sábado, julho 31, 2004

Mortos que andam

Não, isto não é o argumento para um filme de terror série B, só que não sei como descrever aquelas pessoas que vemos todos os dias passearem-se pelas ruas e pelos corredores das empresas, nas filas do banco, nos "guichets" das repartições públicas, e em todos os becos mais escuros da nossa existência.
Algumas trazem pastas de plástico a imitar cabedal, sorrisos de plástico a imitar vida.
Sabem, afinal enganei-me, isto é mesmo o argumento para um filme de terror. Tenho medo do silêncio que escorre de dentro do espaço vazio das palavras que sopram as bocas vazias de beijos e cheias de dentes. Tenho medo dos seus apertos de mão flácidos e dos olhares interessados que passam directo por aquele espaço ainda sem nome entre o meu ombro e a minha orelha. Tenho medo da sua política de direita, a intelectualidade de esquerda, e a moral indecisa de "zigue-zague". Tenho medo dos seus parceiros "Ken" e as suas parceiras "Barbie" e das suas crias rebentos de carne-plástico.

É aquela estranha sensação de ser a única mente sã dentro de um manicómio ou uma ovelha extraterrestre de visita a um matadouro. Olho para as filas das minhas irmãs imaculadamente brancas à espera de depositar a cabeça no cepo e o sangue na tina. Confrontado com este estranho cenário, sacudo a minha lã irrepreensivelmente negra e viro costas, afastando-me cada vez mais dos balidos tristes do rebanho.

Um conselho às restantes ovelhas: sejam lobos.