quinta-feira, abril 14, 2005

CCB? -Dêem-nos música

Os cínicos costumam dizer a respeito a política qualquer coisa a respeito das moscas e da merda. Não sei se sim se não.

O que eu sei é que, merda ou não, há coisas que, de facto, não mudam. Há coisa de uma década indignava-me com a "derrapagem financeira" (belo eufemismo) do Centro Cultural de Belém. Mais que o despesismo, criticava um governo que pensava que o evidente défice cultural do país se resolvia com projectos megalómanos.

Muito tempo passou, vários governos se foram com a espuma dos dias, e, no entanto, hoje inaugura-se mais um CCB. Só que como as coisas mudam, este chama-se Casa da Música e é no Porto.

Gaba-se a arquitectura, fala-se das maravilhas que este projecto vai trazer à vida cultural do país, etc, etc.

Só sei que um projecto com orçamento previsto para 40 milhões de euros (oito milhões de contos dos antigos) apresenta hoje uma factura de 100 milhões, ou seja, vinte milhões dos entretanto extintos contos. Pois, porque as coisas mudam...

Posto isto, algumas perguntas:

Quantos teatros se constroem com 100 milhões?

Quantas bibliotecas?

Quantas escolas?

Quantos empregos para
professores, educadores, músicos, actores, se podem criar?

Isto é tudo CCB -- Centralização Cultural para Burros.

Porque a cultura não é isto.

quinta-feira, abril 07, 2005

De carroça

Há um problema grave neste país: a mania de resolver as questões na flor em vez de na raíz.

Um dos exemplos mais óbvios tem a ver com os automóveis. Os automobilistas deste país são a grande vaca leiteira do Estado.

Na aquisição de automóvel, entre IVA e IA, os portugueses são dos que mais se esforçam. Basta dizer que, na Europa, apenas os Dinamarqueses pagam mais para ter carro. Em Portugal o salário mínimo é de 374,70 euros. Na Dinamarca, não há salário mínimo mas recordo-me de ter lido uma reportagem acerca de um emigrante cubano na Dinamarca que ganhava cerca de dois mil euros a servir às mesas. Enfim...

A título de exemplo, um VW Golf 2.0 TDI custa cerca de 10 mil euros mais em Portugal do que em Espanha. 10 mil euros em impostos. Ah, e os espanhóis têm salário mínimo. 526 euros segundo os meus números mais recentes.

Mas há mais. Temos o imposto de circulação (selo), as portagens, a gasolina...

Mas e depois o dinheiro dos impostos é bem aplicado. Em medidas ambientais, em estradas melhores e mais seguras, na melhoria do ensino da condução...pois. Talvez na Dinamarca.

Portagens: Há quarenta anos que os portugueses pagam uma ponte ultrapassada. Fez-se outra, que até desviava o trânsito de uma zona importante da cidade de Lisboa e tal...e é exorbitante.
Para não falar nas auto-estradas. E há alternativas? Pois há. Em alguns casos, as SCUT. Que os senhores do governo cessante queriam cobrar. Que os senhores do actual governo ainda equacionam cobrar.

Gasolina: Os mesmos senhores que queriam cobrar portagens nas SCUT fizeram o favor de liberalizar o preço da gasolina. Como os senhores das gasolineiras até já fazem pouco dinheiro, como até não combinam entre si os preços (cartéis não são só os colombianos), está provado que foi uma excelente medida. A somar a mais impostos, mais que em Espanha, por exemplo, o resultado é o do costume.

Parquímetros: Cobrados por empresas ilegais. Como as pessoas perceberam que a EMEL, por exemplo, não tinha legitimidade legal para passar multas, deixaram de as pagar. Como tal, esses senhores passaram a bloquear e a rebocar carros. Extorsão pura. Mas o que esperar de uma cidade que permite os "arrumadores", senhores que ganham a vida retendo os carros como reféns? Bem, mas a própria EMEL não é mais que uma firma de arrumadores organizados.

Ambiente: E os impostos são usados em medidas ambientais? Pois, tanto que somos o único país da UE que taxa mais a gasolina que o gasóleo (mais poluente).

Estradas: E os impostos são usados na construção de melhores estradas? Para quem já passou no IP4 e IP5 a pergunta é uma anedota trágica.

Mas com tudo isto, chegamos à conclusão. Tive uma discussão com uma amiga que me dizia que o carro é um luxo. É o que pensam os nossos governantes. Eu também pensaria assim se tivesse alternativas. Mas não tenho. Não tenho transportes públicos bons e baratos. Quanto à qualidade, recomendo a leitura do blog "Alcateia de Loucos" onde o meu amigo Hugo Alves faz uma interpretação bem engraçada, mas real, de uma viagem num autocarro da Carris. E para quem vive fora de Lisboa, então...sem palavras.

Mas vamos taxar os automobilistas. Porque o carro é um luxo. Ao preço por que pagamos os carros em Portugal, é mesmo. E, já agora, a relação entre tudo isto e as mortes na estrada? Há a educação e a falta dela. Pois é. Mas isso reflecte-se no número de acidentes. Agora se há muitos acidentes que resultam em morte, se calhar é porque os portugueses quando batem, batem de Renault Clio e não de Mercedes.

Mas de carroça, como o país, a coisa corria muito melhor.

quarta-feira, abril 06, 2005

Vida II

Para evitar confusões, vou retirar todas as considerações genéricas de uma entrada anterior e colocar uma questão "à" referendo: Deve uma mulher que interrompe a gravidez até (digamos) às 12 semanas, sofrer sanções?"

Ou então à bruta: Deve uma mulher que interrompa a gravidez até às (mais uma vez o prazo) ir para a cadeia e ser duplamente castigada (porque o aborto também é uma pena)?

Se se quer evitar o aborto, criem-se condições de acompanhamento nos hospitais, com psicólogos, assistentes sociais, criem alternativas e informem as pessoas da sua existência. Se não se pode criar as condições para toda a gente ter os filhos que quiser, quando quiser então dêem-lhes alternativas. Asseguro que o número de abortos diminuiria drasticamente. E isso é o que todos querem.

Agora, e é só isso que estou a dizer, mandar as pessoas para a prisão é absurdo. A sociedade que promulga e apoia leis como esta é necessaria e implicitamente hipócrita. Não é uma questão religiosa. É uma questão de pão e educação, duas coisas que faltam (muito) neste país.

E para esclarecer os meus amigos comentadores, não sou "bloquista" nem acho que as mulheres sejam as únicas com o poder de escolha sobre o destino do feto. Nunca disse isso. Mas ver no aborto uma forma de "eugenia social" para acabar com os "inadequados" é, no mínimo, um argumento puramente demagógico muitas vezes invocado por aquela franja político-partidária que ideologicamente se posiciona nos antípodas do BE. E os extremos tocam-se e misturam-se. Na máxima expressão tornam-se fanatismos.

domingo, abril 03, 2005

Campeões

Uma recordação da minha amiga e campeã Susana Barroso. Esta grande mulher mostra todos os dias que a vida é uma luta que só se vence...vivendo.
E esses é que são os campeões, os que não se rendem, os que não baixam o jogo, mesmo quando as cartas que o Universo lhes dá são das mais baixas do baralho. Força, esperança, fé, amor. Ainda há quem se lembre o que é isto? É tão triste ver tanta gente imersa nas suas preocupações mesquinhas e sem tempo para agradecer o tanto que têm. A minha amiga Susana Barroso gostaria de ter a mesma força. Mas tem um músculo muito mais poderoso. Mesmo que os médicos digam que vai enfraquecer: o coração. Posted by Hello