quinta-feira, abril 07, 2005

De carroça

Há um problema grave neste país: a mania de resolver as questões na flor em vez de na raíz.

Um dos exemplos mais óbvios tem a ver com os automóveis. Os automobilistas deste país são a grande vaca leiteira do Estado.

Na aquisição de automóvel, entre IVA e IA, os portugueses são dos que mais se esforçam. Basta dizer que, na Europa, apenas os Dinamarqueses pagam mais para ter carro. Em Portugal o salário mínimo é de 374,70 euros. Na Dinamarca, não há salário mínimo mas recordo-me de ter lido uma reportagem acerca de um emigrante cubano na Dinamarca que ganhava cerca de dois mil euros a servir às mesas. Enfim...

A título de exemplo, um VW Golf 2.0 TDI custa cerca de 10 mil euros mais em Portugal do que em Espanha. 10 mil euros em impostos. Ah, e os espanhóis têm salário mínimo. 526 euros segundo os meus números mais recentes.

Mas há mais. Temos o imposto de circulação (selo), as portagens, a gasolina...

Mas e depois o dinheiro dos impostos é bem aplicado. Em medidas ambientais, em estradas melhores e mais seguras, na melhoria do ensino da condução...pois. Talvez na Dinamarca.

Portagens: Há quarenta anos que os portugueses pagam uma ponte ultrapassada. Fez-se outra, que até desviava o trânsito de uma zona importante da cidade de Lisboa e tal...e é exorbitante.
Para não falar nas auto-estradas. E há alternativas? Pois há. Em alguns casos, as SCUT. Que os senhores do governo cessante queriam cobrar. Que os senhores do actual governo ainda equacionam cobrar.

Gasolina: Os mesmos senhores que queriam cobrar portagens nas SCUT fizeram o favor de liberalizar o preço da gasolina. Como os senhores das gasolineiras até já fazem pouco dinheiro, como até não combinam entre si os preços (cartéis não são só os colombianos), está provado que foi uma excelente medida. A somar a mais impostos, mais que em Espanha, por exemplo, o resultado é o do costume.

Parquímetros: Cobrados por empresas ilegais. Como as pessoas perceberam que a EMEL, por exemplo, não tinha legitimidade legal para passar multas, deixaram de as pagar. Como tal, esses senhores passaram a bloquear e a rebocar carros. Extorsão pura. Mas o que esperar de uma cidade que permite os "arrumadores", senhores que ganham a vida retendo os carros como reféns? Bem, mas a própria EMEL não é mais que uma firma de arrumadores organizados.

Ambiente: E os impostos são usados em medidas ambientais? Pois, tanto que somos o único país da UE que taxa mais a gasolina que o gasóleo (mais poluente).

Estradas: E os impostos são usados na construção de melhores estradas? Para quem já passou no IP4 e IP5 a pergunta é uma anedota trágica.

Mas com tudo isto, chegamos à conclusão. Tive uma discussão com uma amiga que me dizia que o carro é um luxo. É o que pensam os nossos governantes. Eu também pensaria assim se tivesse alternativas. Mas não tenho. Não tenho transportes públicos bons e baratos. Quanto à qualidade, recomendo a leitura do blog "Alcateia de Loucos" onde o meu amigo Hugo Alves faz uma interpretação bem engraçada, mas real, de uma viagem num autocarro da Carris. E para quem vive fora de Lisboa, então...sem palavras.

Mas vamos taxar os automobilistas. Porque o carro é um luxo. Ao preço por que pagamos os carros em Portugal, é mesmo. E, já agora, a relação entre tudo isto e as mortes na estrada? Há a educação e a falta dela. Pois é. Mas isso reflecte-se no número de acidentes. Agora se há muitos acidentes que resultam em morte, se calhar é porque os portugueses quando batem, batem de Renault Clio e não de Mercedes.

Mas de carroça, como o país, a coisa corria muito melhor.