segunda-feira, dezembro 17, 2007

Montanhas de Água

Tenho recebido algumas críticas de amigos que me acusam de estar a reduzir este espaço (e a minha cabeça) a um repositório de ondas surfadas e poor surfar.

Talvez. Quem me conhece bem, sabe que sou dado a paixões arrebatadoras. É verdade, não riam. E a verdade é que estou apaixonado pelo mar. Não, não vou elaborar sobre isto para não dizer grandes disparates.

Mas tenho de vos falar do 3º Special Edition da Nazaré: para os leigos, apenas dizer que...como descrever...?

Ok,imaginem 20 loucos a mandarem-se abaixo de montanhas de água com 6 e 7 metros (que é como quem diz 10 metros em medida não-surfista) com o recurso a, apenas, pranchas de bodyboard e barbatanas.

Montanhas de água, foi o que eu vi ontem na Praia do Norte, Nazaré. Não vos peço esforços de imaginação. Seguem algumas fotos.









sexta-feira, dezembro 07, 2007

Finalmente...a foto


E deviam ter visto no dia anterior...

sexta-feira, novembro 30, 2007

Mãos atadas


Prometi que nunca mais deixaria que me manietassem, que me enclausurassem, de corpo ou espírito. Porque os que partiram deram-me as chaves das algemas para que, assim que lavasse a água que me queimava os olhos, pudesse nunca mais chorar.

Em parte, resultou. Nunca mais chorei e, creio, nunca mais o farei. Mesmo que quisesse acho que me esqueci de como se faz.

Mas falhei. Deixei que me atassem novamente as mãos e cá estou, mais uma vez, prisioneiro nem sei bem do quê, objecto de intrigas, invejas e afogado num asco sufocante.

Tenho as mãos atadas. Mas libertar-me-ei. E não faço promessas. Não preciso.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Sem palavras


As palavras são um empecilho. Uma ponte que rui, ruidosamente, cada vez que te tento explicar, mostrar quem (o quê, porquê) sou. Apetece-me rasgar o peito, abrir as costelas para cada lado, como de um livro se tratasse, arrancar o músculo palpitante e esfregá-lo, sangrento, numa folha de papel. Eis o meu testamento e a minha carta de amor.

A mais bela balada

Porque (também e cada vez mais) há dias assim...

quinta-feira, novembro 08, 2007

quarta-feira, novembro 07, 2007

segunda-feira, novembro 05, 2007

domingo, novembro 04, 2007

Jornal+ismo, Capital+ismo

Nunca quis discutir trabalho neste espaço. Sempre achei que era preferível guardar temas mais elevados ou mesmo mais limpos que a escravatura do homem pelo homem, termo marxista para o que é mais conhecido nos moldes modernos, e num termo também herdado pelo tio Karl, como Capitalismo (desculpem a asneira).

Capitalismo que, nos dias que correm, rima cada vez mais com jornalismo. Pelo menos com a indústria de produzir conteúdos que é ao que o jornalismo foi reduzido. Ou, como lhe chamo: charcutaria fina.

Exploração. Despedir os que ganham muito, manter os que ganham pouco e trabalham muito. A qualidade do produto é secundário, o que interessa é encher o chouriço (daí a charcutaria).

Recentemente, os administradores do grupo a que o meu jornal pertence -- e a merda começou precisamente com os grupos e para os "lobbies" políticos que legislam por sua encomenda --, vieram explicar que agora vamos ter de produzir conteúdos extra para o "site". E sim, claro, pelo mesmo preço. Um aumento de...contributo. A contrapartida era a formação em programas que se aprendem a dominar num par de horas. Ah...e mantermos os empreegos, o que hoje em dia... Vampiros de merda.

Hoje estive a falar com um empregado da SIC (somos todos operários agora) que explicou que agora trabalham para a SIC, para a SIC Notícias, para a SIC online, e ainda fazem uns "bicos" (a terminologia não é inocente) para o Expresso.

Temos de traçar a linha em algum lado. Infelizmente, como temos um sindicato que não existe, e que boicota sucessivamente a formação de uma Ordem dos jornalistas (perdiam os tachos), acho que a solução que se coloca a quem não está disposto a ser mais vampirizado e rebaixado é sair.

A porta está aberta.

quarta-feira, outubro 31, 2007

O maior dos crimes


A traição é o maior dos crimes porque pressupõe que também somos culpados...por confiar.

sábado, outubro 20, 2007

Há dias assim...




Animais


Passamos a vida a rejeitar o que de mais verdadeiro há em nós. O animal. A besta. O solo escuro e espesso que se esconde debaixo da fina camada de cultura que há em nós e que, ao mesmo tempo a suporta e alimenta.


Tudo o que fizemos desde que deixámos as cavernas há coisa de 50 mil anos não é mais que ecos do que somos. Feitos de cultura. De verniz.


