terça-feira, julho 20, 2004

Vergonha

Acabei de ler uma entrevista que me deixou genuinamente nauseado. Uma entrevista que foi à prensa pela revista FOCUS e na qual dão direito de antena ao meu caro amigo e antigo colega Freddy Vinagre e a um tal de Mário São Vicente. 
O objectivo da entrevista é ouvir dois profissionais de publicações ligadas à análise dos media, a "Meios e Publicidade" e a "Briefing", sobre o panorama do jornalismo português.  
 
Para já, penso que a escolha dos entrevistados foi um pouco pobre, afinal falaram com dois jovens profissionais sem nome na praça e com relativa pouca experiência para se pronunciarem sobre toda uma realidade complexa, o que faz a coisa resvalar para algo pouco mais relevante que uma conversa de café. Ou seja, se eu quiser falar sobre o futebol português não vou entrevistar o Carlos Mariano ou outro repórter qualquer, mas um director de um jornal desportivo de referência.
 
Neste caso, e porque falamos de jornais e revistas, porque não entrevistar o responsável governativo por essa pasta, ou um painel de directores de jornais e revistas, ou alguns empresários do sector. Ou até todos estes. Estamos a falar de uma reportagem mais vasta e não de dois pares de páginas com dois gajos porreiros que a gente até conhece dos tempos de faculdade.
 
Enfim, mas um caso não são casos, e não vou entrar em críticas canibalísticas, sob pena de estar a incorrer no mesmo erro que o senhor entrevistado Mário São Vicente. É que no meio dos muitos disparates proferidos pelo senhor no dito trabalho, houve um trecho que me fez entrar em parafuso: "O grande problema do jornalismo em Portugal são os jornalistas: têm baixa produtividade, são preguiçosos. As redacções são verdadeiros antros de jornalistas incompetentes que ocupam os seus lugares graças a uma rede de contactos."
 
Quando leio isto, ocorre-me uma frase muito acertada: "As generalizações são mentirosas". Ora este senhor está a generalizar e corre o risco de estar, pura e simplesmente, a mentir. É claro que o que ele diz é parcialmente verdade, também há maus profissionais, mas se vamos rotular toda uma classe, então sinto-me ofendido no meu brio profissional.
 
Então e os muitos escribas trabalhadores e dedicados, com qualidade, sub-valorizados e mal pagos, vítimas de alguns empresários que os senhores entrevistados tanto elogiam.
 
E depois lembrei-me: então o senhor Mário São Vicente não é jornalista? Não deve ser. Ou é um tipo muito frustrado que não sabe ou não pode ser mais nada.
 
Enfim, haja paciência para tanta mediocridade.
 
PS: Freddy Vinagre, um dos entrevistados, é meu amigo. Mas não é por isso que não deixo de o criticar. Mas apesar de ter caído no erro de vaidade de falar de algo sobre o qual, repito, não pode emitir mais que uma opinião válida para uma conversa de café, não diz os disparates que o outro otário diz. Enfim, jornalisticamente falando, e a minha opinião vale o que vale, a entrevista da FOCUS é (e perdoem-me o vernáculo), uma cagada.