sábado, março 28, 2009

Afasta de mim essa Taça

Estou feliz. A sério. Afinal, vivemos num oásis muito mais soalheiro e acolhedor do que aquele de que o então primeiro-ministro Cavaco Silva falava nos anos 90. Sim, só pode ser. Afinal, que outra justificação poderá haver para que se abram telejornais consecutivamente, dia após dia, horário nobre atrás de horário nobre, com a Taça da Liga, um troféu que é, afinal, o terceiro mais importante da hierarquia das provas nacionais?

Sim, afinal as outras notícias, as que falam de um aumento do desemprego, da falência de empresas de referência ou do aumento da criminalidade devem ser, claramente, exageros de alguma comunicação social alimentada pelas forças de desestabilização, sejam elas fascistas, comunistas ou marcianas. Deve ser tudo ficção, qualquer coisa ao nível dos homenzinhos verdes. E não, não estou a falar do Sporting.

Alguém ainda se lembra quem ganhou a Taça da Liga do ano passado? E isso interessa? Pois, porque foi o Vitória de Setúbal. Mas, desculpem, não quero falar de futebol. Não que se tenha falado de futebol, antes pelo contrário.

Porque afinal, no meio desta orgia de patetices com que temos sido confrontados nos últimos dias, com as repetições constantes da tal mão que não foi mão, com as realidades virtuais, os pedidos de desculpa que não foram pedidos de desculpa, os roubos e os assaltos, acho que as maiores vítimas não foram só os sportinguistas. Não, as vítimas foram os do Sporting, os do Benfica, do FC Porto, do Belenenses, do Vitória de Setúbal, do Braga, do Guimarães, que diabo!, As vítimas fomos todos nós.

Estamos todos a ser vítimas de um truque de magia, ilusionismo do melhor gabarito, em que ofuscados por uma (pelos vistos inexistente) mão de um jogador do Sporting, não percebemos que nos estão a ir ao bolso. Estamos a perder os nossos empregos, a nossa segurança, a nossa inteligência e a nossa informação, afinal, a única arma válida em democracia, em troca de uma Taça que há dois anos nem sequer existia.

Gostaria que Portugal fosse o tal oásis. Sinceramente. Mas assim, de oásis, a única semelhança parecem ser as bananeiras.

Texto publicado em www.record.pt sob o título "truque de magia" na rubrica de opinião "Linha direta" (sim, direta e não directa :P)