana em todo o seu esplendor.
Entretanto, e ainda na mesma linha, gostei muito de ver Morais Sarmento assumir a vocação ditatorial deste (des)governo quando em pleno Parlamento advogou que o (des)governo deveria controlar a programação da televisão pública porque "não são os administradores ou os jornalistas a responder perante os eleitores".
Fantástico.
Já agora, porque não colocar o povo a governar directamente? Venha a anarquia e pronto. Sim, porque pela mesma lógica do senhor ministro, não são eles a sentir na pele os efeitos da sua desastrada governação?
Enfim, como se dizia em 92: Cambada de Misantropos
terça-feira, outubro 19, 2004
O Mundo ao contrário
Confesso que nem sou um fã por aí além de Xutos&Pontapés, mas mesmo assim peço-lhes emprestado o título. O mundo está mesmo ao contrário. Cheguei agora de uma reportagem aos Algarves e pelo caminho vinha a ouvir uma notícia que dava conta do interesse de alguns países voltarem a apostar na energia nuclear.
Quer dizer, numa altura em que o petróleo atinge preços brutais e em que se deveria, finalmente, começar a reconverter a indústria e a produção de energia para as fontes ecológicas renováveis, eis que querem voltar ao urânio. Boa, boa, os terroristas agradecem, pois onde é que iam buscar material para bombas? Quanto mais urânio enriquecido houver à solta em países como a China, Coreia(s), Japão e África do Sul, mais fácil é apanhar algum e enfiá-lo na baixa de Nova Iorque, ou Washington ou Londres ou onde lhes apeteça.
Isto para não falar nas questões mais óbvias como as ambientais. Remember Chernobyl? As crianças com malformações e as famílias dos mortos de cancro e leucemia ou os doentes que ainda hoje padecem, lembram-se de certeza.
Um mundo ao contrário é também aquele em que as mães esuartejam crianças no Algarve, em que se morre ou é condenado a morrer no Sudão por não se pertencer à etnia "correcta", ou em que um primeiro-ministro não eleito governa um país que pretensamente integrou o clube das democracias há 30 anos.
Mas o mundo esteve sempre ao contrário. Só assim faz sentido que cá estejamos: para o endireitar, ou morrer tentando. Entretanto, ouvimos Xutos e concordamos.
Quer dizer, numa altura em que o petróleo atinge preços brutais e em que se deveria, finalmente, começar a reconverter a indústria e a produção de energia para as fontes ecológicas renováveis, eis que querem voltar ao urânio. Boa, boa, os terroristas agradecem, pois onde é que iam buscar material para bombas? Quanto mais urânio enriquecido houver à solta em países como a China, Coreia(s), Japão e África do Sul, mais fácil é apanhar algum e enfiá-lo na baixa de Nova Iorque, ou Washington ou Londres ou onde lhes apeteça.
Isto para não falar nas questões mais óbvias como as ambientais. Remember Chernobyl? As crianças com malformações e as famílias dos mortos de cancro e leucemia ou os doentes que ainda hoje padecem, lembram-se de certeza.
Um mundo ao contrário é também aquele em que as mães esuartejam crianças no Algarve, em que se morre ou é condenado a morrer no Sudão por não se pertencer à etnia "correcta", ou em que um primeiro-ministro não eleito governa um país que pretensamente integrou o clube das democracias há 30 anos.
Mas o mundo esteve sempre ao contrário. Só assim faz sentido que cá estejamos: para o endireitar, ou morrer tentando. Entretanto, ouvimos Xutos e concordamos.
sexta-feira, outubro 08, 2004
Desculpa Jorge
Quero pedir desculpa. Correndo o risco de emular o velhinho "Perdoa-me", venho aqui oferecer um ramo de flores ao nosso presidente da República, Jorge Sampaio. Sim, porque os homens podem receber flores.
Jorge, quando deixaste que Santana e Cia. ocupassem os assentos do poder, chamei-te nomes; disse que eras um traidor, um vendido, um cobarde. Subestimei-te. Pensei mal de ti e hoje penitencio-me.
Afinal tu, querido Jorge, sabias mais e viste mais longe que nós. Deste-lhes a corda e deixaste-os enforcarem-se. Temos este governo gerido na Kapital há menos de três meses e parecem três séculos. Este governo que consegue fazer de Cavaco Silva um democrata de Guterres um exemplo de competência. Este governo que cala um seu congénere partidário de forma tão suja e desastrada. Este governo que lida com a questão do aborto com luvas de boxe, este governo que faz a gestão de Manuela Ferreira Leite parecer socialmente empenhada.
Do ponto de vista humano e político já fizeram pior do que calar o professor, mas a nível de imagem e relações públicas, amigos...esqueçam
Enfim, mais uma vez, obrigado Jorge. És o maior!
Jorge, quando deixaste que Santana e Cia. ocupassem os assentos do poder, chamei-te nomes; disse que eras um traidor, um vendido, um cobarde. Subestimei-te. Pensei mal de ti e hoje penitencio-me.
Afinal tu, querido Jorge, sabias mais e viste mais longe que nós. Deste-lhes a corda e deixaste-os enforcarem-se. Temos este governo gerido na Kapital há menos de três meses e parecem três séculos. Este governo que consegue fazer de Cavaco Silva um democrata de Guterres um exemplo de competência. Este governo que cala um seu congénere partidário de forma tão suja e desastrada. Este governo que lida com a questão do aborto com luvas de boxe, este governo que faz a gestão de Manuela Ferreira Leite parecer socialmente empenhada.
Do ponto de vista humano e político já fizeram pior do que calar o professor, mas a nível de imagem e relações públicas, amigos...esqueçam
Enfim, mais uma vez, obrigado Jorge. És o maior!
sábado, outubro 02, 2004
O melhor e o pior
Cheguei há pouco tempo de Atenas, palco de sonho e pesadelo para aquele que foi, talvez, o pior e o melhor serviço da minha vida.
Para a história, este evento vai ficar como os XII Jogos Paralímpicos. Para mim, todavia, será bem mais que isso, foi um abrir de olhos.
Dificilmente esquecerei a incompetência dos voluntários que supostamente deveriam ajudar o público e os jornalistas. A sua obtusa teimosia em cumprir ordens até ao paroxismo insensato e ilógico serve como uma lição do que acontece a quem segue ordens e impõe regras sem a clarividência para as contornar que é como quem diz, afinal, sem capacidade para as fazer exercer de maneira inteligente.
Dificilmente esquecerei a colossal indigestão de 10 dias consecutivos a almoçar cachorros quentes e Coca-Cola.