Somos animais. Sim, e daí? Porque bestas só as humanas.

domingo, outubro 14, 2007

Tempo para respirar


Peço desculpa mas, para os mais distraídos, chegou o vento Leste...

segunda-feira, outubro 08, 2007

Pois, exactamente como Beverly Hills


Um amigo meu ( e sei que esta é uma expressão que tem o seu quê de pleonástico, mas faz sentido poético) teve uma gripe. Uma mística doença que o levou a fazer aquilo que chamo arqueologia das gavetas, e que descobertas ele fez!

Aparentemente, foi dar com cartas e mais do que isso, memórias, de tempos idos, os dos primeiros anos de faculdade, em que essa histórias dos e-mails era para ricos que tinham essa misteriosa internet em casa (os telemóveis estavam também a começar a aparecer em força). Sim, eram os primeiros anos da década de 90. Eu disse arqueologia, não foi?

Ora, passando os olhos por essas ditas cartas, muitas vezes, como ele diz, entregues em mão, porque faziam sentido não pela distância física, mas pela proximidade espiritual que permitiam, ele recordou. E escrevendo sobre isso, fez-me recordar também.

Escreve, com uma lucidez que nos vai sendo rara (sobretudo nele ;) ), que dizia, então que a amizade daquele grupo era como a de "Beverly Hills", numa referência à série norte-americana "Beverly Hills 90210" , pelo menos, acho que era esse o código postal...

Meu amigo, a razão pela qual não guardo mais do que recordações dessa época, é por que as tuas palavras foram exactas e proféticas. Afinal, não é por coincidência que na foto que colocaste no teu "post", não está lá a minha grata figura. É que como na tal série, havia amizades, mas também romances, traições e sim, até os maus da fita...

Tenho penaa que tudo tenha terminado assim (pelo menos para alguns), porque guardo muitas e gratas recordações desses tempos. E até as más foram marcantes e produtivas. Foram anos intensos e marcantes. Por tudo o que se passou dentro mas também, e sobretudo, fora do grupo.

Cresci. Crescemos todos. Mas as minhas gavetas estão vazias, amigo, tenho muito mais para lá meter. No Futuro.

sábado, setembro 15, 2007

Honestidade


Diz-se que o valor de um bem é inversamente proporcional à sua abundância. Detesto economia mas não deixo de reconhecer a inteligência desta regra. O meu único consolo é pensar, perdão, saber, que uma verdade tão indiscutível deve ter precedido a invenção da troca de bens da mesma maneira que o Homem precedeu o cidadão.


A prova que esta regra é universal e fundamental é que tal se aplica a mais que valores materiais.


Vejam a Honestidade. É com caixa alta mesmo. A Honestidade é preciosa. E rara.


Tenho uma amiga que é minha Amiga, ainda hoje, numa altura em que muitos outros já se ficaram pelo caminho, precisamente porque consegue ser honesta. Honesta até à brutalidade. Às vezes exagera, mas só porque acredita naquilo que diz, e quando honesto, até o erro se perdoa.


Gosto dela e invejo-a precisamente porque consegue ser honesta. Porque eu não consigo.


Poderia dizer que tem a ver com a minha complexa personalidade, com as proverbiais camadas de cebola que envolvem o meu precioso mal tratado ego.


Não. Não sou honesto porque sou fraco. Porque tenho medo de ficar só. Porque preciso de quem me estenda a mão ou, pura e simplesmente, esteja. Que não me deixe só no quarto escuro em que entrei e de onde tenho medo de sair se não a espaços, como um insecto que não pode estar demasiado tempo fora da toca sob pena de secar e arder.


Tenho inveja da minha amiga. Invejo-a pela sua força. Não aquela que persigo nos ferros que levanto fechado no ginásio. Não é a força da carne mas a que está debaixo e além desta.


No fundo sou fraco. Triste e enganadoramente fraco. Porque gostaria de ser honesto. Honestamente fraco em vez de debilmente honesto.

terça-feira, setembro 11, 2007

9/11

Porque às vezes as palavras são ridículas

domingo, setembro 09, 2007

Carta aberta à RTP*

Quero apenas manifestar a minha profunda revolta, e vergonha, pela profunda falta de critério, ignorância e até falta de patriotismo de uma empresa que eu e todos os portugueses financiamos. Assisto, neste momento, aos primeiros momentos do Portugal-Escócia, primeiro encontro da selecção nacional PORTUGUESA (o termo deve ser-vos familiar poprque faz parte do nome da empresa que todos os anos me leva parte dos impostos e que também deveria ser a minha) no Mundial de râguebi. O maior evento desportivo do ano e que foi olimpicamente ignorado pela televisão pública. Infelizmente, há apenas duas coisas que posso fazer: manifestar o meu profundo desagrado e legítima indignação e dessintonizar a RTP da minha televisão. O primeiro passo está tomado e o segundo terá de esperar pelo final do jogo.

