sexta-feira, dezembro 29, 2006

Virar a página DEZ

Lembro-me quando António Tadeia veio falar comigo para integrar a equipa de um projecto ainda sem nome. Falou-me de uma revista de grande reportagem, análise e opinião, uma publicação que ele desejava de referência. Eu ainda estava abalado pela maneira esquisita como tinha saído da secção de Sporting do jornal, uma das secções "fillet mignon" (como ficaram celebrizadas pela sempre expressiva verve do nosso director as secções de Benfica e Sporting do jornal), e não sabia o que esperar.

A responsabilidade parecia-me esmagadora mas a motivação também era grande. Eu adoro uma situação em que as probabilidades estão contra. E aquele parecia o caso: uma equipa de excelentes repórteres em que eu era, até ver, o menos experiente. Depois de mim apenas um estagiário que viria complementar o ramalhete. Tinha acabado de sair do "fillet mignon", é certo, mas estava ali para aprender. Regressar à escola. Havia, no entanto, um anzol: todos ou quase todos estavam ali em situação ingrata; por desavenças com a chefia, por alegada dificuldade "em jogar em equipa", por acidente.

Mas esse foi o factor que nos uniu. Um sentimento de luta contra a adversidade e a competência de todos catalizada e desmultiplicada pela liderança brilhante de António Tadeia.

Até que a fórmula cresceu, amadureceu, ganhou prestígio. Foi premiada, elogiada, reconhecida. O projecto ganhou pernas, resistiu a mudanças de elenco e até à saída do pai do projecto.

Por aqui passou a truculência irónica pontuada de humor e "fair play" de Paulo Renato Soares; a competência sóbria e o riso britânico de Miguel Costa Nunes; a irreverência promissora de Bruno Roseiro; o talento entretanto desperdiçado de Pedro Ferraz (esperemos que volte ao jornalismo), a liderança e assombrosa inteligência de António Tadeia...e o génio de César Oliveira. Um jovem jornalista e um ser humano tão brilhante que Deus o quis guardar consigo mais cedo.

Até agora, da equipa original dos "desterrados", apenas restavam o excelente jornalista e homem Paulo Jorge Pereira e eu. Agora eu parto. Novamente de regresso ao "Fillet Mignon", desta vez, de Benfica vestido.

O Paulo fica, para já. A DEZ também. Mas todos os que cá estão e todos os que por cá passaram fazem parte da alma de uma revista que durante 139 números fez parte de mim.

A vida continua e eu...aprendi. E viver é isso mesmo.

Até já.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Cova do Vapor II

Uma palavra: sobrevivi.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Cova do Vapor

Surfar uma onda nova é como ter sexo com uma desconhecida. Já sinto o nervoso miudinho. Vi a onda da Cova do Vapor pela primeira vez a semana passada: uma vaga mutante que pode ser tubular ou triangular, mas sempre tenebrosa. Amanhã vou "brincar" com ela pela primeira vez.

Sim, a primeira vez é sempre a primeira vez.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

O Natal do saxofone

Porra! Estou farto! Desculpem o desabafo mas estou realmente farto do Natal. Tenho saudades do tempo em que isto me dizia qualquer coisa, mas a verdade é que quanto mais velho fico mais dificuldades tenho em sentir o "espírito natalício". Aquele sentimento morno que nascia na barriga e se espalhava pelo corpo todo, aquele sorriso parvo que se fazia por tudo e por nada. Parece amor, não é? A verdade é que era, pelo Mundo todo. Porque te sentias amado. Porque sabias que tinhas pessoas que, acontecesse o que acontecesse, nunca te desiludiriam.

Pois, como as coisas mudam. Dizem que um tipo nunca deve perder a capacidade de se surpreender. Pois, acho que ainda mantenho essa, já não tenho é a capacidade de me desiludir.

O Natal é a festa da família. Já praticamente não tenho família. Ok, tenho a minha mãe. O problema é que ela também está um pouco morta.

O Natal é a festa da família. Para mim já não é nada.

Este ano tentei, juro que tentei: este ano, pela primeira vez desde a morte do meu irmão, há sete anos, comprei uma árvore enorme, atirei-me às prateleiras das grandes superfícies comerciais a comprar enfeites e estive até às três da manhã a decorá-la. Ficou bonita mas não se pode enganar o espírito de Natal, não se pode comprá-lo.

Na verdade, todos os dias tenho assistido a procissões na Segunda Circular a caminho do Colombo a tentar comprar o espírito de Natal. Em tantos anos nunca vi uma voragem consumista tão grande, tanta gente embrenhada nas compras. Querem-nos vender o Natal e nós compramos, satisfeitos.