Dificilmente esquecerei as caminhadas quilométricas entre piscina e estádio, agincanadas pelas muitas barreiras de metal que nunca nos deixavam esquecer que foram os gregos os inventores do labirinto.
Dificilmente esquecerei o cansaço pelo abuso de trabalho e as quatro ou cinco horas mal dormidas por noite.
Dificilmente esquecerei o choque inicial de ver pessoas sem braços, sem pernas, sem olhos, competirem e superarem. A si, aos outros, ao mundo, e à minha pena.
Dificilmente esquecerei o aperto na garganta ao ver João Martins debater-se nervosamente na sua pprimeira prova paralímpica, quase que afogando-se em nervos e água.
Dificilmente também esquecerei o outro aperto e a lágrima que não me dei ao trabalho de evitar quando ele ganhou a primeira medalha. Nem tão pouco esquecerei a leve calma que me invadiu quando desci à zona mista para o cumprimentar.
Dificilmente esquecerei os doces olhos de Susana Barroso e a revolta por ter aquele sorriso belo e triste cada vez mais ligado a uma cadeira de rodas.
Dificilmente esquecerei a força, a alegria e o respeito de Carlos Lopes, um atleta invisual primo do célebre maratonista mas muito mais campeão, pela vida, e pela personalidade e desportivismo.
Impossível será esquecer a paixão com que eu e os meus colegas da Comunicação Social nos entregámos a este evento e aos atletas, técnicos, dirigentes e outros protagonistas.
A todos eles levanto uma "Mythos" dourada, amarga e gelada. Um grande bem haja. Em Atenas fomos todos campeões.
Para a história, este evento vai ficar como os XII Jogos Paralímpicos. Para mim, todavia, será bem mais que isso, foi um abrir de olhos.
Dificilmente esquecerei a incompetência dos voluntários que supostamente deveriam ajudar o público e os jornalistas. A sua obtusa teimosia em cumprir ordens até ao paroxismo insensato e ilógico serve como uma lição do que acontece a quem segue ordens e impõe regras sem a clarividência para as contornar que é como quem diz, afinal, sem capacidade para as fazer exercer de maneira inteligente.
Dificilmente esquecerei a colossal indigestão de 10 dias consecutivos a almoçar cachorros quentes e Coca-Cola.
Dificilmente esquecerei as caminhadas quilométricas entre piscina e estádio, agincanadas pelas muitas barreiras de metal que nunca nos deixavam esquecer que foram os gregos os inventores do labirinto.
Dificilmente esquecerei o cansaço pelo abuso de trabalho e as quatro ou cinco horas mal dormidas por noite.
Dificilmente esquecerei o choque inicial de ver pessoas sem braços, sem pernas, sem olhos, competirem e superarem. A si, aos outros, ao mundo, e à minha pena.
Dificilmente esquecerei o aperto na garganta ao ver João Martins debater-se nervosamente na sua pprimeira prova paralímpica, quase que afogando-se em nervos e água.
Dificilmente também esquecerei o outro aperto e a lágrima que não me dei ao trabalho de evitar quando ele ganhou a primeira medalha. Nem tão pouco esquecerei a leve calma que me invadiu quando desci à zona mista para o cumprimentar.
Dificilmente esquecerei os doces olhos de Susana Barroso e a revolta por ter aquele sorriso belo e triste cada vez mais ligado a uma cadeira de rodas.
Dificilmente esquecerei a força, a alegria e o respeito de Carlos Lopes, um atleta invisual primo do célebre maratonista mas muito mais campeão, pela vida, e pela personalidade e desportivismo.
Impossível será esquecer a paixão com que eu e os meus colegas da Comunicação Social nos entregámos a este evento e aos atletas, técnicos, dirigentes e outros protagonistas.
A todos eles levanto uma "Mythos" dourada, amarga e gelada. Um grande bem haja. Em Atenas fomos todos campeões.
quarta-feira, setembro 15, 2004
Antecâmara
Amigos, não ando a escrever nada por duas singelas razões: falta de tempo e falta de clarividência. A bola de cristal pouco transparento que carrego em cima dos ombros anda um pouco confusa. Muita coisa ao mesmo tempo entope o disco rígido. É a antecâmara da confusão. Daqui a dois dias estou novemante de partida. São duas semanas para arejar o sotão.
Vou ter saudades.
Vou ter saudades.
quarta-feira, setembro 08, 2004
Mudanças
Finalmente, uma pausa. Não, não vou comer um daqueles chocolates, descansem.
Conforme se percebe pelas mal esgalhadas linhas que espreitam por baixo deste post, fiz trinta anos aqui há dias. Desde aí, as coisas têm mudado a um ritmo avassalador. Estou a braços com a missão portuguesa aos paralímpicos para o jornal e para a revista DEZ. Um "dois em um" que ao invés de me deixar o cabelo suave e brilhante tem-me dado cabo da vida. Trabalho, trabalho, trabalho.
Entretanto, e porque o sonho pula mesmo e avança, já me entregaram uma resma de chaves, sendo que uma delas abre as portas para a minha casa nova e as portas para uma vida nova também.
Uma certa amiga minha admitiu que tinha algum receio que depois de estar instalado iria abrir os olhos e "ainda sentir tristeza". Na verdade, ainda nem consigo definir seja o que for; as emoções são tantas que ainda nem as consegui digerir. Mas mesmo assim, de quando em quando, de entre a torrente um ou outro salmão salta por entre a água espumosa desta cascata de emoções. Quando virei a chave na porta pela primeira vez, quando entrei na minha cama, quando fechei os olhos no silêncio branco do meu sofá.
Tanta coisa está a mudar. Esperemos que eu também seja arrastado na corrente. É isso que espero há muito tempo.
Conforme se percebe pelas mal esgalhadas linhas que espreitam por baixo deste post, fiz trinta anos aqui há dias. Desde aí, as coisas têm mudado a um ritmo avassalador. Estou a braços com a missão portuguesa aos paralímpicos para o jornal e para a revista DEZ. Um "dois em um" que ao invés de me deixar o cabelo suave e brilhante tem-me dado cabo da vida. Trabalho, trabalho, trabalho.
Entretanto, e porque o sonho pula mesmo e avança, já me entregaram uma resma de chaves, sendo que uma delas abre as portas para a minha casa nova e as portas para uma vida nova também.
Uma certa amiga minha admitiu que tinha algum receio que depois de estar instalado iria abrir os olhos e "ainda sentir tristeza". Na verdade, ainda nem consigo definir seja o que for; as emoções são tantas que ainda nem as consegui digerir. Mas mesmo assim, de quando em quando, de entre a torrente um ou outro salmão salta por entre a água espumosa desta cascata de emoções. Quando virei a chave na porta pela primeira vez, quando entrei na minha cama, quando fechei os olhos no silêncio branco do meu sofá.