Cumprimentos

* Nota: Cópia de um e-mail dirigido à empresa

sábado, setembro 08, 2007

Produção? LOL

Para um amigo meu que gosta imenso de músicas "com produção". Discordamos muitas vezes, mas desta vez vais ter de me dar a palma: uma voz, uma guitarra e percussão. Poderoso

sexta-feira, setembro 07, 2007

Um documento

Heranças

Tinha para aí 12 ou 13 anos quando ouvi falar de Luciano Pavarotti pela primeira vez. Uma dádiva (mais uma) do meu padrinho para a minha educação. O meu padrinho foi uma espécie de pai intelectual para mim, muito porque, ansioso pela sua aprovação, andava a ouvir música clássica, com o esforço de um adolescente orfão que queria que gostassem dele.

Um esforço que me revelou aquela voz possante e figura simpática mas, mais do que isso, alguns dos mais preciosos tesouros da música (clássica e não só).

O meu padrinho morreu, mas deixou-me muita coisa. Deixou-me livros, discos, uma cultura geral. Agora foi a vez de Pavarotti, mas tal como o meu padrinho, ele também nos deixa a sua voz...e a emoção.

domingo, setembro 02, 2007

Vrummmmmmm!!!!


Sem comentários. Estou apaixonado.

sábado, setembro 01, 2007

Como Cristo


Diga trinta-e-três. Trinta e três anos. Como é possível?! Bem, deve ser. Por enquanto, sinto-me bem longe da velhice mas é curios0 que só agora que chego à idade de Cristo sinto a cruz tão mais distante.

quarta-feira, agosto 22, 2007

English rose


A natureza humana tem destas coisas: passei a semana em Inglaterra, stressado, a escrever coisas que, sinceramente, já nem me lembro. Diariamente travando um duelo silencioso com o portátil que às vezes parecia olhar para mim, reclamando a minha atenção, como um pequeno ditador, silenciosamente sentado nas várias secretárias dos vários quartos de hotel por onde passei.

Pouco olhei para a paisagem, pouco apreciei esta oportunidade de viajar por um país estrangeiro, de beber a experiência. E é, agora, nas últimas horas, cruzando a verde e chuvosa paisagem de um Agosto que não o é (pelo menos para mim, que me redescubro latino e amante do tempo quente…quem diria), que os dedos me escorregam para o teclado. Finalmente, como uma prostituta que não sendo obrigada pelo dever profissional, redescobre o prazer e o amor.

Hoje em dia já não acontece frequentemente, escrever por prazer, quero dizer… o facto de passar a vida a escrever o que os outros querem acaba por ter esse efeito. Esquecemo-nos do que queremos, nós próprios dizer.
Não sei o que foi que me fez abrir o computador para brincar agora com as letras. Talvez o encanto de uma viagem de comboio pela verde ilha inglesa, o facto de não ter de trabalhar hoje, a perspectiva do regresso a casa ou a cara de anjo desta criança inglesa que está sentada à minha frente.

“Anjo”. Pois. Sou vítima dos arquétipos que me impingem desde puto. Uma lindíssima menina inglesa: não deve ter mais de 14 anos e prepara-se para aquela que é, provavelmente, a sua primeira viagem sozinha. A mãe esperou fora do comboio até ela partir, visivelmente ansiosa e preocupada com a aventura. E o facto de ter dois estrangeiros (sim, não enganamos) sentados à frente do seu tesouro não ajuda. Dois tipos de pele escura (é a primeira vez que me sinto escuro) e barba de três dias não é uma visão tranquilizadora.

Voltemos à criança. Gestos comoventemente inseguros levam-na a guardar os bilhetes de comboio e o passaporte num saquinho plástico. É magrinha como só as inglesas magras sabem ser. Está ainda à espera que as hormonas da adolescência façam a sua magia, mas adivinha-se que vai ser uma daquelas mulheres que provocará muitos torcicolos ao longo dos anos que aí vêm. Os nórdicos olhos azuis e os cabelos louros são mais ou menos vulgares por aqui, mas ela tem qualquer coisa de indefinível… Leva um coração de plástico multifacetado no fecho da mala, um amuleto de criança que um destes dias trocará por corações a sério.
Inocência, é isso. Já não me lembrava como era.
Não ajuda o facto de estar a ler uma revista cor-de-rosa com a curvilínea modelo Jordan na capa, nem as gomas que vai debicando. Quem sabe não se torna um daqueles hipopótamos louros que vi por cá. É impressionante a quantidade de mulheres obesas (e não digo gordinha, é obesa mesmo, na casa dos 100 kg) que andam por estas terras. Os genes britânicos parecem apontar para estruturas ósseas estreitas e longilíneas, mas a alimentação à americana anda a dar cabo deles.
Há outra hipótese: que se transforme numa daquelas desmioladas que também vi: bêbedas como cachos, em grupos de meia-dúzia, desfilando nas noites geladas e chuvosas de Agosto (não, não é engano) com mini-saias até ao pescoço e decotes até ao umbigo.
Espero que não. A imagem da miúda leva-me a outra que nos tem perseguido a todos. A de Madeleine McCann. Não, nem vou entrar por aí. Tenho uma opinião muito própria sobre o assunto e não me apetece sequer começar.

