quarta-feira, abril 06, 2005

Vida II

Para evitar confusões, vou retirar todas as considerações genéricas de uma entrada anterior e colocar uma questão "à" referendo: Deve uma mulher que interrompe a gravidez até (digamos) às 12 semanas, sofrer sanções?"

Ou então à bruta: Deve uma mulher que interrompa a gravidez até às (mais uma vez o prazo) ir para a cadeia e ser duplamente castigada (porque o aborto também é uma pena)?

Se se quer evitar o aborto, criem-se condições de acompanhamento nos hospitais, com psicólogos, assistentes sociais, criem alternativas e informem as pessoas da sua existência. Se não se pode criar as condições para toda a gente ter os filhos que quiser, quando quiser então dêem-lhes alternativas. Asseguro que o número de abortos diminuiria drasticamente. E isso é o que todos querem.

Agora, e é só isso que estou a dizer, mandar as pessoas para a prisão é absurdo. A sociedade que promulga e apoia leis como esta é necessaria e implicitamente hipócrita. Não é uma questão religiosa. É uma questão de pão e educação, duas coisas que faltam (muito) neste país.

E para esclarecer os meus amigos comentadores, não sou "bloquista" nem acho que as mulheres sejam as únicas com o poder de escolha sobre o destino do feto. Nunca disse isso. Mas ver no aborto uma forma de "eugenia social" para acabar com os "inadequados" é, no mínimo, um argumento puramente demagógico muitas vezes invocado por aquela franja político-partidária que ideologicamente se posiciona nos antípodas do BE. E os extremos tocam-se e misturam-se. Na máxima expressão tornam-se fanatismos.

8 comentários:

Anónimo disse...

Ok. Lá vamos nós outra vez. Simplifica-se mas ainda há quem não entenda. NINGUÉM é a favor do aborto, TODOS gostariamos que não existisse na nossa sociedade. Mas o facto é que há mais de 20 mil abortos clandestinos por ano em Portugal e não vejo o número baixar. Acredito que essas mulheres merecem cuidados de saúde primários e mais respeito desta sociedade que finge que não as vê e no cúmulo da hipocrisia agora atira-as para os tribunais. Acredito na maternidade consciente, acredito no planeamento familiar e acredito em crianças desejadas e planeadas. Acredito na escolha quando não é o caso. Não acredito é na lata de alguns reaccionários que estão tremendamente preocupados com embriões e fetos, mas que todos os dias vêem crianças carenciadas e pensam para eles próprios que elas são pobres porque querem.
Quando leio os comentários anteriores contra a escolha, mais a minha opinião se mantém. Legaliza-se e cada um age de acordo com a sua consciência. Porque é que isto é tão complicado de entender? Porque é que agem como se as estúpidas das mulheres férteis do país fossem todas a correr abortar depois da legalização? Acham que é uma alternativa a uma ida ao cinema ou quê? Porque é que alguns pensam que é moralmente correcto deixar uma criança nascer para ela ser abandonada num caixote do lixo ou andar a dormir na rua, mas interromper uma gravidez é um pecado. Direito à vida? Mas que tipo de vida?
Deixem as pessoas escolherem e se são contra permaneçam contra, mas deixem os outros em paz. A vossa escolha está feita, mas não impeçam a escolha dos outros.

Anónimo disse...

Regressei porque estava interessada em saber os seus argumentos. Entendo o que diz, e esse é justamente o meu ponto. Há que criar as condições para prevenir, e nunca abrir o precendente de simplesmente remediar. Principalmente quando o remediar significa obliterar vidas humanas, porque "não dão jeito". Esta sociedade sofre de um grande mal: a desresponsabilização. A liberdade sexual, tal como todas as liberdades, e por muito que isso doa, acarreta RESPONSABILIDADE. Coisa muito fora de moda actualmente, essencialmente no que toca àquilo que dá prazer.
Quanto ao comentário anterior, não assinado,tem um tom de tal forma arrogante e básico que não merece qualquer resposta. Mas é mais um sinal típico. Na cobardia do anonimato cada um dispara as suas verdades absolutas perante os "ignorantes" outros e não estão dispostos a escutar.
Concordo com o comentário do António. É muito bonito falar em liberdade, está na moda, mas o aborto É de facto descartar os inconvenientes.
Ao dono do blog agradeço o debate e a resposta. E espero que as duas "facções" consigam um dia chegar a uma solução "ideal".

Maria José Rodrigues

Anónimo disse...

O comentário básico e arrogante não está assinado por mero lapso. Parece-me que do autismo que me acusa não está de todo ilesa por isso mais cuidado com as palavras. Repito que sou a favor da escolha, mas sou infinitamente muito mais a favor da responsabilidade e do planeamento familiar. Não vivemos num mundo perfeito em que não há gravidez indesejada por isso tem que haver outra maneira de lidar com ela do que enfiar a cabeça na areia e dizer às pessoas: aguentem-se!
Paula Nascimento

Anónimo disse...

Responsabilização está mesmo fora de moda. Aceito. Se calhar porque é uma palavra muito grande para a geração dos SMS, não sei. Mas sou pela responsabilização, é por isso que sou contra a actual legislação, que retira o poder de escolha, a liberdade.

Uma sociedade que não dá alternativas, uma sociedade que cultiva a desigualdade e cultiva a hipocrisia, força o aborto. Porque só os pobres vão para a cadeia por abortarem. Os "outros", tantas autodenominados "católicos", vão a Londres.