Tanta coisa está a mudar. Esperemos que eu também seja arrastado na corrente. É isso que espero há muito tempo.
domingo, agosto 29, 2004
Dobrar o cabo
Amanhã completo trinta translacções a bordo da nave Terra. O tempo tem variadíssimas dimensões, tantas quantas as percepções dos milhões de seres que dele têm alguma consciência.
Eu sou mais um. E para mim foi rápido.
Trinta anos. Bolas, é esmagador. Três décadas de amor, desgosto, algum ódio, alguma paixão, alguns medos, algumas alegrias, algumas amizades, algumas desilusões, alguma poesia, alguma aventura, muitas surpresas. Sempre.
Quando dobro este cabo, sinto que na outra costa, a que, quer queira quer não, deixo para trás, fica muita gente. Alguns queridos companheiros que ficaram na praia, uns que chegaram ao seu porto, outros que nem por isso. Um pouco de mim ficou com todos eles. Mas, mais importante, um pouco deles segue comigo nesta viagem. Para a outra costa, para o outro lado da lua, o lado iluminado.
Navego sem carta, confiando somente na orientação dos astros que são também os companheiros de viagem. Uns mais brilhantes que os outros, mas todos com o seu lugar no novo céu que agora despe a película nebulosa da madrugada.
Está uma manhã soalheira. Abro as portas e janelas do peito ao ar salgado. Já se vê a terra nova.
Eu sou mais um. E para mim foi rápido.
Trinta anos. Bolas, é esmagador. Três décadas de amor, desgosto, algum ódio, alguma paixão, alguns medos, algumas alegrias, algumas amizades, algumas desilusões, alguma poesia, alguma aventura, muitas surpresas. Sempre.
Quando dobro este cabo, sinto que na outra costa, a que, quer queira quer não, deixo para trás, fica muita gente. Alguns queridos companheiros que ficaram na praia, uns que chegaram ao seu porto, outros que nem por isso. Um pouco de mim ficou com todos eles. Mas, mais importante, um pouco deles segue comigo nesta viagem. Para a outra costa, para o outro lado da lua, o lado iluminado.
Navego sem carta, confiando somente na orientação dos astros que são também os companheiros de viagem. Uns mais brilhantes que os outros, mas todos com o seu lugar no novo céu que agora despe a película nebulosa da madrugada.
Está uma manhã soalheira. Abro as portas e janelas do peito ao ar salgado. Já se vê a terra nova.
sábado, agosto 28, 2004
Abortem este governo
Hoje é um dia especial para mim, um dia de luto e reflexão. Como tal, nem sequer vinha aqui escrever nada. Mas (e há sempre um "mas"), a indignação e o nojo obrigam-me a vir aqui vomitar um protesto contra a corja de nazis incompetentes que temos a governar-nos.
Estes senhores proibiram a entrada do "Borndeep", o barco da associação "Women on Waves", em Portugal.
Este navio, como sabem, é uma espécie de hospital ambulante que procede a abortos seguros e medicamente assistidos em águas internacionais, ajudando mulheres de países com legislações medievais como o nosso, que criminalizam o aborto.
Esclareço um ponto: Não sou a favor do aborto. Mas ninguém é a favor do aborto. Sou, isso sim, a favor da despenalização do aborto. E digo isto porque a franja da sociedade portuguesa que estigmatiza as mulheres que abortam gosta dessa confusão. "Somos a favor da vida e contra o aborto", dizem. Mas quem não é? E são a favor da vida das mulheres que todos os anos morrem em consequência de abortos clandestinos? E quantas das senhoras "de bem" que dizem isto não foram já a Londres ou Madrid "de férias"?
Enfim, à parte desta discussão que não é nova, está a proibição da entrada em Portugal de uma embarcação com pavilhão de um país da União Europeia. Os argumentos? Saúde pública (que a lei que criminaliza o aborto viola ao enviar muitas mulheres para apartamentos e caves sem condições para executar abortos clandestinos) e a ordem pública, pois temiam problemas e confrontos à chegada do barco a portos nacionais.
Essa lógica da ordem pública deve ser a mesma que durante quase meio-século proibiu manifestações em Portugal.
Ah, e infrigem directivas da União Europeia. Pelos vistos, os criminosos são os senhores Portas e Lopes.
Afinal menti. Sou a favor do aborto. Por favor, abortem este governo.
Estes senhores proibiram a entrada do "Borndeep", o barco da associação "Women on Waves", em Portugal.
Este navio, como sabem, é uma espécie de hospital ambulante que procede a abortos seguros e medicamente assistidos em águas internacionais, ajudando mulheres de países com legislações medievais como o nosso, que criminalizam o aborto.
Esclareço um ponto: Não sou a favor do aborto. Mas ninguém é a favor do aborto. Sou, isso sim, a favor da despenalização do aborto. E digo isto porque a franja da sociedade portuguesa que estigmatiza as mulheres que abortam gosta dessa confusão. "Somos a favor da vida e contra o aborto", dizem. Mas quem não é? E são a favor da vida das mulheres que todos os anos morrem em consequência de abortos clandestinos? E quantas das senhoras "de bem" que dizem isto não foram já a Londres ou Madrid "de férias"?
Enfim, à parte desta discussão que não é nova, está a proibição da entrada em Portugal de uma embarcação com pavilhão de um país da União Europeia. Os argumentos? Saúde pública (que a lei que criminaliza o aborto viola ao enviar muitas mulheres para apartamentos e caves sem condições para executar abortos clandestinos) e a ordem pública, pois temiam problemas e confrontos à chegada do barco a portos nacionais.
Essa lógica da ordem pública deve ser a mesma que durante quase meio-século proibiu manifestações em Portugal.
Ah, e infrigem directivas da União Europeia. Pelos vistos, os criminosos são os senhores Portas e Lopes.
Afinal menti. Sou a favor do aborto. Por favor, abortem este governo.
sexta-feira, agosto 27, 2004
Antigo, sim
Ia responder com mero um comentário, mas dada a veemência de algumas respostas "promovi" a coisa a um post.
Estou verdadeiramente desiludido. Se os meus amigos lerem novamente o post intitulado "o mais antigo desporto do mundo", vão perceber que está encharcado em I-R-O-N-I-A. Um conceito que me é quase tão grato como o S-A-R-C-A-S-M-O. E isto porque sou um cínico, talvez?
