quinta-feira, março 16, 2006

Fim de tarde em Pozarevac

Estávamos em 2003. Ia como enviado especial à Jugoslávia para fazer a reportagem da participação do V.Guimarães numa eliminatória da "Top Teams Cup" de voleibol.

O destino era uma pequena localidade a cerca de 10o km de Belgrado chamada Pozarevac. Não sabia nada da terrinha, mas pressenti logo à chegada um ambiente estranho, opressivo. Primeiro pensei que talvez fosse o nevoeiro de tabaco à entrada do pavilhão, mas não, era qualquer coisa mais; o silêncio comprometido, o olhar dos mais velhos, que fixavam os estrangeiros como isso mesmo "estrangeiros". Não conseguíamos esquecer a nossa condição.

A atmosfera lembrava a época áurea do terror em Hollywood. Parecia quase normal que nos aparecesse o Boris Karloff ou o Christopher Lee enfeitados capa negra e caninos postiços.

Havia qualquer coisa. Como uma comichão que incomoda mas que não conseguimos localizar. Até que a peça que faltava no "puzzle" surgiu, da maneira mais prosaica: Uma tarja a anunciar uma festa numa discoteca local. Parecia estranho que houvesse uma discoteca num sítio tão cinzento. E no meio da conversa, a intervenção de um local:

--"É a discoteca do filho do Milosevic."

-- "De quem? Do Slobodan Milosevic?"

-- "Sim, esse mesmo. Nasceu aqui, não sabia?"

-- "Não, não sabia, mas agora faz sentido. Só não sei se foi a terra que transformou o tipo se foi a sina do tipo que marcou a terra."

Pozarevac. Nunca mais esqueci o nome, por muito que tentasse. E agora veio outra vez à baila. Como o local onde um dos demónios da História nasceu e onde será enterrado.

Pois, nunca mais esqueci Pozarevac. Esperemos que o Mundo também não esqueça, e que coloque este nome para aí ao lado de Auschwitz.

Vamos comê-los

Devo dizer que estou desiludido. Mas não muito. Não me surpreende que o Benfica tenha resultados pouco conseguidos. Estamos a falar de dois jogos (um empate com a Naval e uma derrota, com culpas do árbitro, ante o Vitória de Guimarães) com equipas manifestamente inferiores e fechadas lá atrás ou, como diria Mourinho, com o "autocarro à frente da baliza".

Isto nasce da própria anatomia do Benfica: uma equipa montada de trás para a frente, apoiada numa defesa coreácea, um meio-campo forte se bem que pouco criativo, e um ataque móvel e flexível mas com dificuldade no ataque planeado. Ou seja, o que se convencionou chamar uma equipa de contra-ataque. É por isso que se deu tão bem com equipas teoricamente mais fortes: Manchester United e Liverpool.

Quanto ao Barcelona, importa dizer que é uma equipa com "tracção à frente", que esbanja talento do meio-campo para diante mas que apresenta algumas lacunas na defesa. Em suma, um adversário ideal para um Benfica com um Simão, um Geovanni e um Miccoli em boa forma, apoiados na defesa brasileira e num meio-campo com Petit (obrigatório) e Beto ou Manuel Fernandes.

Tudo isto para dizer uma coisa: vamos comê-los. Agora só falta dar um tiro no joelho do Ronaldinho.