Vou apenas pensar que se as coisas fossem diferentes, esta podia ser a pequena Maddie daqui a uns anos, a viajar num comboio, sozinha, a caminho da idade adulta. Com um coração de plástico na mala e outro, que já foi menos plástico, escondido num peito estrangeiro à sua frente, atravessando a verde Inglaterra em cima de um risco de ferro.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Como era mesmo aquele slogan...?


No início dos anos 90, quando me apercebi, tal como a esmagadora maioria dos miúdos da minha geração, que havia uns desportos que não metiam bola e se praticavam nas ondas, a brasileira Lightning Bolt lançava um "slogan" de sucesso: "Destrói as ondas não as praias".


Hoje, no Barbas, um dos meus "spots" de eleição nos dias que correm, essas sábias palavras de um qualquer genial publicitário surgiram na minha cabeça. Estava feliz da vida no pico à espera de umas ondas, quando vejo boiar à minha frente uma garrafa de detergente de lavar louça e outra, de cerveja, que boiava caprichosamente, de gargalo para cima, meio cheia de, suponho, água salgada.


O meu primeiro pensamento, confesso, foi de que a maldita garrafa de vidro podia facilmente partir a cabeça a algum incauto. Leia-se, a mim. Olhei à minha volta e percebi que nenhum dos cem (exagero literário, mas eram muitos) malucos que comigo partilhavam o pico nesta bela manhã de Agosto não desviava o olhar do horizonte, alheio aos objectos que, sinceramente, me estavam a estragar o idílio.


Colocou-se-me um dilema: Ou esquecer a cena e esperar que o mar arrastasse os objectos de forma inofensiva até à areia, ou agarrar na merda das garrafas, apanhar uma onda até à praia, fazer um "slalom" entre os quinhentos (ok, esta não é exagero) banhistas que povoavam o areal e depositar a dita merda das garrafas num contentor apropriado. Ah, sim, e depois remar os cerca de 250 metros contra a rebentação que me separavam do pico.


O dilema durou um minuto. Digamos que se, um dia destes, um amigo vosso vos disser que viu um gajo surgir do mar, empurrado por uma onda, com duas garrafas na mão, não se admirem. Era um anúncio da Lightning Bolt...


PS: Hoje na rádio ouvi que o golfinho branco chinês foi declarado extinto, vítima da poluição. Segundo o folclore local, estes graciosos mamíferos fluviais eram a reencarnação de princesas que se tinham afogado no rio. Os fósseis mais antigos desta espécie datam de há 30 milhões de anos. Habituem-se. A partir de agora, só os poderão ver como fósseis mesmo.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Gone Bodyboarding

Só para ver se percebem :)

terça-feira, julho 31, 2007

Romance


Perguntaram-me se não era romântico. É claro que sou, acredito na perenidade do amor verdadeiro: O amor é mesmo eterno...enquanto dura. Porque o tempo é mesmo relativo.

sábado, julho 21, 2007

Sobreviver


O último grande cagaço da minha vida foram três. Não, não é engano, foram três ondas de set em cima dos cornos, na Praia Grande. A última das quais fez-me pensar que aquele era "o dia". Bem, desde aí, nunca mais consegui entrar na Praia Grande sem stressar. Mais, nunca mais consegui surfar lá como deve ser. E isto, num local que já me deu grande prazer em cima da prancha.


Pois bem, amanhã vou tentar novamente. Vai entrar um swell novo e espero que o vento ajude para a coisa estar ordenada. Se não, bem...a gente se vê.

segunda-feira, julho 16, 2007

Fraco


Há dias assim, em que o mundo parece demasiado pesado.

sexta-feira, junho 22, 2007

Mini-maxi-obsessão




Confesso: estou obcecado. Mas não faz mal, já está encomendado. Para gozar imensamente e sem preocupações. Mas só por alturas do meu aniversário. Uma bela prenda para mim próprio.

segunda-feira, junho 04, 2007

Voragem


E que fazer se um dia acordar com uma incontrolável necessidade de devorar o Mundo?

Dicionário de Sinónimos


Alegria: Ilusão; delírio; confusão; bebedeira

Beleza: Poesia; harmonia, licor; Verdade; Deus (o único); tu

(...)

Vida: Ruptura; desordem; vinho; oceano; pulsão; conflito

(...)

(...ver versão integral publicada pela editora "Já vos atendo um dia destes quando me reformar")

domingo, maio 27, 2007

É pá, porque sim


Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me dió dos luceros que cuando los abro

Perfecto distingo lo negro del blanco

Y en alto cielo su fondo estrellado

Y en las multitudes el hombre [mujer] que yo amo

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado el oído, que en todo su ancho

Traba noche y dia grillos y canarios

Martirios, turbinas, ladridos, chubascos

Y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado el sonido y el abecedario

Con él las palabras que pienso y declaro

Madre, amigo, hermano y luz alumbrando

La ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida,que me ha dado tanto

Me ha dado la marcha de mis pies cansados

Con ellos anduve ciudades y charcos

Playas y desiertos, montañas y llanos

Y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me dió el corazón que agita su marco

Cuando miro el fruto del cerebro humano

Cuando miro el bueno tan lejos del malo

Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado la risa y me ha dado el llanto

Así yo distingo dicha de quebranto

Los dos materiales que forman mi canto

Y el canto de ustedes que es el mismo canto

Y el canto de todos que es mi propio canto

Gracias a la vida

Violeta Parra, para ouvir.