Mas, refira-se, acredito mesmo na quase inevitabilidade do tal "adultério" (palavra tão forte que chega a parecer uma obscenidade, nas talvez a intenção seja mesmo essa).
Em suma, se isto fosse um teste, bem...eis os resultados
Sydney, admiro o teu raciocínio e perdoo a precipitação do teu juízo já que não me conheces assim tão bem para perceber a tal ironia. Nota: 9 (com possibilidade de exame em Setembro)
Susana, vejo que não perdeste ainda todo o sentido crítico. Acertaste em todos os pontos que queria frisar e ainda tocaste num ditado muito apropriado que quero desenvolver a seguir. E tens razão, se há amor a sério... Nota 16
Hugo e Paula, caros amigos, muito lestos a atirar os pedregulhos, né? Se no caso da Sydney ela nem me conhece bem e por isso lhe perdoo o erro e o raiocínio dela é bem interessante, no vosso caso...bem, Nota 0,0 para os dois.
Sim, aquele post era também um teste. Vesti a pele de Maria Madalena. Pequena lição de catequese: Maria Madalena era uma senhora de "reputação duvidosa" que ia ser apedrejada quando J.C. (vulgo Messias) passou na sua aldeia. Confrontado com aquela situação, o senhor (em caixa alta se preferirem) disse apenas:
"QUEM NUNCA PECOU QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA"
E, como toda a gente sabe, e era um dos pontos que eu quis advogar, só não pecou quem não viveu.
Estou verdadeiramente desiludido. Se os meus amigos lerem novamente o post intitulado "o mais antigo desporto do mundo", vão perceber que está encharcado em I-R-O-N-I-A. Um conceito que me é quase tão grato como o S-A-R-C-A-S-M-O. E isto porque sou um cínico, talvez?
Mas, refira-se, acredito mesmo na quase inevitabilidade do tal "adultério" (palavra tão forte que chega a parecer uma obscenidade, nas talvez a intenção seja mesmo essa).
Em suma, se isto fosse um teste, bem...eis os resultados
Sydney, admiro o teu raciocínio e perdoo a precipitação do teu juízo já que não me conheces assim tão bem para perceber a tal ironia. Nota: 9 (com possibilidade de exame em Setembro)
Susana, vejo que não perdeste ainda todo o sentido crítico. Acertaste em todos os pontos que queria frisar e ainda tocaste num ditado muito apropriado que quero desenvolver a seguir. E tens razão, se há amor a sério... Nota 16
Hugo e Paula, caros amigos, muito lestos a atirar os pedregulhos, né? Se no caso da Sydney ela nem me conhece bem e por isso lhe perdoo o erro e o raiocínio dela é bem interessante, no vosso caso...bem, Nota 0,0 para os dois.
Sim, aquele post era também um teste. Vesti a pele de Maria Madalena. Pequena lição de catequese: Maria Madalena era uma senhora de "reputação duvidosa" que ia ser apedrejada quando J.C. (vulgo Messias) passou na sua aldeia. Confrontado com aquela situação, o senhor (em caixa alta se preferirem) disse apenas:
"QUEM NUNCA PECOU QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA"
E, como toda a gente sabe, e era um dos pontos que eu quis advogar, só não pecou quem não viveu.
quinta-feira, agosto 26, 2004
O mais antigo desporto do mundo
É o mais antigo desporto do mundo. Implica corrida de velocidade, de fundo e meio-fundo, salto em altura da janela dos fundos, pugilato, luta artística em lençóis, tiro (se a coisa correr mal), natação (depende do cenário), além de complexos exercícios de táctica, estratégia, disfarce e (des)ilusão.
Falo-vos do adultério. Quase toda a gente já praticou este antigo e popular desporto de massas. E quem não o praticou vai, quase de certeza, praticar ou conhece alguém que já o experimentou, corre o risco de experimentar ou até que é um profissional olímpico (a proposta para modalidade de apresentação em Pequim 2008 já está em estudo).
Pronto, aqui se levantam as vozes indignadas de todos os meus leitores e leitoras. Bem, de quase todos. Ok, existe o amor e a fidelidade e isso tudo mas, amigos, é só uma questão de tempo.
É certo que falo contra a minha experiência, já que nunca pratiquei tal actividade. Bem, mais ou menos...hmmm...ok, nunca enganei nenhuma namorada, vamos dizer assim. É certo que uma vez ou outra surgiu a oportunidade de me inscrever numa das provas de adultério olímpico, mas sempre optei pela saída mais fácil, ou seja, acabei com a namorada para não a enganar. Limpinho, né? Honesto, certo? Errado.
Porque é que temos de magoar desnecessariamente a pessoa com quem estamos por causa de algo que, na maior parte das vezes, não passa de "desporto"? Exactamente, salto em altura da janela das traseiras, luta artística nos lençóis, ah...malabarismo com o registo do cartão de crédito (apenas para amadores, pois na alta-competição usa-se dinheiro vivo, "cash", espécimen"...vocês sabem o que eu quero dizer).
A monogamia é uma bela realidade, ok, não estou a dizer o contrário, mas para manter a saúde de uma relação, temos de, de vez e quando, saltar a cerca, certo? Certo...bem, quase.
Como quase os desportos ou medicamentos (porque o adultério pode ser terapêutico), há contra-indicações:
a) Nunca brincar com isto num momento em que a relação está fragilizada
b) Nunca o fazer com amigos do casal
c) Nunca, mas nunca o fazer se ainda não se sabe distinguir sexo de amor
E FINALMENTE, A MAIS IMPORTANTE:
d) Nunca o fazer se se ama a pessoa com quem se está. Perceberam? Mas também, quem é que acredita nisso do amor, né?
Falo-vos do adultério. Quase toda a gente já praticou este antigo e popular desporto de massas. E quem não o praticou vai, quase de certeza, praticar ou conhece alguém que já o experimentou, corre o risco de experimentar ou até que é um profissional olímpico (a proposta para modalidade de apresentação em Pequim 2008 já está em estudo).
Pronto, aqui se levantam as vozes indignadas de todos os meus leitores e leitoras. Bem, de quase todos. Ok, existe o amor e a fidelidade e isso tudo mas, amigos, é só uma questão de tempo.
É certo que falo contra a minha experiência, já que nunca pratiquei tal actividade. Bem, mais ou menos...hmmm...ok, nunca enganei nenhuma namorada, vamos dizer assim. É certo que uma vez ou outra surgiu a oportunidade de me inscrever numa das provas de adultério olímpico, mas sempre optei pela saída mais fácil, ou seja, acabei com a namorada para não a enganar. Limpinho, né? Honesto, certo? Errado.
