terça-feira, agosto 23, 2005

Haja saúde

Aproveitando as minhas ainda recentes incursões nos desportos aquáticos, quero dizer aos meus amigos que vou entrar nesta onda: hospitais.

Infelizmente, o meu conhecimento dos hospitais públicos deste país já tem anos. Não por minha causa, que graças aos céus tenho uma saúde de ferro, mas por causa do meu pai.

Os muitos problemas de saúde de que padecia forçaram-me a longas noites nas salas de espera do Curry Cabral. Para não falar nas visitas semanais, sempre acompanhado da minha avó octogenária. E, digo-vos, eram experiências inolvidáveis.

Um hospital não é, não pode ser, um sítio agradável. Mas não acredito que a Ocidente dol Bangladesh e a Norte do Sudão existam hospitais tão maus como os portugueses.

Como passaram alguns anos desde aqueles tempos, e o meu pai já está muito além dos hospitais, cheguei a pensar que as coisas tivessem melhorado. Mas eis que uma ameaça de AVC da minha avó me levaram mais uma vez à sala de espera das urgências do Curry Cabral. A primeira impressão foi de que tudo, afinal, estava melhor. A senhora foi rapidamente atendida e o problema despistado. O pior foi que teve de ser submetida a uns exames.

Para encurtar uma história agoniadamente longa, resumo: estivemos quatro horas à espera da senhora porque a médica que a observou se esqueceu de passar os impressos para uma colheita de sangue. Assim, enquanto a velhota esteve numa maca num corredor, assustada e desorientada, e eu estava na sala de espera, a senhora médica, acompannhada de alguns colegas, conversava e fumava à espera que o tempo do turno se esgotasse. Pois, porque a noite era tranquila e o movimento era escasso. E por isso estivemos QUATRO HORAS depois da primeira observação, à espera de nada. No final, ao constatarem o erro grosseiro, o chefe do serviço disse que afinal as análises não eram necessárias e podíamos ir para casa.

Em suma: quatro horas, QUATRO! para nada.

E o pior é que todos os portugueses têm, pelo menos, uma história destas. Pois é, o país está doente. Terminal. E neste caso sou pela eutanásia.

PS: Segundo um estudo do Banco Central Europeu, e se o actual ritmo de crescimento se mantiver, em 2025 a Espanha será o país mais desenvolvido da Europa, à frente da Alemanha, França ou Inglaterra. Pois é, se ao menos o Afonso Henriques não tivesse espancado a mãe...

sexta-feira, agosto 05, 2005

Danças de fumo

Isto há dias assim. Depois de uma semana preenchida por um dos trabalhos mais difíceis que já levei a cabo na minha carreira (e, de certa forma, dos mais frustrantes), e na antecâmara de uma reportagem de contornos e desfecho ainda mais incertos do que é costume, tenho algum tempo para dar ao "gatilho". Cá vai:

1) Acabou o ballet Gulbenkian. Mais uma demonstração de menoridade de um país em que se desvaloriza a excelência, sobretudo na cultura, onde se gasta milhões nas Casas da Música e nos Centros Culturais de Belém e afins (e não que não façam falta, atenção), e depois se poupam tostões (cerca de dois milhões de euros ano) nos outros edifícios, aqueles de tijolos humanos e que são, afinal, os que mais fazem por essa coisa da cultura. Mas como não dá votos nem enche os bolsos a ninguém...

2) E por falar em encher os bolsos. De cinzas. Esta noite (ou madrugada, para ser rigoroso), quando regressava a casa, dei por mim mergulhado numa piscina de fumo. A cidade de Lisboa inteira e arredores estava mergulhada num manto cinzento que tudo sufocava. Tudo menos a indignação. Há por aí monstros com cara de homem que andam a queimar florestas, casas, o país inteiro. E o que faz o governo? Não sei. O que fazem as autarquias? Não sei. O que faço eu? Também não sei. Não sei o que fazer se não indignar-me. Merda.

3) Finalmente, umas derradeiras palavras para o circo das presidenciais. Digo circoi porque é o que está montado, muito por culpa também da Comunicação Social, que tanto aprecia a política espectáculo, o duelo de titãs. Soares e Cavaco. Bucha e Estica. Lobo e raposa. Resta saber quem é o quê. E no meio de todo este circo quem são os palhaços? Desconfio que nós, os eleitores, que são aqueles que se querem distraídos enquanto se faz aquela política menos vistosa que é, afinal, a que decide o nosso dia-a-dia.