quarta-feira, julho 20, 2005

Nú com a mão no bolso

A liberdade é um reino vasto, com muitas quintas. A minha é recém-adquirida: andar nú em casa.

Não há sensação melhor que andar à vontade dentro do meu próprio domínio completamente livre dos empecilhos têxteis. É claro que gosto de roupa e prezo sobremaneira a sua protecção e a enorme possibilidade de expressão que esta nos dá. Mas andar nú faz-nos sentir mais puros e em contacto com a nossa verdadeira Natureza. Ok, e há a insubstituível sensação da aragem na genitália.

Pode parecer um disparate mas depois de viver em casa da mãe até aos 30 anos, com a privacidade obviamente limitada, não há coisa melhor do que poder usufruir deste pequeno grande prazer sem correr o risco de chocar o olhar materno com as (evidentes) alterações que este corpinho sofreu desde que a senhora nos expeliu para o frio do extra-útero.

Mas, e há sempre um "mas". Além de gostar de andar nú, também gosto de ter as janelas abertas. E apesar de não ser um gajo friorento e de estarmos no Verão, acabei por pagar o preço de dormir com o meu fato de nascimento: uma brutal gripe.

Já estou há perto de uma semana a acordar com a garganta dorida, o nariz permanentemente entupido e a voz de uma octogenária cantora de cabaré berlinense reformada.

Estou um bocado farto, mas há quem diga que a maior parte dos prazeres pagam-se.

Pelos vistos, até aqueles que são gozados a sós.





Animais

Essa coisa de ser humano tem muito que se lhe diga. Crescemos a ouvir grandes lições sobre a superioridade moral do ser humano, rei e senhor do planeta e de todas as bestas, mas de vez em quando há coisas...

"Na madrugada de 14 de Julho, alguém entrou nas instalações do canil-gatil de Évora presume-se que por cima da vedação, escolheu dois cães tidos como dos mais agressivos para os gatos, libertou-os das coleiras que os prendiam e abriu a entrada do gatil.
Depois, os cães foram largados e seguiu-se uma horrorosa chacina.
Quando, pelas nove horas da manhã, o tratador dos animais Marco Rebocho chegou às instalações, deparou-se com uma imagem indescritível. Ao ataque só sobreviveram quatro gatas adultas e uma cria. Pelo chão ficaram espalhados pedaços de 15 gatos adultos e crias.
Um dos dois cães envolvidos na macabra luta estava morto de fadiga. Mas outros quatro canídeos não envolvidos na matança apresentaram-se bastante debilitados e acabaram por morrer, aparentemente vítimas de envenenamento..."

in Público de quarta-feira, dia 20 de Julho, por Carlos Dias

Afinal, quem são as bestas?