Só que amigos, não é assim tão fácil. Pois não. Ontem um amigo deu-me um CD do Miles Davis. Uma prenda desastrada entre dois tipos que não estão habituados a ter esse tipo de gesto entre si. E tão desastrada foi que o CD ainda trazia o preço: 11 euros.

Foi o momento mais próximo que tive de Natal nos últimos anos. Afinal, pensando bem, talvez até se possa comprar o espírito de Natal, não com 11 euros, mas com sorriso envergonhado e um gesto desastrado.

Obrigado, amigo. Talvez ainda haja esperança para mim.

Feliz Natal (ao som de Miles Davis)

segunda-feira, novembro 27, 2006

Não entendo

Lembro-me da primeira vez que, de facto, reparei no André. Foi nos primeiros tempos na redacção do Record, eu estava a fazer a reportagem de um jogo de hóquei em patins no antigo Pavilhão da Luz; há uma jogada polémica e toda a gente no público se levanta a gritar com o árbitro. Não sei bem porquê o meu olhar demorou um pouco tempo mais no André, irado, aos gritos, figura familiar mas ao mesmo tempo bem diversa daquela que já tinha visto sentado ao computador na secção "online", naquele tempo bem mais povoada.

No dia seguinte não perdi tempo e fui meter-me com ele: "Com que então o 'nosso' Benfica, hein...?" Foi o princípio de uma sincera amizade.

O André era um tipo tímido mas afável, um coração grande que apesar dos anos que partilhámos a trabalhar na mesma casa, apesar das conversas que tínhamos, da cumplicidade que floresceu com o tempo e que começou com uma conversa sobre o "nosso" Benfica, nunca cheguei a conhecer bem. Não tivemos tempo.

E tu, meu querido César? Que raio de filme absurdo é este? Não é um daqueles milhares que tu, apaixonado pelo cinema, viste, pois não?

Trabalhámos no mesmo jornal durante 7 anos, foste das primeiras pessas que conheci no Record, e desde há cerca de um ano e meio que estávamos (literalmente) lado a lado no mesmo projecto, a DEZ, a nossa DEZ. E, sabes, nunca me cansei de admirar a tua imaginação delirante, a tua coragem em assumir projectos que os mais ortodoxos apelidavam de "maluquices". Eram "maluquices", sim, de um maluco genial, daquele género de que o mundo precisa cada vez mais.

Estive no teu último aniversário. 34 anos. Só. E foi mesmo o teu último aniversário. Foi ali, naquele indiano do Bairro Alto que conhecias tão bem, trocando impressões sobre viagens com o dono, teu amigo. Falavas da Índia e do projecto de voltar à Patagónia. Bolas, amigo, cheguei a dizer-te que se estivesse de férias agora até ia contigo. O que são as coisas, amigo, o que são as coisas...

Estou aqui sentado, ao lado do teu lugar vazio, sem conseguir conceber que nunca mais verei a tua figura esguia debruçada no computador, o teu sorriso tranquilo ou aquele tique que tinhas com as mãos quando estavas a pensar em mais algums ideia brilhante ou, simplesmente, a tentar soltar a tensão com que, todos os dias, nos batemos.

Já perdi muita gemte querida, demais para uma vida só. Devia ser proibido. Só que custa muito, custa muito mais porque me faz perguntar o que é que Ele estava a fazer, o que é que Ele estava a pensar? Quando levou o meu irmão, quando vos levou a vocês, amigos. Todos jovens, todos cheios de vontade de viver.

No dia a seguir ao vosso acidente, também no Chile, Augusto Pinochet celebrava o 91º aniversário.

Eu estive no teu último, César. Não sabia, mas era mesmo o teu último. Tinhas só 34.

Não entendo. Perdoa-me mas não Te entendo.

quinta-feira, outubro 05, 2006

A triste sina de uma estrela porno

Nos primeiros anos do nosso périplo por este planeta de loucos, todos enfrentamos um sacramental questionário, atirado por tudo e por todos: começa com o "como te chamas" e passa pelo "quantos anos tens", sendo que nesta fase da conversa o progenitor que nos acompanha estimula-nos a esticar os deditos necessários até cumprir o diminuto total.

Então, dependendo do número de falanges orgulhosamente estendidas, a grande e definidora questão: "O que queres ser quando fores grande?"

Bem, no meu tempo, a malta dizia coisas como bombeiro, futebolista, astronauta, respostas que depois evoluiam para profissões mais consentâneas com as aspirações dos paizinhos: médico, advogado, arquitecto...enfim.

