domingo, agosto 29, 2004

Dobrar o cabo

Amanhã completo trinta translacções a bordo da nave Terra. O tempo tem variadíssimas dimensões, tantas quantas as percepções dos milhões de seres que dele têm alguma consciência.
Eu sou mais um. E para mim foi rápido.

Trinta anos. Bolas, é esmagador. Três décadas de amor, desgosto, algum ódio, alguma paixão, alguns medos, algumas alegrias, algumas amizades, algumas desilusões, alguma poesia, alguma aventura, muitas surpresas. Sempre.

Quando dobro este cabo, sinto que na outra costa, a que, quer queira quer não, deixo para trás, fica muita gente. Alguns queridos companheiros que ficaram na praia, uns que chegaram ao seu porto, outros que nem por isso. Um pouco de mim ficou com todos eles. Mas, mais importante, um pouco deles segue comigo nesta viagem. Para a outra costa, para o outro lado da lua, o lado iluminado.

Navego sem carta, confiando somente na orientação dos astros que são também os companheiros de viagem. Uns mais brilhantes que os outros, mas todos com o seu lugar no novo céu que agora despe a película nebulosa da madrugada.

Está uma manhã soalheira. Abro as portas e janelas do peito ao ar salgado. Já se vê a terra nova.