E´pá, porque a vida pode ser uma lição dura, mas a alternativa é muito pior


É pá...porque sim

sexta-feira, maio 04, 2007

Eles comem tudo


Está decidido. Para viver neste país só se pode ser pobre ou estupidamente rico. Ao contrário do que se passa em países civilizados, qualquer meio termo é suprimido à força de impostos e mais impostos.


Comprei a minha casa há quase 3 anos. Não beneficiei da isenção de pagamento à contribuição autáquica e tenho vindo a pagar religiosamente. Eis que agora sou surprendido por uma carta das finanças que diz qualquer coisa como "o valor declarado da sua casa é inferior à avaliação que entretanto efectuámos, por isso vai ter de pagar mais €€€€ de IMI (cont. autárquica)".


Ora, quem faz essa avaliação? A Câmara. Quer dizer, o interessado é que diz quanto vale a minha casa e quantop é que çhes devo pagar.


Como se já não bastasse o IRS, os descontos para segurança social e mais não sei o quê em troca de nada. Sim, porque para sermoms devidamente atendidos num hospital temos de ir para um privado. Dentista? Pagas! Tudo se paga, esquece lá as centenas ouu milhares de contos em impostos.


Na minha terra há uma palavra para isto mas vou aligeirá-la: VAMPIROS DE MERDA!


Em suma, para viver neste país não podes ter nada, tens de ser miserável porque se não vêm os senhorees do Estado roubar-te.


PS: Para esses senhores, uma dica: as minhas carótidas estão disponíveis, mas sejam gentis.

segunda-feira, abril 30, 2007

Revolução geriártrica


Há coisas que me tiram do sério. Uma delas é que me chamem velho. Não que não haja uma certa razão nessa tese, ou não fosse esta tendinite no ombro a gritar-me todos os momentos em que distraidamente tento mexer o braço esquerdo, que estou, de facto, além do meu auge.

Agora quando me dizem que sou velho porque reclamo com o "status quo", porque estou insatisfeito com a vida, porque quero mais e melhor para mim e para o meu país, que diabo, para o Mundo! Quando isso é ser velho...

Gostaria de saber quem é o mais velho: o velho que gostaria de mudar o mundo ou o jovem que, agarrado a um bidão de Coca-Cola, acha que está tudo muito bom desde que não lhe tirem as discotecas, a música de algodão doce e o açucarado "status quo".

Viva La Revolution! Diz que é um conceito idoso.

sexta-feira, abril 27, 2007

Supertubo para Deus


Finalmente! Após duas semanas de trabalho que cabem perfeitamente no top das piores da minha carreira, com os serviços mais merdosos que se pode imaginar, eis que estaciono o carro em Supertubos. Uma rápida olhadela para o mar, um sms rápido para o meu amigo Filipe Santos, enquanto enfio o fato e agarro na prancha. E siga para o areal que se faz tarde.


Talvez influenciado pela consulta ao Beachcam.com ou talvez cego pela ânsia de lavar a alma em água salgada, nem olho bem para o mar, mas reparo que não estava o meio-metro que o site anunciava. Ainda bem, estou a precisar de um desafio, penso. Calço os barbatos e atiro-me à água.


Estavam meia dúzia de malucos na confusão, quase todos bodyboarders e de grande nível, diga-se. Um par de ARS's e outro tanto de tubos bem encaixados convencem-me disso. É capaz de haver uns pros na água...


O primeiro contacto com a rebentação começa a sugerir que fiz merda. A coisa hoje está casca grossa. Inconscientemente, meio às escondidas, benzo-me e faço uma oração silenciosa. Nada como o mar para trazer ao de cima a educação religiosa de um tipo, mesmo se for do tipo informal, como a minha.


Não há de ser nada...começo a furar as ondas a caminho do "line up" e a sensação de estar a jogar fora do meu campeonato adensa-se: aquilo que ali vem não é, definitivamente meio-metro. Ou isso ou aquele surfista cuja cabeça é bem ultrapassada pelo "lip" da onda é anão. Hmmm...não, não é.


Isso e a sensação de estar metido numa máquina de lavar roupa com um programa puxado, começam a causar-me algum frio na espinha. E não é da água, que o fato é bom.


Mais uma estalada e sou enrolado para trás. Bolas, esta merda tem força! Mais um caldo e a coisa torna-se clara: é melhor saíres e procurares um spoot mais user friendly. Esta merda são ondas de metro e meio pesadíssimas e que rebentam em cima de ti como uma parede de cimento. Começo a pensar se o Molhe Leste, ali ao lado, não estará mais convidativo.