No meu caso, devo dizer que, acreditem ou não, a resposta que me lembro de dar por volta dos 10 anos era "arqueólogo". Coisas de quem lia coisas inadequadas para a idade e não tinha pais que lhe impusessem as suas expectativas.

Mas agora demos um salto até à adolescência. Aquela idade em que vivemos todos sob o efeito de um caldo hormonal que dita todas as acções e pensamentos. Pensamentos?, ok, um pensamento: Sexo (deliberadamente em caixa alta).

Então, se alguém perguntasse ao típico adolescente o que ele queria ser, a resposta seria em 9 de 10 casos: estrela porno.

A lógica era inatacável: o que o adolescente mais desejava era sexo e se havia uma carreira em que lhe pagavam para fazer o que ele mais queria, então, citando o grande Paulo Futre...espectáculo.

Só mais tarde o puto sabia que essa coisa de ser estrela porno não era a melhor profisssão do mundo, longe disso. Implicava "actuar" a pedido, debaixo de luzes sufocantes, em estúdios infectos, com uma câmara quase enfiada no rabo, uma dúzia de espectadores (a equipa técnica) a dar palpites e tudo isto com uma gaja meio pedrada que estava ali a fazer o frete.

Não, não era o que ele esperava.

Passou-se mais ao menos isto comigo. Só que eu realizei o sonho. Não, não me tornei estrela porno. Tornei-me jornalista.
Para quem acha que tem de voltar a ler o texto porque perdeu alguma linha, eu explico:

Quando percebi que não poderia ser professor de filosofia porque não tinha paciência para tirar o curso nem feitio para estar à espera de colocação em Freixo de Espada à Cinta, tive de pensar em alternativas. Então ocorreu-me: que tal ser jornalista, uma profisssão em que te pagam para fazeres algo que adoras, escrever? Pensei que tinha descoberto a pólvora, o crime perfeito.

Pois foi o crime perfeito mas em que a vítima sou eu. Também aqui temos de actuar a pedido, também aqui temos de estar com "actrizes" (temas ou pessoas) que não interessam a ninguém e nos tratam como um meio para chegar a um fim, também aqui o prazer se perde.

Escrever é como fazer amor. Jornalismo é, cada vez mais, pornografia. Ou, a espaços, a mais básica prostituição. Mesmo que aqui e ali tenhamos um orgasmo barato.

Uma triste lição. Só me resta o consolo de uma reforma afortunadamente antecipada. Para breve.

sexta-feira, setembro 29, 2006

LSP

Não, não é uma droga sintética nova. L.S.P. aka Late Surf Project. Uma expressão que um outro amigo na vizinhança dos 30, e que agora começou a fazer-se às ondas, me ensinou.

Os 30 têm esta grande virtude: é a idade em que (se tudo correr bem) um tipo obtém alguma independência financeira e estabilidade que lhe permite abraçar projectos que até ali tinha andado a adiar.

Os mais atentos sabem que fazer 30 anos foi pouco menos que um drama para este vosso ilustre, mas confesso agora que me está a sabere bem. Estou livre, (relativamente) equilibrado, tenho uma casa de que gosto muito, algum dinheiro no bolso, uma carreira que apesar de alguma saturação ainda vai dando, aqui e ali, um certo gozo...enfim, estou no "top of my game", no auge da forma, se quiserem.

Esta é a idade para aproveitar e cumprir os Late qualquer coisa projects que tínhamos na manga há tanto tempo. Pelo menos os mais fáceis. Há aí malucos que, por exemplo, desataram a ter filhos. Gabo-lhes a coragem e espero que tenham sucesso no caso de tentarem ser "Very Late qualquer coisa Projects". Porque a vida não espera por ninguém.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Meter água

Há dias em que não me apetece escrever nada porque não tenho nada para dizer; outros em que nada me suscita uma palavrinha que seja. Hoje não é definitivamente o segundo caso. Bem pelo contrário.

Podia falar do facto de o dia internacional sem carros ter sido o primeiro em que, de facto, tive dificuldade em encontrar sítio para estacionar, o que significa que não fui o único a violar o espírito do dia, mas isso suscitava um "post" muito próprio sobre a falta de transportes públicos de qualidade no acesso a Lisboa, etc e tal.

Podia falar da candidatura de LFV à presidência do Benfica... não, não há pachorra.

Podia falar da desilusão que me invade todos os dias quando confrontado com a mediocridade da generalidade da Imprensa portuguesa, mas isso dava um livro que acabaria com a minha reforma antecipada.

