segunda-feira, agosto 28, 2006

Sem título

Gostava de dizer que sinto
Mas não consigo
Gostava de dizer o quanto lamento
Juro-te que tento
Mas as cinzas que deixaste
Enchem a cova no meu peito
Asfixiam a vida, o alento

A chama, uma sombra
O fogo reduzido a nada
A memória de um sorriso
É sangue, escura, salgada

Grito de ódio impotente
Prisioneiro do conceito
Ditador, absurdo
Golpeio as paredes
Desta cela de dor
É verdade que partes?
É possível que abandones?

Sais do jogo sem acabar
Sais da vida sem jogar
Sais assim, sorrindo
O sorriso de sempre

Esse sorriso que só me faz

Chorar

quinta-feira, agosto 24, 2006

News(?) magazines

Tenho de começar por dizer que apesar de estar na profissão e até ter colaborado algumas vezes para a revista Sábado (ninguém é perfeito), nunca fui fã das chamadas "news magazines".

No entanto, também por força das tais colaborações para a Sábado, e por receber gratuitamente aqui no meu estaminé tanto a Sábado como a Visão, comecei a prestar um pouco mais de atenção a este tipo de publicação.

E, repito, é verdade que nunca fui fã destas revistas de informação, mas de quando em quando comprava a Visão e era uma publicação que eu respeitava.

Pois, "respeitava", porque infelizmente as coisas estão a mudar. Desde que a Sábado apareceu, a concorrência feita à base de uma corrente pró-novo-rico arrastou a Visão para baixo. Assim, agora vemos, semana após semana, as capas com os roteiros de luxo no Alentejo, os hotéis de charme, os hóteis de luxo, as melhores praias...e a Visão que tenta resistir acaba por ir atrás, esta semana, com "a moda de ter casa no Brasil". Isto numa entrevista com o Nobel da literatura confessado ex-SS, Günter Grass.

Enfim, é o jornalismo que temos e o que cada vez mais penso abandonar.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Ressaca da ressaca

Antes de mais, um pedido de desculpas. A ninguém em particular, ao tipo que um dia disse "não me arrependo de nada porque aprendo com os meus erros". Pois aprendo e é por isso que não me arrependo mesmo de nada. Se quiserem, desculpa Paula e, sobretudo, desculpa Hugo. Porque apesar dos nossos atritos (muitos, chatos, mas sempre pequenos), se me mentiste alguma vez, nunca me enganaste. Temos as nossas merdas, mas eu não me esqueço que já chorámos juntos.Ok, estávamos perdidamente bêbados, mas não há nada, mas mesmo nada que alguma vez me faça esquecer isso.

Porque o passado já foi, e os meus amigos não são os que não erram mas os que, errando, também estão cá para me corrigir quando sou eu que me engano.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Dia 11

Hoje apetecia-me escrever. Isso, só por si, é um acontecimento se se tiver em conta a saturação mental e física que me tem afligido nos últimos tempos.

A verdade é que não podia deixar passar este dia em branco.

Dia 11 de Agosto.

Porque ontem se recordou outro 11, o de Setembro, com mais uma gigantesca campanha de publicidade à estupidez e à selvajaria humana ( ?) a ser evitada.

Porque hoje dei uma volta por Leiria e Alcobaça e vi outra campanha, desta vez, levada às últimas consequências: os incêndios que o ministro António Costa diz serem obra da negligência. Eu permito-me corrigir: do crime. Como de costume.

Porque passei por uma territa que por mero acaso acabou por ser marcante na minha vida. Porque permanece símbolo de um conjunto de amizades estéreis. E doeu porque uma época que parecia tão bela deixa agora um travo amargo a desilusão e engano.

Chama-se Montes. De cacos de sonhos de juventude perdida.

Finalmente:

Porque dia 11 de Agosto já foi sinónimo de sorrisos, festa, felicidade.

Porque o meu irmão faria hoje 30 anos.

Trinta anos. A nova idade da razão. Não lhe assentaria bem.

Vai fazer sete anos que ele partiu. De forma tão estúpida.

Trinta anos. Porra, o puto faria 30 anos.

Não consigo deixar de pensar: quem serias tu hoje? Serias pai, serias magro, gordo, casado, solteiro, divorciado? Serias desempregado, rico, pobre, empregado, patrão, mais maduro, mais louco... serias feliz?

Não sei. Um dia destes alguém me disse que "pensava que eu já estava mais maduro". Ri-me. Como se soubessem o que é isso, essa noção que inventam, essa vida que inventam. Esses castelos de areia que constroem à beira da água.

E tu, puto, serias "maduro"? Não sei.

Mas de uma coisa sei: hoje, como ontem, como amanhã. Tu és o meu irmão, o meu puto, o meu mano.

O resto são os tais castelos à beira da água. O resto são cacos num lugarejo chamado Montes. Cacos de juventude. Montes. De nada.