Bem, mas tenho de fazer uma onda para sair. Espero por uma boa, sempre furando as paredes que aí vêm a velocidade parva, e atiro-me à ponta de uma direita surfável. Surfável? O animal pega em mim, atira-me lá para cima e mostra-me o drop à minha frente: um buraco de dois metros de vazio. Merda! Puxo tudo para trás mas era tarde de mais. O "lip" empurra-me para baixo com toda a força, e eu vou...como se tivesse outro remédio.


É a sensação já familiar de ser um boneco de trapos no meio da onda, mas decuplicada. "Vou morrer", penso enquanto uma mão invisível me prende lá em baixo, no verde. Finalmente venho ao de cima, agarro a prancha, olho para o mar e...por alguma coisa lhes chamam "set" de ondas: Merda! vem aí outra! agarro-me à prancha com unhas e dentes e espero que a puta não me caia nas costas. Quando dou por isso, uma bomba explode atrás de mim e sou levado num mar de espuma para a frente, para a praia.


Saio ofegante, a rir à parva. Descarga de adrenalina ou a pura, bruta alegria de estar vivo. Não sei. Descalço as barbatanas e caminho para o carro. O Filipe acaba de chegar. Olha para o mar e insulta-me. "És louco, aquilo está tudo a fechar...e tá enorme!"


Fomos para o molho Leste, aí sim, com os tubos sem saída a serem substituídos por umas rampas mais negociáveis. Horas mais tarde e com a barriguinha cheia de surf, sozinho numa esplanada em frente ao mar, saboreando um café quente, negro e espesso, faço um telefonema para uma amiga. Mais do que uma amiga, o meu primeiro amor, coisa de adolescente, desastrada e pueril. Ela só soube anos mais tarde...


-- Oi, há que tempos, sim, desculpa, tenho andado cheio de trabalho


-- Sim, olha continuo no trabalho de sempre, mas agora vou ter outro emprego: vou ser mãe.


-- ... Ah!...Parabéns. Que bom, a sério, estou muito contente. Porra, nem sei que dizer. Parabéns, pois.


-- Ia mandar a ecografia para os meus amigos todos mas ainda não consegui digitalizar aquilo.


-- Pois, deixa, olha, é muito bom, vais ver que tudo vai correr bem. É pena que não estejas aqui, apetecia-me dar-te um beijo. Temos de tomar um café, quer dizer, um chá, agora tens de ter mais cuidado. Sabes ia morrendo há bocado...


-- O quê?


-- Nada, parvoíce, estava a pensar noutra coisa. Olha, vou ficar sem bateria nesta treta. Temos de nos encontrar. Beijos.


O sol está a pôr-se em Supertubos. Pois é, "nada como a proximidade do mar para trazer ao de cima a educação religiosa"... O sol parece ir passar uma fronteira qualquer e o céu fica mais perto, parece que o podemos tocar se esticarmos um pouco o braço. Deus, como o sol, parece tão mais perto hoje, aqui, ao pé do mar, onde as coisas acabam e começam.


Os gajos que passaram por experiência de quase morte dizem que se passa por um túnel que conduz à luz. É como nascer, né? Mas não acho que seja um túnel, é um tubo mesmo. Um Supertubo.

sábado, abril 21, 2007

Vítima do Pantera Negra

Depois de uma semana inteira a ir sistematicamente para a porta da CUF controlar as visitas ao convalescente Luís Filipe Vieira (e que alívio quando ele saiu), eis que à chegada de uma curta visita às ondas da Costa, sou surpreendido pela notícia do internamento de Eusébio. Tremi. E se o pior acontece e o homem morre quando estiver a trabalhar? O meu pesadelo profissional. Mas não, foi um susto.

O cenário foi imediatamente desenhado na minha cabeça: maratonas à porta do Hospital da Luz. As primeiras informações deram-me alguma esperança: o velho ia sair no próprio dia. Puro engano. Afinal, a coisa era para durar.

Horas e horas a fio com apenas uma meta: o fim-de-semana de folga grande: sexta, sábado e domingo. E uma leitura rápida no www.wetsand.com: sexta-feira, ondulação de mais de um metro e sem vento. Meu Deus, dá-me forças para resistir até lá...

sexta-feira, março 16, 2007

Por amor




Cheguei à redacção para o último dia de trabalho antes de umas mini-férias de três dias. Estou a precisar: uma semana de reportagem em Paris deixou marcas e estou mesmo a precisar de um estágio de mar para curar.


Estou a sentar-me e o meu editor aborda-me com um sorriso culpado: "Estás de folga este fim-de-semana, não estás?" Este é o tipo de pergunta assassina que significa invariavelmente mais uma viagem. Pelo caminho já me tinha colocado ao corrente do que ditou o sorteio da UEFA, o Espanyol de Barcelona. Uma cidade bonita, pois é.


