terça-feira, outubro 28, 2008

Imposto




O post anterior foi estranhamente premonitório. Depois do cagaço que apanhei ao ver-me sozinho num mar além dos meus limites, eis que voltei ao local do crime e percebi, dolorosamente, que o problema não eram os meus limites mas uma má conjugação de factores: uma maré demasiado cheia para fazer umas ondas decentes, o primeiro dia de um swell invernoso e a inquietação culpada de estar a violar uma regra básica dos desportos de mar: "Não entrarás na água sozinho".

Depois de alguns dias a entrar nesse mesmo "spot" com companhia (de amigos e, não só, já que no fim-de-semana vi muito mais gente do que seria desejável..) eis que aconteceu um dia memorável: arranquei um par de manobras com as quais ando a lutar há algum tempo, e embora ainda não saiam fluidas e nem sequer sempre saiam quando quero, desta vez, saíram.

Mas, uma coisa que aprendemos desde cedo é que tudo tem um preço ou, como dizem os outros, "there is no such thing as a free lunch". A maré encheu muito, os fundos naquela praia estavam a fazer um quebra-coco violento e eis que, tentando terminar uma onda demasiado perto da areia... bem, digamos que a minha cabeça se ia abrindo como um melão. Hoje estou com a cara mais inchada e negra do que a foto que acompanha este post documenta, dói-me o pescoço e as costas que é uma coisa parva, mas sabem que mais? O Inverno está aí e eu já passei para o outro lado do medo: estou preparado. Basta apenas dar um pouco de sangue ao mar. Chamemos-lhe imposto.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Medo






O Inverno chegou. E o Inverno traz as boas ondas. Mas também traz as ondas demasiado grandes. E traz o medo.

Não gosto de me considerar uma pessoa medrosa, mas estou a chegar à conclusão que mais do que medroso, estou a tornar-me um cobarde.

Não tenho medo de estar com a cara a centímetros de uma serpente cuja dentada me pode matar em 2 horas e fotografá-la, mas tenho medo de me meter num avião comercial.

Não tenho medo de nadar no Nilo onde poderão haver crocodilos mas tenho medo de estar no mar com ondas de metrão (o que para o meu nível de experiência já devia ser mais ou menos tranquilo).

Então o que me mete medo? Já tentei descrever várias vezes como é levar com uma onda pesada. Braços e pernas para cada lado, como se fossem saltar fora, cambalhotas, sensação de descontrolo e falta de ar. Consigo nadar cerca de minuto e meio debaixo de água. Não é mau, tendo em conta que nunca treinei natação. E apresenta alguma garantia de sobrevivência já que uma onda de até dois metros obriga-te a estar menos que isso lá em baixo.

O problema é o pânico, o medo irracional e primário que nos rouba o ar num instante.

Sempre pensei que fosse medo de morrer. O acidente do meu irmão acordou-me para a minha mortalidade demasiado cedo. Mas agora começo a pensar que é outra coisa. É medo da falta de controlo. Medo de não dominar uma situação ou de não ter as ferramentas para a controlar.

No mar, tento apetrechar-me com o melhor material possível, sempre à procura da prancha mais indicada, do fato mais quente. Mas como diz o meu amigo e mestre de ondas F, o dinheiro não compra talento, habilidade nem "go for it" que é uma forma sofisticada e surfística de dizer...tomates.

Conheço muito boa gente que só surfa meio-metro e está muito satsifeita com isso. Mas eu quero mais. Quero sempre mais. Ambição desmedida e medo. Como é que convivem?

Mal. E essa é a minha cruz.

domingo, outubro 12, 2008

Welcome to the jungle

Para os meus amigos que estranham a miha prolongada ausência do espectro visível (e audível), sinto-me na obrigaçao de explicar: Estou na Costa Rica, sem telemóvel, já que parece que o meu carregador nao se dá bem com os adaptadores de 100 volts que tem de se usar por aqui. Nao que fizesse diferença, já que tenho andado por sítios em que as únicas redes sao mesmo as mosquiteiras. Assim, tenho falado muito com os macacos uivadores, os tucanos, os crocodilos e jacarés, quetzais, tarântulas, serpentes e nao sei que mais. Ainda tou para ver um jaguar, mas lá iremos...

Entretanto, só queria avisar que estou vivo mesmo que num computador latino americano em que os únicos "tils" vêm numa tecla com n. Uma coisa assim: "ñ". Isto só para os engraçados que possam ter a mania de me corrigir a ortogafia :).

Volto daqui a quatro dias.

PS: Garcia, como estao as ondas? O único sítio com mar em que estive estava infestado de tubaroes e crocodilos à caça. Estamos na época da desova da tartaruga verde e parece que os rapazes às vezes enganam-se e mordiscam uns turistas. E tendo em conta que já vi crocodilos com 3 metros...

A seguir sigo para o lado do Pacífico. Pode ser que tenha sorte.