quinta-feira, abril 16, 2009

Interruptor




Comecei este blogue em 2004. Parece que foi ontem mas, vendo bem, foi há muito tempo. Cronologicamente menos do que tudo o resto. Muita coisa mudou nestes 5 anos, mas podia ter mudado mais. Parte de mim queria que tivesse mudado muito mais.

E infelizmente, este blogue também mudou. Estive a ler os primeiros posts e eram escritos com a certeza arrogante de um jovem que sabe que tem tudo a ganhar. Modéstia à parte, os textos eram engraçados, sombrios, irónicos, mas sempre apetitosos. Ou quase sempre, vá, concedam-me essa.

Mas isso mudou. A falta de vontade de escrever ou a falta de coisas para dizer, coisas com valor, com substância, tem predominado, como se algo se tivesse esvaziado, e eu acho que sei o que foi.

Estou a ficar velho, estou a ficar com medo. Em 2004 tinha tudo a ganhar porque não tinha nada a perder. Não há coragem maior do que aquela que nasce do vazio. O desespero pode também ser pai da esperança mas esta acaba por dar à luz expectativas e estas trazem consigo o medo. Medo de falhar.

Estarei a falhar? Estará a chama a apagar-se? Já não sinto o animal dentro de mim. A dor parece, finalmente, ter sido aplacada. Os fantasmas do passado já não me perseguem e estou livre das agulhas, das pancadas, das noites de terror. Sim, ainda me lembro do cheiro das flores e da carne em rápida decomposição. Sim, ainda me lembro do frio da mesa de autópsias, da costura a lamber-lhe a base do pescoço e a esconder-se debaixo do lençol, numa promessa inominável; lembro-me dos gritos, do bafo a álcool, das ameaças, da chantagem, da droga, do suicídio, do medo, da impotência, do escuro.

Lembro-me das trevas. Tenebrae.

E lembro-me da luz. Luce.

Este espaço ajudou-me a encontrar o equilíbrio entre umas e outra. Acho.

Sempre fui e sempre serei, como todos nós, fundamentalmente humano, uma dança de cinzentos mais claros ou mais escuros... uma meada em permanente fiação. Até ao fim.

Confesso que quando comecei a escrever este post não sabia ainda se seria o último. Apetece-me que seja. Não sei se consigo acabar com isto, accionar o interruptor num sentido ou noutro e acabar com a indefinição.

Vamos deixar isto assim, suspenso, entre luzes e trevas. Um dia os meus filhos, se por aí vierem, saberão apreciar qual dos lados ganhou. Eu apostaria num empate, mas eles terão uma opinião diferente.

É impossível enganar os nossos filhos.