Na balança pendia, de um lado, uma viagem e três ou quatro dias de reportagem numa das mais belas cidades da Europa; do outro uma deslocação até Peniche para dois dias de surfada com amigos. Boas ondas, sol, peixinho fresco grelhado...e já mencionei boas ondas?


Pois é. Sem dúvidas. Há escolhas que fazemos por amor. Vocês sabem o que respondi, não sabem?

terça-feira, fevereiro 20, 2007

De volta ao templo


A dor. A satisfação. No célebre documentário de culto "pumping iron", Arnold Schwarzenegger fala da sensação da "pump", que é como quem diz, aquela sensação que se tem depois de algumas séries com pesos. O músculo fica irrigado de sangue, congestionado. No fundo, tata-se de solicitar as fibras musculares de forma sucessiva danificando-as, obrigando o músculo a renovar-se, tornando-o mais forte, mais espesso, com mais fibras, para a próxima vez estar mais preparado para o esforço. A chamada "memória muscular".




Bonito não é? Mas dói. E por isso ainda é mais bonito. Eu explico:




Lembro-me da primeira vez que entrei num ginásio de musculação, daqueles "hardcore", em que se prepara malta para competições de culturismo. Nada destes "health clubs" da moda. Digamos que o tempo que lá passei foi extremamente útil para quando tenho de escrever sobre casos de "doping"...



O primeiro teino teve a sua piada. Já tinha experimentado fazer uns pesos há uns anos, mas nada sério e entretanto já tinha uma experiência interessante em kickboxing. Pensava que isso de "puxar ferro" era coisa para meninos, nada que acrescentasse ao meu título de vice-campeão nacional. Então, atirei-me com toda a gana e acompanhado por um maluco do ferro fiz um esquema pouco aconselhado para o meu corpo de corredor de fundo. Acabei o treino, cambaleei para o balneário e vomitei. Pois é...ganhei outro respeito à coisa. E os 69 kg e meio do kickboxer subiram para 82...


Já foram uns anitos e o vício do ginásio ficou comigo. Um vício que levei a limites pouco razoáveis antes de o incorporar mais pacificamente na minha rotina. Hoje, em vez do ritual de auto-massacre de outros tempos é mais como uma ida ao templo: revigorante. Mas nada de auto-complacente. Ainda gosto de sentir os músculos a arder.


E como ardem. Depois de três meses de interregno escolhi uma má semana para voltar. Na minha secção de 7 pessoas, uma está de férias, outra de baixa e eu...de rastos. Ando a fazer 12 horas por dia e a encaixar, teimosamente, uma hora de ginásio todos os dias (ter ginásio no condomínio facilita), normalmente às 11 da noite ou às 10 da manhã. O pior é andar a coxear como um velhinho cheio de dores nas pernas, suportar os socos amigáveis dos colegas nos braços ou as igualmente fraternas pancadas nas costas. Porra, como dói!


Enfim, é o regresso ao templo meus amigos. É que como naqueles tempos de estreia, não sei fazer nada, mas mesmo nada, a brincar.


Portanto, se me encontrarem na rua, podem cumprimentar-me, mas com cuidado...ouch!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Porque sim

Há vários meses que ando a resistir escrever sobre isto, mas lá terá que ser:

SIM, porque a actual lei é socialmente cega

SIM, porque a actual lei defende a hipocrisia

SIM, porque toda a gente é conta o aborto, mas há quem também seja contra uma lei que penaliza mulheres já suficientemente penalizadas

SIM, porque ainda tenho a esperança que este seja um país que dá a mã a quem mais prcisa e não os condena

SIM, porque não aguento falsos moralismos de quem vai "fazer férias" a Londres ou Badajoz

SIM, porque não há medidas contraceptivas 100% eficazes

SIM, porque todas as crianças merecem ser queridas e amadas

SIM, porque SIM. E se a alternativa ganhar, então merda para este país, porque se houve 25 de Abril, então falhou mesmo

PS: E se ouço mais algum atrasado(a) mental dizer que a despenalização vai provocar uma corrida ao aborto, não respondo por mim.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

My name is Tário, O-Tário

Átrio de hotel cinco estrelas. Aproveito o acaso de hoje ter vestido um blazer com etiqueta transalpina e até estar penteado para deslizar discretamente por entre o caldo internacional de um congresso. Inglês, italiano, francês…até algum português. Mas nada de português do Brasil, aquele que procuro.
É nestas alturas que penso o quão ridícula pode ser esta profissão. Procuro um empresário de futebol brasileiro. É tudo o que sei sobre o tipo. Isso e o facto de ele, alegadamente, estar em Portugal para negociar um avançado para o Benfica. Um brasileiro, claro, ou não fosse essa a origem favorita dos reforços de Inverno em Portugal. Bons e baratos. Pois, deve ser. A quimera dourada dos dirigentes lusos. Quase nunca acontece. Quase? Eu deveria saber, ainda há duas semanas escrevi um trabalho em que falava precisamente do mercado de Janeiro em Portugal. Uma merda. Engodo para índios que ainda teimam em acreditar no sucesso da sua equipa.