Porque é que temos de magoar desnecessariamente a pessoa com quem estamos por causa de algo que, na maior parte das vezes, não passa de "desporto"? Exactamente, salto em altura da janela das traseiras, luta artística nos lençóis, ah...malabarismo com o registo do cartão de crédito (apenas para amadores, pois na alta-competição usa-se dinheiro vivo, "cash", espécimen"...vocês sabem o que eu quero dizer).
A monogamia é uma bela realidade, ok, não estou a dizer o contrário, mas para manter a saúde de uma relação, temos de, de vez e quando, saltar a cerca, certo? Certo...bem, quase.
Como quase os desportos ou medicamentos (porque o adultério pode ser terapêutico), há contra-indicações:
a) Nunca brincar com isto num momento em que a relação está fragilizada
b) Nunca o fazer com amigos do casal
c) Nunca, mas nunca o fazer se ainda não se sabe distinguir sexo de amor
E FINALMENTE, A MAIS IMPORTANTE:
d) Nunca o fazer se se ama a pessoa com quem se está. Perceberam? Mas também, quem é que acredita nisso do amor, né?
Férias
Férias. Uma palavra que normalmente se traduz em destinos mais ou menos exóticos, quartos de hotel, monumentos, viagens, aviões, comboios, carros e afins. Em suma, movimento.
Pois, mas não desta vez. Estas férias, para este gajo, significam estar perto de casa, acordar cedo, ir ao café da esquina, fazer compras no supermercado da vizinhança, estar com os amigos ou simplesmente estar, ou seja, o contrário de ir.
É que de há alguns anos para cá, o meu trabalho obriga-me a fazer tudo aquilo descrito no primeiro parágrafo. E férias deveria significar o contrário da rotina de trabalho, porque mesmo quando essa rotina parece excitante para o comum dos mortais , acreditem, pode ser rotina.
Ou seja, estou por cá. E sem dor de dentes :)))
Pois, mas não desta vez. Estas férias, para este gajo, significam estar perto de casa, acordar cedo, ir ao café da esquina, fazer compras no supermercado da vizinhança, estar com os amigos ou simplesmente estar, ou seja, o contrário de ir.
É que de há alguns anos para cá, o meu trabalho obriga-me a fazer tudo aquilo descrito no primeiro parágrafo. E férias deveria significar o contrário da rotina de trabalho, porque mesmo quando essa rotina parece excitante para o comum dos mortais , acreditem, pode ser rotina.
Ou seja, estou por cá. E sem dor de dentes :)))
sábado, agosto 21, 2004
Home sweet home
"I'm baaack!" Uff! Depois de uma semana a aturar a birra do Del Neri e a escavar no passado de Trapattoni, eis-me de volta a casa. Digo-vos, há sensações muito boas nesta vida, mas aquele momento qem que o avião toca com todas as rodas no asfalto da pista da Portela...inigualável.
Ok, viajar é bom e tal, e desde que comecei a trabalhar para a revista (DEZ aos sábados com o Record, comprem!) posso gerir melhor o tempo e até, imagine-se, fazer algum turismo. Mas amigos, é trabalho, nunca é a mesma coisa.
E depois, vamos confessar, adoro o meu país, as minhas coisas, este ar atlântico, esta atmosfera meio celto-romano-árabe que nos faz únicos.
E é por isso que me irrito tanto com ele e com o que poderia ser de bom se não tivesse tanto de tão mau. Mas enfim, depois acusam-me de querer mudar o Mundo. Sim, mas um bocadinho de cada vez. E este bocadinho de Europa era um bom princípio.
Enfim, estou de volta. Por pouco tempo, já ouvi dizer. Mas ainda tenho uma semanita de férias para estar aqui. E começo a gostar muito de aqui estar. Só isso.
Ok, viajar é bom e tal, e desde que comecei a trabalhar para a revista (DEZ aos sábados com o Record, comprem!) posso gerir melhor o tempo e até, imagine-se, fazer algum turismo. Mas amigos, é trabalho, nunca é a mesma coisa.
E depois, vamos confessar, adoro o meu país, as minhas coisas, este ar atlântico, esta atmosfera meio celto-romano-árabe que nos faz únicos.
E é por isso que me irrito tanto com ele e com o que poderia ser de bom se não tivesse tanto de tão mau. Mas enfim, depois acusam-me de querer mudar o Mundo. Sim, mas um bocadinho de cada vez. E este bocadinho de Europa era um bom princípio.
Enfim, estou de volta. Por pouco tempo, já ouvi dizer. Mas ainda tenho uma semanita de férias para estar aqui. E começo a gostar muito de aqui estar. Só isso.
quinta-feira, agosto 19, 2004
Sexo e ovos mexidos
Quando me falam de hotéis, há duas coisas que me ocorrem imediatamente num exercício de livre associação que gostaria que comentassem: sexo e ovos mexidos.
Uma associação que não é assim tão disparatada, já que ambos são húmidos e saborosos. Ok, mas só os ovos mexidos são amarelos, eu sei. Se acham que não, então vão ao médico...rapidamente.
Não, a verdadeira razão para esta associação é que sexo e ovos mexidos são duas coisas que habitualmente só consumo em hotéis. Ok, nos bancos de trás de carros também (e nos da frente, já agora). O sexo, os ovos não que me deixam nódoas nos estofos. Pois, o sexo também, mas são mais fáceis de limpar. Acho.
Estão a ver? já estou baralhado. Tanta coisa em comum como é que não
hei-de os associar?
A verdade é que este post está viciado à partida. É que estou num hotel há três dias e enquanto bato nestas teclas, dois moços, um moço e uma moça, já agora, estão a fazê-lo no quarto ao lado. Sexo, não ovos mexidos.
Como é que sei isto? É difícil não o saber. Mais, pagava para não o saber, mas pagava muito mais para não os ouvir.
Como qualquer homem que se preze, sou burro. Asinino e inseguro. E gosto de saber que a miúda que está comigo não preferia estar a fazer qualquer coisa de mais interessante como ver a programação da manhã da RTP ou verniz das unhas a secar. Sim, gosto que suspirem, que gemam, que gritem até um pouco,admito. A subtileza não é o nosso forte.
Agora, coisa bem diferente é estar perto de um matadouro em actividade. E a senhora urra que nem uma desalmada, Ok?! É uma coisa impressionante. Vim para o quarto depois de um dia de trabalho, esperando relaxar um bocadinho e ler enquanto espero pelo jantar e sou assaltado por uma sinfonia de urros.
