segunda-feira, janeiro 24, 2005

Terra do Nunca

Ontem fui ver um dos melhores filmes que já tive o privilégio de assistir. "À procura da Terra do Nunca" como lhe chamam por cá é um exemplo magistral de como se pode contar uma história emocionalmente poderosa de forma soberbamente contida.

É raro, mas às vezes tenho de concordar com o meu amigo Hugo.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Inveja

Recomendo vivamente a leitura do livro de José Gil "Portugal, Hoje: o Medo de Mudar". Li a entrevista que este pensador (considerado um dos maiores 25 pensadores do mundo pelo "Nouvelle Observateur") deu à revista Pública do último domingo e fiquei esclarecido.

"Vivemos paralisados pela inveja", afirma o autor, que coloca este sentimento bem acima desta condição: é algo que faz parte do próprio sangue deste povo.

E, de facto, ao reflectir no que diz José Gil, desde cedo que somos vítimas desta cultura da mediocridade. Desde os bancos de escola, os melhores alunos são reprimidos, marginalizados e só são integrados e aceites quando deixam de brilhar. É a cultura do lodo.

Inveja. Em vez de ganharmos força e motivação com o sucesso dos outros, em vez de procurar imitar o seu exemplo, arrumamo-los com rótulos, insultos, ou a assassina ironia de quem sabe que em Portugal todos vivemos com medo e sensibilidade à flor da pele. Porque este é um país verde, imaturo, sufocado durante anos pelo Salazarismo. Mas não só. É um medo atávico que prefere diminuir os outros à sua própria insignificância.

E é por isso que o país não anda para a frente? Versão Reader's Digest: Sim. Não só, mas claramente também.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

O castigo da normalidade

Não há pena maior, castigo mais duro e condição mais desgraçada que a de ser normal. Infelizmente, parece que é a isso que, cada vez mais, estou fadado.

Subi a encosta da vida convencido que seria algo de extraordinário, que a minha vida seria qualquer coisa de marcante e que pairaria muito acima da mediocridade dos "normais".

Mesmo nas alturas em que todo o ser humano reza para ser o mais igual ao seu vizinho, ostentei as minhas diferenças com orgulho, como se a mera inadaptação fosse uma marca de água da grandiosidade que me esperava ao fundo do túnel.

Entretanto, fiz 30 anos, uma data que sugere balanços. Alguns amigos colocam-me a coisa nestes termos: "Tens casa, carro, dinheiro e um bom emprego e uma miúda que gosta de ti. Porque é que dizes que não és feliz? porque é que dizes que te falta algo? Falta?"

Falta. A diferença. Falta a tal marca de água, falta a chama e a crença de que nasci para ser diferente, superlativo.

Estou cada vez mais normal. Cada vez mais presa da normalidade assassina que esfuma as linhas do rosto e a chama dos olhos e do peito, que torna rombas as facas dos dentes.

Tenho trinta anos. Aos quarenta, o animal ressurge, dizem. Esperemos que o acordar da minha besta não se manifeste pela compra de um descapotável.

terça-feira, janeiro 11, 2005

No olho do ciclone

Confesso: estou mal habituado. Moldado ou distorcido por uma maturação complicada, posso dizer que me tornei um vinho encorpado, de cor vermelho-rubi (clubística e politicamente) e um aroma profundo e inebriante, matizado de taninos suaves e um ligeiro sabor persistente a teimosia.

Bem, piadas à parte, sou o que sou, bem ou mal, graças às dificuldades; por não dar nunca nada como adquirido e lutar pelo que quero.

E agora? Agora atravesso um estranho momento de calmaria. Sem dramas, sem dificuldades de maior além das que tento imaginar, estou lentamente a perder propriedades.

Ou se calhar estou no olhbo do furacão, atento à vida que circula transtornada à minha volta. À vida dos outros, porque da minha apenas digo que estou aborrecido. Um bocadinho.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Ano novo...

Aqui está 2005.

Confesso que cada vez tenho menos fascínio por essa coisa do ano novo. É conveniente que haja um calendário que nos lembre da passagem do tempo mas estou a habituar-me a catalogar as gavetas da minha vida em função de eventos marcantes. Talvez porque tenho tido muitos.

Adiante, é apenas uma proposta. Não deve ser das mais práticas, mas nunca fui conhecido por ser prático.

PS: Para alguém que conheço, 2005 é um bom exemplo. Será o ano em que nasce sua filha. Só isso deveria chegar, não?

Parabéns