sexta-feira, dezembro 29, 2006

Virar a página DEZ

Lembro-me quando António Tadeia veio falar comigo para integrar a equipa de um projecto ainda sem nome. Falou-me de uma revista de grande reportagem, análise e opinião, uma publicação que ele desejava de referência. Eu ainda estava abalado pela maneira esquisita como tinha saído da secção de Sporting do jornal, uma das secções "fillet mignon" (como ficaram celebrizadas pela sempre expressiva verve do nosso director as secções de Benfica e Sporting do jornal), e não sabia o que esperar.

A responsabilidade parecia-me esmagadora mas a motivação também era grande. Eu adoro uma situação em que as probabilidades estão contra. E aquele parecia o caso: uma equipa de excelentes repórteres em que eu era, até ver, o menos experiente. Depois de mim apenas um estagiário que viria complementar o ramalhete. Tinha acabado de sair do "fillet mignon", é certo, mas estava ali para aprender. Regressar à escola. Havia, no entanto, um anzol: todos ou quase todos estavam ali em situação ingrata; por desavenças com a chefia, por alegada dificuldade "em jogar em equipa", por acidente.

Mas esse foi o factor que nos uniu. Um sentimento de luta contra a adversidade e a competência de todos catalizada e desmultiplicada pela liderança brilhante de António Tadeia.

Até que a fórmula cresceu, amadureceu, ganhou prestígio. Foi premiada, elogiada, reconhecida. O projecto ganhou pernas, resistiu a mudanças de elenco e até à saída do pai do projecto.

Por aqui passou a truculência irónica pontuada de humor e "fair play" de Paulo Renato Soares; a competência sóbria e o riso britânico de Miguel Costa Nunes; a irreverência promissora de Bruno Roseiro; o talento entretanto desperdiçado de Pedro Ferraz (esperemos que volte ao jornalismo), a liderança e assombrosa inteligência de António Tadeia...e o génio de César Oliveira. Um jovem jornalista e um ser humano tão brilhante que Deus o quis guardar consigo mais cedo.

Até agora, da equipa original dos "desterrados", apenas restavam o excelente jornalista e homem Paulo Jorge Pereira e eu. Agora eu parto. Novamente de regresso ao "Fillet Mignon", desta vez, de Benfica vestido.

O Paulo fica, para já. A DEZ também. Mas todos os que cá estão e todos os que por cá passaram fazem parte da alma de uma revista que durante 139 números fez parte de mim.

A vida continua e eu...aprendi. E viver é isso mesmo.

Até já.