Sexo e ovos mexidos. Ambos são húmidos, saborosos e pouco elegantes. É um facto: dois seres humanos no auge da paixão não são nunca uma coisa elegante. Há suor, esforço, respiração ofegante e desordenada, fluidos corporais em abundância e em trajectórias imprevistas e imprevisíveis. O sexo é caótico. Tal como os ovos mexidos.
Estão a ver? Uma associação simples. Bem, enquanto estava concentrado a fazer esta bela análise, os senhores acabaram.
Mas ainda falta uma hora e tal para o jantar e estou com apetite. Será que o serviço de quartos me arranja uns ovos mexidos?
Uma associação que não é assim tão disparatada, já que ambos são húmidos e saborosos. Ok, mas só os ovos mexidos são amarelos, eu sei. Se acham que não, então vão ao médico...rapidamente.
Não, a verdadeira razão para esta associação é que sexo e ovos mexidos são duas coisas que habitualmente só consumo em hotéis. Ok, nos bancos de trás de carros também (e nos da frente, já agora). O sexo, os ovos não que me deixam nódoas nos estofos. Pois, o sexo também, mas são mais fáceis de limpar. Acho.
Estão a ver? já estou baralhado. Tanta coisa em comum como é que não
hei-de os associar?
A verdade é que este post está viciado à partida. É que estou num hotel há três dias e enquanto bato nestas teclas, dois moços, um moço e uma moça, já agora, estão a fazê-lo no quarto ao lado. Sexo, não ovos mexidos.
Como é que sei isto? É difícil não o saber. Mais, pagava para não o saber, mas pagava muito mais para não os ouvir.
Como qualquer homem que se preze, sou burro. Asinino e inseguro. E gosto de saber que a miúda que está comigo não preferia estar a fazer qualquer coisa de mais interessante como ver a programação da manhã da RTP ou verniz das unhas a secar. Sim, gosto que suspirem, que gemam, que gritem até um pouco,admito. A subtileza não é o nosso forte.
Agora, coisa bem diferente é estar perto de um matadouro em actividade. E a senhora urra que nem uma desalmada, Ok?! É uma coisa impressionante. Vim para o quarto depois de um dia de trabalho, esperando relaxar um bocadinho e ler enquanto espero pelo jantar e sou assaltado por uma sinfonia de urros.
Sexo e ovos mexidos. Ambos são húmidos, saborosos e pouco elegantes. É um facto: dois seres humanos no auge da paixão não são nunca uma coisa elegante. Há suor, esforço, respiração ofegante e desordenada, fluidos corporais em abundância e em trajectórias imprevistas e imprevisíveis. O sexo é caótico. Tal como os ovos mexidos.
Estão a ver? Uma associação simples. Bem, enquanto estava concentrado a fazer esta bela análise, os senhores acabaram.
Mas ainda falta uma hora e tal para o jantar e estou com apetite. Será que o serviço de quartos me arranja uns ovos mexidos?
terça-feira, agosto 17, 2004
Cine Citá
Bene, esta é uma estreia, o meu primeiro post "estrangeiro". Escrevo-vos de Itália, de Milão mais precisamente, para onde me desloquei em trabalho durante uma semanita. Sim, anocas, o tal café terá que esperar mais um pouco.
Mas tirando a conversa fiada, que hoje já estou farto de escrever, queria apenas deixar um curtíssimo pensamento, melhor, uma descoberta:
Amigos, os itallianos são apenas portugueses com "soldi", qiue é como quem diz na língua de Petrarca, dinheiro, massa, tostanito.
Ok, as italianas (ou italianos, conforme os gostos) são muito atraentes e tal. Mas apenas alguns exemplares que foram bafejados com genes do Norte e Leste da Europa e que são altos e de olhos verdes e tal. Mas, vendo bem, também temos exemplares desses portanto, insisto: o povo italiano é apenas uma versão novo-rica dos portugueses.
É claro que são pobres quando comparados aos alemães e aos suecos, mas têm uma coisa: um talento latino para gastar o dinheiro. Tratam-se bem, vestem bem, comem bem, vivem bem.
Bolas, quanto mais venho a este país mais me convenço: para o bem e para o mal, é o que temos de mais parecido com o velho "Portogallo" e o único país da Europa que conheço (e já são uns poucos) onde era capaz de viver. Viva a Itália.
PS: Desculpem a superficialidade do texto, mas é um desabafo mal parido num dia em que já não consigo arrancar melhor da carola. Beijinhos e até ao meu regresso.
Mas tirando a conversa fiada, que hoje já estou farto de escrever, queria apenas deixar um curtíssimo pensamento, melhor, uma descoberta:
Amigos, os itallianos são apenas portugueses com "soldi", qiue é como quem diz na língua de Petrarca, dinheiro, massa, tostanito.
Ok, as italianas (ou italianos, conforme os gostos) são muito atraentes e tal. Mas apenas alguns exemplares que foram bafejados com genes do Norte e Leste da Europa e que são altos e de olhos verdes e tal. Mas, vendo bem, também temos exemplares desses portanto, insisto: o povo italiano é apenas uma versão novo-rica dos portugueses.
É claro que são pobres quando comparados aos alemães e aos suecos, mas têm uma coisa: um talento latino para gastar o dinheiro. Tratam-se bem, vestem bem, comem bem, vivem bem.
Bolas, quanto mais venho a este país mais me convenço: para o bem e para o mal, é o que temos de mais parecido com o velho "Portogallo" e o único país da Europa que conheço (e já são uns poucos) onde era capaz de viver. Viva a Itália.
PS: Desculpem a superficialidade do texto, mas é um desabafo mal parido num dia em que já não consigo arrancar melhor da carola. Beijinhos e até ao meu regresso.
quinta-feira, agosto 12, 2004
Bem-vinda
Apesar de nunca termos sido formalmente apresentados, gostaria de anotar a presença da elefanta mais leve do mundo virtual.
Bem-vinda ao meu mundo, Sidney
Bem-vinda ao meu mundo, Sidney
Só para ti
Quero aproveitar este espaço para dar uma resposta personalizada. Cá vai, só para ti:
Cara amiga, apesar das sempre citadas confusões que abalaram a nossa existência comum, gostaria de te lembrar que, apesar de tudo, e das mudanças próprias da vida, uma coisa se mantém inalterada: a minha propensão para o oito ou oitenta, o rosa e o negro. Nunca fui homem de meios-termos nem de neutros. Compreendo a tua intenção e sei que foi boa. Mas apesar de tudo aquilo que nos une (ainda?), convém lembrar que é essa minha incapacidade de ser "neutro" que nos separa. Mas, minha querida, não te preocupes, pois eu já aprendi a respeitar isso em ti. Agora tens tu de "perdoar" o contrário em mim.