Mas nada disso. Amanhã espera-se ondulação de três metros na Costa da Caparica. Vou morrer agarrado à prancha. Afogado ou esborrachado numas pedras. Mas talvez seja bom, não tenho feitio para velho.

Se não, prometo que o próximo post será mais interessante.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Sem título

Gostava de dizer que sinto
Mas não consigo
Gostava de dizer o quanto lamento
Juro-te que tento
Mas as cinzas que deixaste
Enchem a cova no meu peito
Asfixiam a vida, o alento

A chama, uma sombra
O fogo reduzido a nada
A memória de um sorriso
É sangue, escura, salgada

Grito de ódio impotente
Prisioneiro do conceito
Ditador, absurdo
Golpeio as paredes
Desta cela de dor
É verdade que partes?
É possível que abandones?

Sais do jogo sem acabar
Sais da vida sem jogar
Sais assim, sorrindo
O sorriso de sempre

Esse sorriso que só me faz

Chorar

quinta-feira, agosto 24, 2006

News(?) magazines

Tenho de começar por dizer que apesar de estar na profissão e até ter colaborado algumas vezes para a revista Sábado (ninguém é perfeito), nunca fui fã das chamadas "news magazines".

No entanto, também por força das tais colaborações para a Sábado, e por receber gratuitamente aqui no meu estaminé tanto a Sábado como a Visão, comecei a prestar um pouco mais de atenção a este tipo de publicação.

E, repito, é verdade que nunca fui fã destas revistas de informação, mas de quando em quando comprava a Visão e era uma publicação que eu respeitava.

Pois, "respeitava", porque infelizmente as coisas estão a mudar. Desde que a Sábado apareceu, a concorrência feita à base de uma corrente pró-novo-rico arrastou a Visão para baixo. Assim, agora vemos, semana após semana, as capas com os roteiros de luxo no Alentejo, os hotéis de charme, os hóteis de luxo, as melhores praias...e a Visão que tenta resistir acaba por ir atrás, esta semana, com "a moda de ter casa no Brasil". Isto numa entrevista com o Nobel da literatura confessado ex-SS, Günter Grass.

Enfim, é o jornalismo que temos e o que cada vez mais penso abandonar.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Ressaca da ressaca

Antes de mais, um pedido de desculpas. A ninguém em particular, ao tipo que um dia disse "não me arrependo de nada porque aprendo com os meus erros". Pois aprendo e é por isso que não me arrependo mesmo de nada. Se quiserem, desculpa Paula e, sobretudo, desculpa Hugo. Porque apesar dos nossos atritos (muitos, chatos, mas sempre pequenos), se me mentiste alguma vez, nunca me enganaste. Temos as nossas merdas, mas eu não me esqueço que já chorámos juntos.Ok, estávamos perdidamente bêbados, mas não há nada, mas mesmo nada que alguma vez me faça esquecer isso.

Porque o passado já foi, e os meus amigos não são os que não erram mas os que, errando, também estão cá para me corrigir quando sou eu que me engano.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Dia 11

Hoje apetecia-me escrever. Isso, só por si, é um acontecimento se se tiver em conta a saturação mental e física que me tem afligido nos últimos tempos.

A verdade é que não podia deixar passar este dia em branco.

Dia 11 de Agosto.

Porque ontem se recordou outro 11, o de Setembro, com mais uma gigantesca campanha de publicidade à estupidez e à selvajaria humana ( ?) a ser evitada.

Porque hoje dei uma volta por Leiria e Alcobaça e vi outra campanha, desta vez, levada às últimas consequências: os incêndios que o ministro António Costa diz serem obra da negligência. Eu permito-me corrigir: do crime. Como de costume.

Porque passei por uma territa que por mero acaso acabou por ser marcante na minha vida. Porque permanece símbolo de um conjunto de amizades estéreis. E doeu porque uma época que parecia tão bela deixa agora um travo amargo a desilusão e engano.

Chama-se Montes. De cacos de sonhos de juventude perdida.

Finalmente:

Porque dia 11 de Agosto já foi sinónimo de sorrisos, festa, felicidade.

Porque o meu irmão faria hoje 30 anos.

Trinta anos. A nova idade da razão. Não lhe assentaria bem.

Vai fazer sete anos que ele partiu. De forma tão estúpida.

Trinta anos. Porra, o puto faria 30 anos.

Não consigo deixar de pensar: quem serias tu hoje? Serias pai, serias magro, gordo, casado, solteiro, divorciado? Serias desempregado, rico, pobre, empregado, patrão, mais maduro, mais louco... serias feliz?