Mas isso era antigamente, quando eu ainda escrevia coisas interessantes, quando não estava demasiado ocupado a brincar aos agentes secretos. Pois.
Entretanto, já bebi um café, uma água com gás e estou a folhear a carta dos Whiskies. Completamente sóbrio isto é muito mais difícil. E nada de Veiga, nada de Vieira. Nunca se sabe, o próprio presidente poderia dar um ar da sua graça. Mas seria demasiada bandeira.

Único consolo é a presença de dos tipos que presumo jornalistas da concorrência. Apesar de não nos conhecermos, todos estamos mais ou menos conscientes da identidade uns dos outros. E fingimos que não nos apercebemos da presença uns dos outros, que não sabemos exactamente o que estamos ali a fazer.

Nada de empresário. Acho. Podia chocar de frente com o gajo que não o reconheceria. A informação de que disponho é, no mínimo, escassa. “O tipo é brasileiro. Olha, sei lá pergunta na recepção.” Claro. Estou mesmo a ver: “Boa tarde, por acaso os senhores têm cá algum empresário brasileiro hospedado?” O desespero é grande, faço uma tentativa desesperada junto do porteiro: “Boa tarde, combinei aqui um encontro com José Veiga, o do Benfica, sabe quem é, claro. E, por acaso, ele já passou por aqui?...” Hmmm…talvez um Jameson…

Foi mais ou menos nessa altura que saquei do computador e comecei a escrever. Só para manter a cabeça ocupada. Não tenho nenhum jornal aqui e não tenho mais nada para fazer que me ocupe o cérebro.

Finalmente o telefone toca: é o regresso à base. Vem aí mais um dia daqueles.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Presságio na água

Não acredito em muita coisa. De facto, cada vez acredito menos e em menos coisas. Não sou gajo de ler horóscopos nem sou adepto do sobrenatural. Mas baseio muito da minha vida na intuição. Aquele dia foi um desses momentos.

Estava de folga e já não sei bem porquê nem como, vi-me sozinho, de prancha às costas e a caminho de Seimbra. Bem, sei porque é que ia para Sesimbra: o mau tempo era a notícia do dia e o alerta amarelo que então imperava fazia com que a ondulação estivesse insurfável em praticamente toda a costa ocidental. Isto é, menos na abrigada aldeia de pescadores, refúgio da comunidade amante de ondas em dias de gigantes.

E, de facto, mesmo na pacífica Sesimbra, adivinhava-se que o dia não estava para comuns mortais. Ondas cheias com metrão e meio nos "sets" rolavam porto adentro. A praia estava cheia. Afinal, toda a gente sabe que em dias destes, só mesmo em Sesimbra.

Entrei. Os "sets" eram pesados mas com ritmo moderado e previsível. Não tive dificuldade. No entanto, estava estranhamente indisposto. Não sei se era a ausência do meu "guru" de ondas e habitual parceiro de surfada, o Garcia, ou a inusitada multidão, ou o simples nervoso miudinho normal numa onda nova. Só sabia que aquele não era um dos meus dias. Fiz-me a algumas mas sem convicção. Ou havia sempre um tipo mais bem colocado ou a onda não me parecia boa, ou...pois, algo não estava bem. Estava com medo.

Não era aquele nervoso miudinho normal, era um pavor que ameaçava emergir lá bem do fundo, uma sombra de pânico que espreitava pelo postigo da consciência.

Saí. Algo não estava bem e saí abanando a cabeça, envergonhado, a pedir desculpa à prancha.

Cheguei ao carro e comecei a despir o fato, quando, ainda com a pele de neoprene pela cintura o telemóvel tocou. Olhei e percebi que era o chefe de uma revista com quem colaboro esporadicamente a ligar. Apeteceu-me não atender, falávamos depois. Mas atendi.

- Então, #####, tudo bem? Então em que é que posso ajudar o meu amigo?

- Olá Carlos, então, já sabes mais alguma coisa do César?

- O César? O César está de férias pá! Mas o que é que querias do homem?

- ...Mas ainda não sabes de nada?

- Hã? Mas passou-se alguma coisa?

- Eh pá...acho que o César morreu.

- O quê?! Estás a brincar??

- Mas achas que ia brincar com uma coisa dessas?

-- Merda! Foda-se! Foda-se! Mas que raio?...desculpa...foda-se! filha da puta! Que é que raio aconteceu?! Porra!

-- Um acidente de avião e ia com outro colega vosso, um tal de André...

O resto do diálogo é irrelevante. Tudo o que ele me disse, e mais ainda, veio publicado nos jornais dos dias seguintes. Dois colegas, dois amigos tinham morrido num desastre de avião no fim do Mundo. Não, não acredito no sobrenatural mas, às vezes, o cérebro só serve para confirmar o que já sabemos. De alguma maneira. Mesmo que seja em Sesimbra, na água. O cheiro da dor esgueira-se por todo o lado