E eu sei que já te disse, mas não mudava uma palavra. Hoje.
Cara amiga, apesar das sempre citadas confusões que abalaram a nossa existência comum, gostaria de te lembrar que, apesar de tudo, e das mudanças próprias da vida, uma coisa se mantém inalterada: a minha propensão para o oito ou oitenta, o rosa e o negro. Nunca fui homem de meios-termos nem de neutros. Compreendo a tua intenção e sei que foi boa. Mas apesar de tudo aquilo que nos une (ainda?), convém lembrar que é essa minha incapacidade de ser "neutro" que nos separa. Mas, minha querida, não te preocupes, pois eu já aprendi a respeitar isso em ti. Agora tens tu de "perdoar" o contrário em mim.
E eu sei que já te disse, mas não mudava uma palavra. Hoje.
quarta-feira, agosto 11, 2004
O sorriso sem memória
Eu tento esquecer. A dor, não o sorriso, a ternura, a alegria contagiante maior que a própria vida, tão curta.
Eu tento esquecer. A dor. Mas como esquecer quando acordo ao som do choro da mãe? A tua, a nossa. Quando o choro se propaga, qual manada ferida pelas paredes da casa? A casa de onde quero fugir, pois já não é casa mas túmulo?
Eu tento esquecer. A dor. Mas hoje é o dia em que nasceste, o dia em que os gritos de dor de tua mãe, que é a minha, anunciavam a tua chegada e não a dor da tua partida.
Eu tento esquecer. A dor. Mas as tuas fotos cercam-me, esmagadoras. O teu sorriso assombra-me. E eu gosto dele. Adoro a memória do teu riso malandro de criança que nunca envelhecerá. . Adoro a tua voz que quase fugiu da minha memória, como uma pegada que a maré está prestes a roubar, uma onda de cada vez.
Eu tento esquecer. Hoje fui comer com os meus amigos, com os amigos que são os teus. Não importa onde estejas, serão sempre os teus amigos. Levantámos os copos em tua memória. Muitas vezes. Tantas que agora sou obrigado a corrigir cada palavra que escrevo. Mas não importa. É que de outra maneira não conseguia. Custa muito. Custa nunca mais ver o teu sorriso malandro nem ouvir a tua voz dizer "mano". Nunca mais ninguém me chamará "mano".
A nossa mãe grita. E eu também, cá dentro. Silencioso. Mal afogado numa garrafa de tinto caro. Tenho saudades, mano. Nunca mais vejo o teu sorriso.
Eu tento esquecer. A dor. Mas como esquecer quando acordo ao som do choro da mãe? A tua, a nossa. Quando o choro se propaga, qual manada ferida pelas paredes da casa? A casa de onde quero fugir, pois já não é casa mas túmulo?
Eu tento esquecer. A dor. Mas hoje é o dia em que nasceste, o dia em que os gritos de dor de tua mãe, que é a minha, anunciavam a tua chegada e não a dor da tua partida.
Eu tento esquecer. A dor. Mas as tuas fotos cercam-me, esmagadoras. O teu sorriso assombra-me. E eu gosto dele. Adoro a memória do teu riso malandro de criança que nunca envelhecerá. . Adoro a tua voz que quase fugiu da minha memória, como uma pegada que a maré está prestes a roubar, uma onda de cada vez.
Eu tento esquecer. Hoje fui comer com os meus amigos, com os amigos que são os teus. Não importa onde estejas, serão sempre os teus amigos. Levantámos os copos em tua memória. Muitas vezes. Tantas que agora sou obrigado a corrigir cada palavra que escrevo. Mas não importa. É que de outra maneira não conseguia. Custa muito. Custa nunca mais ver o teu sorriso malandro nem ouvir a tua voz dizer "mano". Nunca mais ninguém me chamará "mano".
A nossa mãe grita. E eu também, cá dentro. Silencioso. Mal afogado numa garrafa de tinto caro. Tenho saudades, mano. Nunca mais vejo o teu sorriso.
terça-feira, agosto 10, 2004
Feriado encarnado
Hoje tenho de vos privar de uma das habituais pérolas de sabedoria com que encho estas páginas. É que joga o Benfica e tenho de vestir a camisola e saltar para cima da mesa aos gritos: GOLLLLLO!!!
segunda-feira, agosto 09, 2004
Ponto cruz
Ela estendeu-lhe o quadro. "Leva isto. Assim como assim é para deitar fora". A moldura não era grande mas ele já tinha um caixote nos braços e não podia aceitar, por isso eu agarrei o pequeno quadrado. Acho que antes de o fazer já sabia o que era, mas, mesmo assim, fi-lo, e quando olhei para o que estava emoldurado arrependi-me de imediato. "Amo-te Rui", eram as palavras desenhadas a azul bebé em ponto cruz.
Era uma recordação de tempos idos. A data, qualquer coisa de 1995, não deixava margem para dúvidas e ali estava, como uma recordação de um amor e certidão de óbito do mesmo. Um documento redigido a ponto cruz, para a posteridade.
Continuei a ajudar a levar as coisas da casa que em tempos ambos habitaram, mas com um luto estranho que era por eles e por mim. Não foi a primeira vez que ajudei o meu amigo a levar a cabo esta triste tarefa, mas entristece-me sempre; é como levar os objectos de um morto, escolher e separar a triste herança de uma relação que faleceu.
É trágico, sobretudo porque acredito que ainda gostam um do outro. É duplamente trágico porque sinto que ainda gosto dela. Mas lá estou outra vez a falar de mim. Mas é que quando os vejo, novamente juntos e, no entanto, tão separados, não consigo deixar de pensar no que me... não, no que nos sucedeu.
Não levei o meu amor tão longe como o Rui o fez, não tive a sua coragem. Não, não estou a ser justo. Nunca tive os meios e quando estava perto de os ter, aí sim, não tive coragem. Fugi. Tive medo de viver um momento como aquele que o meu amigo estava a viver, sem me aperceber que, no fim de contas, era tarde de mais. Fugi do amor e matei-o, ou pelo menos gostaria que assim tivesse sido, mas não sei. No fundo, acho que ainda tenho de viver com o fantasma dessa criança mal-nascida, de uma vida que podia ter sido e não o foi porque tive medo.
Agora vivo com esse fantasma que todos os dias é cada vez mais isso, um fantasma, ténue e vaporoso, cada vez mais sem substância, sem cor, sem cheiro, porque as memórias vão perdendo o seu perfume. Mas como as flores secas, ainda tropeçamos nelas quando folheamos as páginas de um livro antigo. De memórias.