Não sei. Um dia destes alguém me disse que "pensava que eu já estava mais maduro". Ri-me. Como se soubessem o que é isso, essa noção que inventam, essa vida que inventam. Esses castelos de areia que constroem à beira da água.

E tu, puto, serias "maduro"? Não sei.

Mas de uma coisa sei: hoje, como ontem, como amanhã. Tu és o meu irmão, o meu puto, o meu mano.

O resto são os tais castelos à beira da água. O resto são cacos num lugarejo chamado Montes. Cacos de juventude. Montes. De nada.

sexta-feira, julho 28, 2006

Buraco

Hoje estou no buraco. Preso ao ecrã branco luto do processador de texto, tento ultrapassar o bloqueio e escrever algo que não me envergonhe quando sair para as bancas, de sábado a oito.

Impossível.

terça-feira, junho 06, 2006

Caça-fantasmas

Ninguém acredita nas instituições, está certo. Mas porque é que se chegou a este ponto? Porque as coisas não funcionam ou funcionam tão mal que chegam a paroxismos de anedota.

Hoje fui a casa da minha mãe e encontrei-a de cabeça perdida, indignada, furiosa. Antes de ter percebido o que se passava, dou com um postal da PSP, da Divisão de Investigação Criminal. Uma convocatória para o meu irmão.

Um pouco mais calma, a minha mãe explicou-me que já tinha telefonado para a PSP e falado com o agente encarregado do processo. De acordo com o agente Parada (cerebral), o meu irmão estava a ser acusado da autoria de um furto cometido em 2004.

Falta esclarecer que o meu irmão, Mário José Velez Monteiro Mariano, perfeitamente identificado no postal da convocatória, faleceu em 1999, cinco anos antes do alegado furto.

Ora, como se isso já não fosse suficiente, o agente Parada (cerebral) ainda perguntou à minha mãe onde é que o "autor do furto" estava enterrado. Como se a senhora o estivesse a enganar.

Porra! Quem é que são os atrasados mentais que se fazem passar pela autoridade neste país?! Quem são os filhos de uma puta que não sabem o que é ser uma mãe e perder um filho. Espero sinceramente que o mesmo não aconteça ao agente Parada (cerebral). Sem ironia. Para que nunca ninguém lhe pergunte onde é que parte dele está enterrada.

segunda-feira, maio 22, 2006

Fraquinho...

Quinto dia do pós-operatório. São cinco dias e meio a comer nada mais que sopa morna, iogurtes e gelado. Estou farto. Mas, mais importante, estou fraco. Não sou de medir calorias mas não é difícil perceber que se se passa de 5 refeições diárias bem nutritivas para um fluxo intermitente de sopa e iogurtes líquidos, o corpinho ressente-se.

Em suma, não posso com uma gata pelo rabo.

terça-feira, maio 09, 2006

Prego a fundo

Tenho pouco tempo e paciência, por isso vou ser breve no boletim informativo:

1)Participei na Vodafone Cup, prova de automobilismo de resistência (6 horas) no circuito de Jerez de La Frontera. Uma experiência alucinante que ficou documentada nas páginas da Record DEZ do último sábado.

2) Vou regressar a Jerez, desta feita a convite da Porsche, para testar o novo 911. Estou ansioso. Afinal, nada como um "test drive" antes de comprar :)

3) Este sábado vou ao Guincho deixar-me apanhar por umas ondas. Quem quiser rir-se um pouco está convidado.

4) Até já

terça-feira, abril 11, 2006

Para os nostálgicos

Sim, Hugo, porque não és só tu que tem saudades do passado, aqui vai:

www.misteriojuvenil.com

Para o pessoal que já dobrou os 30 ou está lá quase.

segunda-feira, abril 03, 2006

Outra vez??

Este é um tema que não queria voltar a abordar neste espaço, mas sou obrigado pelo mau gosto e pura e simples estupidez de alguns auto-intitulados "defensores da vida".

Falo do aborto, da sua eventual despenalização, e de todos os que irracionalmente confundem despenalização com "incentivo".

O que me leva a passar por este caminho escorregadio é uma série de cartazes espalhados perto do meu local de trabalho. Os ditos cartazes mostram aquilo que alegadamente será um feto humano (duvidoso) e atiram com a frase: "Se está a ler isto é porque não foi abortado" (mais ou menos isto, porque não consegui olhar duas vezes para aquela barbaridade).

Quem é que esta gente pensa que é?!

Quem lhes deu o direito de falarem pelos outros, arrogarem-se de serem donos da vida alheia?

Quem lhes deu o direito de nos insultar com imagens despropositadas e chocantes?

