quinta-feira, novembro 18, 2004

Intimidade e sim, ovos mexidos

Temos medo. O sexo, mais conhecido nestas páginas como "ovos mexidos" (ver "post" com o mesmo título) é bom. Afirmação pouco polémica. Tão pouco que a sabedoria "hollywoodesca" já a sintetizou: "Sexo é como pizza: mesmo quando é mau, é bom".

Então não é de sexo que temos medo. Ok, concedo que até haja quem tenha medo de sexo, mas isso é uma questão dos que ainda não o começaram e dos que estão com medo que acabe. Coisas do tempo. Daquele que temos e do que ainda nos resta, dependendo da perspectiva.

Mas no meio, entre os inícios e os finalmentes, há os entretantos, os dos ovos mexidos. E é aí que entra o outro medo, o egoísta: medo da intimidade.

O segredo do bom sexo (dizem, que eu não percebo nada disso) é o esquecimento, a anulação da consciência. Esquecermo-nos de quem somos perante outra pessoa; esquecer o pudor, a inadequação. E aí as hormonas ajudam.

O problema é quando passa a "magia" química: nús, umas vezes em cama alheia, outras com alguém que, vendo bem, é praticamente um estranho, estamos paradoxalmente sós.

Lembro-me da história de um amigo que percebeu a real dimensão do erro quando depois de uma noite tórrida, a parceira de idílio erótico o convidou para o seu duche. O problema foi que ele estava urinando e a moça entra casa de banho adentro, sem respeito por aquele momento...íntimo.

Pois é: intimidade. É esse o cerne do problema. É que, nestes dias de propaganda generalizada, de corpos perfeitos enlaçados, o sexo não é, não pode ser, a medida da intimidade.

A intimidade faz-se na partilha de coisas simples mas secretas. É deixar entrar outrém no pequeno e secreto espaço em que nos habituámos a viver. E não é fácil. Para muitos de nós, o proverbial armário onde guardamos os "esqueletos", ou a partilha de uma casa de banho, não é tarefa simples. E é aí, nesse tão menosprezado campo de batalha que se ganham ou perdem relações.

Formulado de maneira sintética: "Posso ir contigo para a cama mas, por favor, não me vejas mijar."

Amén