Sim, ainda a encontro por aí, num carro que passa, num amigo comum, numa qualquer alusão ao que faz, a quem é, ao que podia ter sido. Vejo-a nos caminhos que trilhámos juntos, nos locais que conhecemos, em tudo o que fizemos, e, muito mais, no que não.
Não, não tenho um quadro de ponto cruz. Só mesmo a cruz.
Era uma recordação de tempos idos. A data, qualquer coisa de 1995, não deixava margem para dúvidas e ali estava, como uma recordação de um amor e certidão de óbito do mesmo. Um documento redigido a ponto cruz, para a posteridade.
Continuei a ajudar a levar as coisas da casa que em tempos ambos habitaram, mas com um luto estranho que era por eles e por mim. Não foi a primeira vez que ajudei o meu amigo a levar a cabo esta triste tarefa, mas entristece-me sempre; é como levar os objectos de um morto, escolher e separar a triste herança de uma relação que faleceu.
É trágico, sobretudo porque acredito que ainda gostam um do outro. É duplamente trágico porque sinto que ainda gosto dela. Mas lá estou outra vez a falar de mim. Mas é que quando os vejo, novamente juntos e, no entanto, tão separados, não consigo deixar de pensar no que me... não, no que nos sucedeu.
Não levei o meu amor tão longe como o Rui o fez, não tive a sua coragem. Não, não estou a ser justo. Nunca tive os meios e quando estava perto de os ter, aí sim, não tive coragem. Fugi. Tive medo de viver um momento como aquele que o meu amigo estava a viver, sem me aperceber que, no fim de contas, era tarde de mais. Fugi do amor e matei-o, ou pelo menos gostaria que assim tivesse sido, mas não sei. No fundo, acho que ainda tenho de viver com o fantasma dessa criança mal-nascida, de uma vida que podia ter sido e não o foi porque tive medo.
Agora vivo com esse fantasma que todos os dias é cada vez mais isso, um fantasma, ténue e vaporoso, cada vez mais sem substância, sem cor, sem cheiro, porque as memórias vão perdendo o seu perfume. Mas como as flores secas, ainda tropeçamos nelas quando folheamos as páginas de um livro antigo. De memórias.
Sim, ainda a encontro por aí, num carro que passa, num amigo comum, numa qualquer alusão ao que faz, a quem é, ao que podia ter sido. Vejo-a nos caminhos que trilhámos juntos, nos locais que conhecemos, em tudo o que fizemos, e, muito mais, no que não.
Não, não tenho um quadro de ponto cruz. Só mesmo a cruz.
sexta-feira, agosto 06, 2004
Tigres e Leões
A Natureza é a melhor cartilha que o divino professor nos deixou. Está repleta de exemplos e sábias alegorias sobre a melhor maneira de nós, macacos pelados, conduzirmos as nossas vidas.
Hoje gostaria de vos falar sobre tigres e leões. Os primeiros levam vidas solitárias, camuflados entre a densa folhagem do jangal, usando as riscas que lhes decoram o dorso como sombras ou sulcos de escuridão.
Os outros, os "reis" da selva, vivem rodeados de um harém de fêmeas que caçam para eles, os alimentam e lhes parem a descendência. Indolentes, só têm duas funções: defender o território e espalhar a semente.
Solitários e gregários, tigres e leões.
Hoje gostaria de vos falar sobre tigres e leões. Os primeiros levam vidas solitárias, camuflados entre a densa folhagem do jangal, usando as riscas que lhes decoram o dorso como sombras ou sulcos de escuridão.
Os outros, os "reis" da selva, vivem rodeados de um harém de fêmeas que caçam para eles, os alimentam e lhes parem a descendência. Indolentes, só têm duas funções: defender o território e espalhar a semente.
Solitários e gregários, tigres e leões.
Crises
Uma cara amiga "acusou-me" de estar a atravessar a "crise dos 30". Esclareço: não sou um homem de modas; não de moda, que até aprecio enquanto arte, mas de modas. E a tal crise dos 30 cai no patamar das questões mais prementes que afligem a geração dos filhos de Abril, e como tal...é moda.
Outro esclarecimento: não é a crise dos 30, mas o fim das crises. Passei pela crise dos 6, a crise dos 10, 11, 12, e 13, prossegui com crises até aos 18, depois tive a crise dos 21 e, provavelmente a mais grave, a dos 25. Depois, foi o arrastar de uma pequena crise cozida em lume brando, com pequenos picos de forma, até aos 29. Agora estamos a falar, finalmente, do fim da crise.
Ou seja, último esclarecimento: Minha cara, não é a crise dos 30, é o fim do túnel, o fim da crise em letra grande. Existe apenas o tal inconveniente: sem passado para me desculpar tenho que começar a assumir os meus erros pelo que são.
Chama-se crescer.
Outro esclarecimento: não é a crise dos 30, mas o fim das crises. Passei pela crise dos 6, a crise dos 10, 11, 12, e 13, prossegui com crises até aos 18, depois tive a crise dos 21 e, provavelmente a mais grave, a dos 25. Depois, foi o arrastar de uma pequena crise cozida em lume brando, com pequenos picos de forma, até aos 29. Agora estamos a falar, finalmente, do fim da crise.
Ou seja, último esclarecimento: Minha cara, não é a crise dos 30, é o fim do túnel, o fim da crise em letra grande. Existe apenas o tal inconveniente: sem passado para me desculpar tenho que começar a assumir os meus erros pelo que são.
Chama-se crescer.
quinta-feira, agosto 05, 2004
Calor
Odeio o calor pegajoso-tropical que me cerca como um muco asfixiante. O mundo parece estar em modo "slow motion"; a água que de cinco em cinco minutos pulverizo na cara evapora quase imediatamente como se tivesse sido vertida em cima de uma chapa quente. Não consigo respirar, a garganta envolvida pelas garras de um urso.
Não fui feito para isto. A cegonha que me trouxe via Paris enganou-se rotundamente ou então foi abatida por um qualquer caçador "tuga" e largou a preciosa carga (leia-se eu mesmo) nos braços de minha mãe. Devia ter nascido na Suécia, cidadão de primeiro mundo e, mais importante, no fresco e retemperador clima nórdico, com verões curtos a vinte e tal graus.
Não fui feito para isto. A cegonha que me trouxe via Paris enganou-se rotundamente ou então foi abatida por um qualquer caçador "tuga" e largou a preciosa carga (leia-se eu mesmo) nos braços de minha mãe. Devia ter nascido na Suécia, cidadão de primeiro mundo e, mais importante, no fresco e retemperador clima nórdico, com verões curtos a vinte e tal graus.
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