Lembra-me certa vez em que numa conhecida perfumaria fui preesennteado "de brinde", com um dos célebres bonecos que, dizia em mensagem anexa, representava um feto humano (em tamanho real).

A hipocrisia continua.

segunda-feira, março 27, 2006

"Eles não gostam de celulite"

Confesso que a primeira vez que vi este anúncio ia tendo um acidente. Não porque tenha ficado encantado com a espampanante loura de bikini que o ilustra mas porque quando percebi do que se tratava, ia tendo uma apoplexia.

Com que então, "eles não gostam de celulite". Mas passou-me, afinal temos que conceder que os homossexuais também têm direito a publicidade específica. Hã, o quê? "Eles" não são homossexuais? Espera lá, agora é que não estou a perceber nada. É que só há uma hipótese de um gajo não deparar, de quando em quando, com um bocadinho de celulite. É só se dar com homens. Porque a biologia explica que a a celulite é uma consequência da existência de progestrona, a hormona responsável pelos caracteres femininos. Ou seja, a congénere da testosterona.

Com isto, diz-se que os seres humanos com maiores quantidades de progestrona têm, inevitavelmen te, celulite. Ou seja, as mulheres. Seja a peixeira do mercado ou a "top model" mais bem paga, todas a têm. Ok, só que umas mais que outras, afinal isso pode ser minimizado.

Com esta pequena explicação superficialmente científica quero dizer que os senhores publicitários que se lembraram de promover assim o tal instituto de beleza, são daquela espécie que dá mau nome à publicidade. Vender sonhos, ok, explorar as inseguranças de um determinado grupo é que é o diabo. E mais ainda quando esse grupo representa cerca de 50% da espécie humana.

"Eles não gostam de celulite"? Então "eles" não gostam de mulheres.

E sabem que mais? Eu não gosto é de estupidez, falsidade, hipocrisia, mentira, superficialidade, mediocridade. E infelizmente, ainda não há institutos nem clínicas para as tratar.

sexta-feira, março 24, 2006

A minha onda

Costumo dizer que a vida é regida por um senso de humor peculiar. Aos 15 anos fui trabalhar para uma fábrica de pão para ganhar uns trocos. Na altura, a minha grande ambição de adolescente era comprar uma prancha de bodyboard para poder rumar aos fins-de-semana até à Costa e apanhar umas ondas.

Entrava às 22h00 e saía às 09h00 da manhã. Era lixado para um puto chegar a casa e encontrar o irmão de pijama, cair na cama, ser acordado para almoçar, voltar a cair na cama e só sair um pouco a seguir ao jantar para poder estar a tempo de "pegar ao serviço".

Pois, numa altura em que o ordenado mínimo nacional era de cerca de 45 contos, mais coisa menos coisa, acabei por ser pago com uns miseráveis 26 contos e quinhentos. Foi a minha primeira experiência com as injustiças do sistema laboral. Afinal, o trabalho infantil tem destas coisas...

Escusado será dizer que nunca consegui o dinheiro suficiente. Mesmo trabalhando sempre até entrar para a faculdade, nunca consegui comprar a tal prancha.

Até que o ano passado, com a minha situação financeira muito diferente do puto que sacrificou os Verões da sua adolescência para perseguir uma onda, entrei numa loja e comprei tudo. Em meia-hora, a caça terminou.

Enfim, aos 30 anos comecei algo que devia ter começado aos 15. Quando se quer muito, a espera é irrelevante. Bem, quase.

Mas isto do bodyboard não é só material. Há que trabalhar para aprender. Há 15 dias, na Costa da Caparica, isso tornou-se dolorosamente evidente.

O mar estava mau; rebentação desordenada perto da praia , ondas decentes só muito longe, bem no "off-shore". Conclusão: uma trabalheira para lá chegar. Uma trabalheira dolorosa se se tiverem conta a temperatura da água. Em termos técnicos diz-se que estava "fria como o c#!@%&!!!).

Mas cheguei. O mar não estava especialmente grande. Cerca de metro e meio, mas com vagas muito cheias; verdadeiros autocarros verdes escuros.

E depois de algumas amostras mais ou menos conseguidas, depois de o meu parceiro de surfada ter apanhado a sua onda (a coisa estava tão má que praticamente só estávamos os dois na água), vi a minha presa. Um bicho! E já numa fase adiantada: ou a apanhava ou ela apanhava-me a mim.

Um duelo desvantajoso entre homem e parede de água. O primeiro golpe foi meu. Remei com raiva e apanhei a bicha. Mas o monstro virou o jogo cujas regras são, em última instância, dele. Fui levantado até ao lábio do monstro, no topo da onda e, num segundo penosamente longo, fitei a sua boca escancarada lá em baixo. Mergulhei.

