sexta-feira, novembro 28, 2008

I am a Rock

Começa assim o tema com o mesmo nome da autoria de Simon and Garfunkel.

As 10 anos, quando comecei a preparatória, não podia ser esse o meu lema. Era jovem e ainda não era rocha, era lava: quente, borbulhante sangue da terra. Nessa altura, o segundo verso seria mais apropriado: "I am an Island".

Porque foi mais ou menos assim que me descrevi quando me pediram, num qualquer teste vocacional ou psicotécnico, que descrevesse o que gostaria para o meu futuro. Aos 10 anos, algumas linhas depois de anunciar que ambicionava ser paleontólogo ou arqueólogo, expliquei que gostaria de viver numa ilha deserta.

Não é de admirar que a preocupada directora de turma tenha vindo falar comigo. Lembro-me disto como a primeira vez em que, olhando para aquele papel, tive de olhar também para dentro de mim e materializar o que queria, ou quem eu era.

Não, não era uma rocha, nem tão pouco uma ilha. Mas queria sê-lo. E ao mesmo tempo, queria sair da solidão em que me tinham encerrado, em que eu me tinha encerrado. Vivia num paradoxo entre querer estar sozinho e, ao mesmo tempo, querer, precisar, desesperadamente, ser amado.

Queria ser uma rocha ou uma ilha porque, como conclui Paul Simon nos últimos versos da canção, "and a rock feels no pain, and an island never cries."

Neste momento, estou a escrever estas linhas e acabar de beber o meu café. A seguir parto para Peniche para gastar algumas horas de luz da minha folga a surfar antes que chegue o maremoto que ameaça atingir a nossa costa este fim-de-semana.
As horas antes da tempestade. Às vezes parece que sempre estou à espera de uma tempestade. Para a enfrentar. Como uma rocha.