E o "dono do blog" agradece a participação. Para que isto não sejam só parvoíces.

Firehawk disse...

Estive quase para escrever alguam coisa neste texto, mas depois de ler oque a paula escreveu e o que próprio disseste remeti-me ao silêncio. Faço meus os vossos pensamentos. Ninguém quer mulheres a abortar em cada hospital de Portugal, porque, sabemos bem não o farão. Falamos de uma experiência traumática, e irrepetível, para quem não sabe! Oferecer condições para que estes não aonteçam é uma demagogia gigante, por muito que sonhemos. Ou será que se vai começar a distribuir dinheiro e a pagar ás pessoas para ter filhos? Não me parece que assim vá acontecer. Então que tal arranjar uma forma de deitar cá para fora mais uma criança criada ao deus dará por falta de condições, a viver na miséria ou com uma deficiencia tão profunda que não vivera...apenas sobreviverá! Estamos na época da repsonsabilização... pois estamos! Então de quem é a responsabilidade de haver tanta gente na mi´sérai em Portugal?

Anónimo disse...

À Sra. Paula agradeço a identificação. Acredite ou não, imaginava que teria sido lapso, mas reconheço que é preciso alguma coragem para assinar um comentário como o que fez. Não faça por favor confusão nem personalize a questão, pois foi o comentário que apelidei de arrogante e básico. Quanto ao autismo, todos somos um pouco, e eu não finjo não o ser.
Concordo numa coisa, não vivemos de facto num mundo perfeito. Neste temos que viver com responsabilidade. E esta não é só a da pessoa anónima mas também a do Estado, ao qual cabe formar e apoiar todos, essencialmente os que não têm os mesmo acessos e condições que temos nós.
Talvez dê tanto valor à vida porque já vi mulheres chorarem por perderem os filhos em gestação e mulheres jovens chorarem porque tiveram cancro do útero e nunca poderão gerar.
O sexo pode criar vidas. Há contraceptivos nas mais variadas formas, e alguns têm preços muito baixos, e comparticipados pelo Estado. Gostaria de entender as raparigas e mulheres de classe média/alta que aparentemente não têm dinheiro para os contraceptivos mas estranhamente têm-no para pagar abortos.
Há falhas nos métodos contraceptivos, sabemos. Essa é uma das responsabilidades a assumir. Admito, assusta-me profundamente um futuro sem esta responsabilização. A responsabilidade é algo com que quer nós quer o Estado temos que - como a Sra.Paula tão eloquentemente coloca - "aguentar-nos".
Também fico com a sensação de que uma mulher que não defende a despenalização do aborto é vista pelos defensores como estando contra as outras mulheres. Um erro grave e de vistas curtas. É preciso alguma coragem para assumir esta posição, quando se sabe que também nós podemos um dia ver-nos numa situação difícil.
Volto a agradecer ao Id pela forma como sabe debater um assunto como este, polémico e de posições tão antagónicas. Eu continuo na esperança de que, com o debate e a tolerância entre as duas opiniões, se chegue a bom porto. E o Id, que continue a boa escrita. :)

Maria José Rodrigues

Anónimo disse...

Decidi comentar mais uma vez porque o meu nome foi mencionado, mas confesso que me cansa defender a minha posição. Não tenho problemas em assinar o meu comentário porque mesmo que choque acredito que muitas vezes os argumentos contra a despenalização são baseados numa mulher fantasma tresloucada que já abortou umas 4 vezes e vai alegremente a caminho do quinto como se nada fosse. Maria José, conhece alguma mulher assim? Eu não. Por isso não acredito que seja uma maioria. Não vou fingir que concordo com todas as razões que levam uma mulher a abortar, mas neste caso infelizmente tanto tenho que admitir que uma mulher com quarentas e muitos que não tem dinheiro para mais um filho faça um aborto como uma miúda inconsequente que se calhar não pensou bem no que andava a fazer. Não me sinto no direito de as julgar. Quero que ambas tenham alternativas e que decidam em consciência. É só. Acredito essencialmente que cada caso é um caso, que cada pessoa age de acordo com a sua consciência. E é só. Não nos compete analisar e julgar as razões dos outros.
Gostaria que se acabasse de vez com esta hipocrisia.
O Estado devia fazer mais pois demite-se de muita coisa como planeamento familiar, esducação sexual e mesmo no cuidado dos menores em risco. Especialmente se proíbe tem que encontrar alternativas o que não é o caso em Portugal.
Quanto a pensar que as mulheres que são contra a despenalização estão a agir contra as outras mulheres, se calhar é em parte verdade. Sinto alguma falta de empatia. Eu compreendo quem quer ter filhos desesperadamente e não consegue, consigo compreender uma mulher que devido a problemas de saúde ficou estéril, mas também tenho que compreender uma mulher que não vê num filho uma alegria, mas antes uma catástrofe. Porque existe, porque é uma realidade, porque o mundo não é perfeito nem infalível.
Maria José, eu só quero que permitam a uma mulher escolher. Mais uma alternativa num mundo em que cada caso é um caso e cada pessoa uma consciência.

Paula Nascimento

Firehawk disse...

Paula, não podia concordar mais contigo neste tema. Acho que nem vou dizer mais nada!
Só gostava que alguém mostrasse em que condições muitas mulheres de classe baixa são obrigadas a abortar, simplesmente porque se o fizerem ás claras, num hospital do estado estarão condenadas á prisão! para os ricos há solução para os pobres apenas filhos? É isso?