Fui maltratado mas consegui não ir ao fundo de areia ( basta uma pedra lá em baixo e é a morte do artista). Pernas e braços arrastados em ângulos impossíveis durante mais tempo do que pensei ser possível, mas lá emergi. Consciente. A tempo de evitar o próximo edifício de água que caía.

Exausto e injectado de adrenalina até ao gargalo, cheguei à segurança da areia. Pernas a tremer do esforço, frio e medo, desato a rir que nem um perdido.

Tenho outra vez 15 anos e estou vivo. Mais vivo que nunca.

quarta-feira, março 22, 2006

Ridículos

O medo é das forças mais poderosas da psique humana. Eu tenho medo de muita coisa: medo de vespas, de alturas, medo de estar sozinho no mar, enfim, medo de muita coisa; alguns medos têm um fundo mais ou menos racional, outros nem por isso.

Todavia, há um medo que se sobrepõe a todos: medo do ridículo. E como se cai no ridículo, perguntam vocês?

De muitas maneiras. A pior, todavia, é mentir descaradamente, com mesuras e gentilezas, tecendo teias de hipocrisia tão diáfanas e transparentes como as das aranhas.

Detesto a hipocrisia, a falsidade, a lata de quem nos passa a mão pelo pêlo quando na realidade prefere ver-nos pelas costas. Ou não nos ver.

Só tenho pena de ser tão burro que só percebo a armadilha quando já lá caí. Várias vezes.

Enfim, acho que também lá cair tanta vez tem o seu quê de ridículo. E sendo assim já o fui. Também várias vezes. Porque há crimes em que a vítima é tão culpada quanto o criminoso.

quinta-feira, março 16, 2006

Fim de tarde em Pozarevac

Estávamos em 2003. Ia como enviado especial à Jugoslávia para fazer a reportagem da participação do V.Guimarães numa eliminatória da "Top Teams Cup" de voleibol.

O destino era uma pequena localidade a cerca de 10o km de Belgrado chamada Pozarevac. Não sabia nada da terrinha, mas pressenti logo à chegada um ambiente estranho, opressivo. Primeiro pensei que talvez fosse o nevoeiro de tabaco à entrada do pavilhão, mas não, era qualquer coisa mais; o silêncio comprometido, o olhar dos mais velhos, que fixavam os estrangeiros como isso mesmo "estrangeiros". Não conseguíamos esquecer a nossa condição.

A atmosfera lembrava a época áurea do terror em Hollywood. Parecia quase normal que nos aparecesse o Boris Karloff ou o Christopher Lee enfeitados capa negra e caninos postiços.

Havia qualquer coisa. Como uma comichão que incomoda mas que não conseguimos localizar. Até que a peça que faltava no "puzzle" surgiu, da maneira mais prosaica: Uma tarja a anunciar uma festa numa discoteca local. Parecia estranho que houvesse uma discoteca num sítio tão cinzento. E no meio da conversa, a intervenção de um local:

--"É a discoteca do filho do Milosevic."

-- "De quem? Do Slobodan Milosevic?"

-- "Sim, esse mesmo. Nasceu aqui, não sabia?"

-- "Não, não sabia, mas agora faz sentido. Só não sei se foi a terra que transformou o tipo se foi a sina do tipo que marcou a terra."

Pozarevac. Nunca mais esqueci o nome, por muito que tentasse. E agora veio outra vez à baila. Como o local onde um dos demónios da História nasceu e onde será enterrado.

Pois, nunca mais esqueci Pozarevac. Esperemos que o Mundo também não esqueça, e que coloque este nome para aí ao lado de Auschwitz.

Vamos comê-los

Devo dizer que estou desiludido. Mas não muito. Não me surpreende que o Benfica tenha resultados pouco conseguidos. Estamos a falar de dois jogos (um empate com a Naval e uma derrota, com culpas do árbitro, ante o Vitória de Guimarães) com equipas manifestamente inferiores e fechadas lá atrás ou, como diria Mourinho, com o "autocarro à frente da baliza".

Isto nasce da própria anatomia do Benfica: uma equipa montada de trás para a frente, apoiada numa defesa coreácea, um meio-campo forte se bem que pouco criativo, e um ataque móvel e flexível mas com dificuldade no ataque planeado. Ou seja, o que se convencionou chamar uma equipa de contra-ataque. É por isso que se deu tão bem com equipas teoricamente mais fortes: Manchester United e Liverpool.

