Durante a vida de um homem, existem algumas questões que pairam insistentes. Nuvens etéreas que, de quando em quando se fazem sentir, como um arrepio...
No meu caso, uma dessas questões tem a ver com...(rufar dos tambores)...os pés.
A primeira vez que tomei conhecimento deste problema fundamental foi graças a uma mulher. Que não gostava dos pés e tal. Desvalorizei. Mas mais tarde voltei a encontrar esse "problema", com outra mulher. Modelo fotográfico, atleta, gira e tal, corpo escultural e...pés feios. Feios? Ela dizia que sim, mas quem estava a olhar para os pés?
E como toda a problemática da pedicultura me foi apresentada por mulheres, cheguei a pensar que fosse uma daquelas coisas de gaja, como a síndrome pré-menstrual e as revistas que dizem coisas como "conquiste o seu homem na cama".
Puro engano.
De repente, ao conversar com alguns amigos daqueles bem machos que bebem cerveja ao litro e curtem futebol, recebi um soco no estomâgo: "Pés? Eh pá, muito importante. Digo-te mais, era incapaz de fazer o que fosse com, deixa ver...a Angelina Jolie por exemplo (silêncio reverentemente religioso) se ela tivesse os pés feios. Só de imaginar uns pés feios a tocar-me..."
Ok, este foi o caso mais extremo. Mas o que é certo é que depois, após apurada investigação, descobri toda uma tribo de adoradores de pés, de amantes de sandálias, de fanáticos dos saltos altos.
Gosto de pensar que sou dotado de apurado sentido estético, logo até distingo o que é isso de um pé bonito. Mas será assim tão relevante?
E as mãos? E os cotovelos? E os pulsos? Sei lá, de repente, todo um universo anatómico pouco explorado se abre diante dos meus olhos. Não como partes discretas bem integradas num todo que se quer harmonioso, mas como elementos valiosos "per se".
Tudo isto porque hoje o 24 Horas trazia na manchete que Daniela Cicarelli tinha "pés feiosos". Sim? e daí?
Será que a beleza, esse valor esguio e vaporoso, depende da "perfeição" (outro conceito perigosíssimo) anatómica de coisas como os pés?
A beleza é uma coisa estranha. Uns perseguem-na obsessivamente, outros não. Uns pensam que são belos sem o ser quando quem o é geralmente nem percebe. Porque a verdadeira beleza não pode depender da perfeição de uns pés. Não pode.
E depois existem ainda outros casos: os daqueles que pensamos que são belos. E, curiosamente, eles também pensam que o são; e vivemos todos nessa entorpecedora ilusão. Até lhes olharmos para os pés e percebemos que são feios...de barro.
quarta-feira, junho 08, 2005
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