sexta-feira, agosto 11, 2006

Dia 11

Hoje apetecia-me escrever. Isso, só por si, é um acontecimento se se tiver em conta a saturação mental e física que me tem afligido nos últimos tempos.

A verdade é que não podia deixar passar este dia em branco.

Dia 11 de Agosto.

Porque ontem se recordou outro 11, o de Setembro, com mais uma gigantesca campanha de publicidade à estupidez e à selvajaria humana ( ?) a ser evitada.

Porque hoje dei uma volta por Leiria e Alcobaça e vi outra campanha, desta vez, levada às últimas consequências: os incêndios que o ministro António Costa diz serem obra da negligência. Eu permito-me corrigir: do crime. Como de costume.

Porque passei por uma territa que por mero acaso acabou por ser marcante na minha vida. Porque permanece símbolo de um conjunto de amizades estéreis. E doeu porque uma época que parecia tão bela deixa agora um travo amargo a desilusão e engano.

Chama-se Montes. De cacos de sonhos de juventude perdida.

Finalmente:

Porque dia 11 de Agosto já foi sinónimo de sorrisos, festa, felicidade.

Porque o meu irmão faria hoje 30 anos.

Trinta anos. A nova idade da razão. Não lhe assentaria bem.

Vai fazer sete anos que ele partiu. De forma tão estúpida.

Trinta anos. Porra, o puto faria 30 anos.

Não consigo deixar de pensar: quem serias tu hoje? Serias pai, serias magro, gordo, casado, solteiro, divorciado? Serias desempregado, rico, pobre, empregado, patrão, mais maduro, mais louco... serias feliz?

Não sei. Um dia destes alguém me disse que "pensava que eu já estava mais maduro". Ri-me. Como se soubessem o que é isso, essa noção que inventam, essa vida que inventam. Esses castelos de areia que constroem à beira da água.

E tu, puto, serias "maduro"? Não sei.

Mas de uma coisa sei: hoje, como ontem, como amanhã. Tu és o meu irmão, o meu puto, o meu mano.

O resto são os tais castelos à beira da água. O resto são cacos num lugarejo chamado Montes. Cacos de juventude. Montes. De nada.