sexta-feira, julho 15, 2005

Dez para as nove e meia

Rasgas o peito e a vaidade
Vestes a fria pele do lagarto
da cor do desgosto
mal curado
As manhãs da vida parecem distantes
e o fim ao virar de uma esquina rugosa
que acena desbragada
dos confins da depressão

Olhas para os espelhos
que quebraste
para as portas que não fechaste
e aumenta a confusão
Os métodos que não seguiste
perseguem-te e tentam
marcar na tua nova pele de
lagarto-da-cor-do-desgosto
o cunho da normalidade

A normal normalidade normalizadora
que é pior que nada, mas o próprio esmagador
nada

Trânsito, filhos, café instantâneo
torradas com margarina fina
que delícia
E os ombros que descaem
E os olhos que embaciam
prisioneiros
do nevoeiro sujo
das palavras sujas
desta vida suja
em que afocinhas
e te esfregas

Os lençois suados de lágrimas
e semen que te puxam para baixo
que te seduzem para o escuro
são a doce armadilha, o intenso mosto
a toca de um homem com pele de lagarto
da cor do desgosto

4 comentários:

Firehawk disse...

Bravo...não te julgava tão bom poeta!

Carlos disse...

Meu querido, chamar a isso poesia é disparate.Talvez um arroto de alma. Poesia é outro nível.

Carlos disse...

Mas obrigado pelo elogio (acho) na mesma.

Anónimo disse...

Arroto de alma?! Está tudo a sofrer de uma insolação ou quê?

Paula