Quanto ao Barcelona, importa dizer que é uma equipa com "tracção à frente", que esbanja talento do meio-campo para diante mas que apresenta algumas lacunas na defesa. Em suma, um adversário ideal para um Benfica com um Simão, um Geovanni e um Miccoli em boa forma, apoiados na defesa brasileira e num meio-campo com Petit (obrigatório) e Beto ou Manuel Fernandes.

Tudo isto para dizer uma coisa: vamos comê-los. Agora só falta dar um tiro no joelho do Ronaldinho.

sexta-feira, março 10, 2006

Sorteio ingrato

Que porcaria de azar. Tinha que nos calhar o Barcelona para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. É uma pena uma equipa com a categoria do Barça ter que ficar já pelo caminho.

quinta-feira, março 09, 2006

Vermelho e Negro

Vermelho e Negro. Duas cores que além de combinarem muito bem, reflectem o dia de hoje. Vermelho para o meu Benfica (cujo meio-sucesso não vou para já festejar por preferir esperar pela final) e negro de luto. Luto pelo 25 de Abril que o herdeiro (i)moral de Salazar subiu hoje ao poder.

quarta-feira, março 08, 2006

Benfica!!!

Amanhã escrevo alguma coisa acerca disto, mas agora estou quase a chorar.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Adeus, caracóis de prata

Lembras-te quando me levavas, pequeno e tímido, pela mão, nas tuas digressões pela cidade? O sítio que gostava mais era o mercado, "a praça", como ainda se chamava ao edifício mágico recheado de cores fortes, inundado pelo cheiro pungente e inconfundível do peixe, fruta e flores, todos casados numa atmosfera densa mas cristalina, partida aqui e ali pelo grito do pregão.

Depois, era a passagem pela Aurora florista, sempre à espera que a Belinha, a filha da simpática e rechonchuda senhora aparecesse. As febres da adolescência ainda estavam distantes, mas já pressentia naquela presença fresca um esboço das paixões que haveriam de sacudir o meu corpo adulto.

Inevitável também as visita ao senhor Isidro, "o bananeiro", comprar fruta, e ao depósito de pão da D. Marília para ir buscar a meia dúzia de papo-secos do costume, já para não falar nos deliciosos suspiros que se desfaziam na boca e ajudaram a uma infância e adolescência, bem,...robusta.

Foi também à porta da D. Marília que me ensinaste, à força do único estalo que me lembro, em 31 anos, ter recebido da tua mão (e se os merecia). Em causa estava um boneco do Super-Homem com pára-quedas. Foi a primeira e última birra de que me lembro.

Nunca me deste o tal boneco com pára-quedas, mas salvaste-me de cair muitas vezes. Foi a tua paciência e o teu carinho que me ensinou a amar as letras. Era um prazer ouvir-te ler-me as histórias do clube do rato Mickey que chegavam mensalmente pelo correio. Anos mais tarde, foste tu que me compraste o "Evangelho Segundo Jesus Cristo", o meu primeiro livro de adulto, longe dos clássicos de aventuras do Tom Sawyer, dos Três Mosqueteiros, ou do universo de Júlio Verne.

Lembro-me de, durante uma dessas digressões de compras quotidianas, me ter perdido de ti. Assustei-me e fui à tua procura. A primeira coisa que vi foram os teus caracóis prateados, sempre compostos e bem juntos num penteado disciplinado, como tu. A figura austera, sempre vestida de preto, num luto eterno pelo avô que não cheguei a conhecer, tinha guardada dentro dela um coração que amava o netinho como um filho nascido fora de tempo. Talvez por isso, às vezes dava comigo a chamar-te "mãe". Dizia que era engano, mas, se calhar, não.
Deus, o alívio que foi ver os teus caracóis de prata.

É essa a imagem que quero guardar de ti. Não quero sequer recordar muitas vezes a última vez que os nossos olhos se cruzaram, quando estavas já semi-paralisada e era eu a dar-te o comer à boca, devolvendo um gesto muitas vezes repetido no passado, quando o Carlos Mariano era apenas uma bola rechonchuda no teu colo; uma promessa de gente. Uma promessa que tenho medo de não ter cumprido como desejarias.

Não sabia que era o Adeus, avó, não sabia.

Mas foi. Perdoa mas não consigo ir ao hospital. Não consigo ir ver a tua casca, ali deitada na maca, suportada por máquinas e alimentada por tubos. Os médicos dizem que o AVC foi forte de mais, que o cérebro está morto e é só o coração que teimosamente resiste. Mas sempre fomos assim, né, querida? Dois corações teimosos que não sabem desistir.

Mas podes descansar, podes ir, o meu baterá por ti...mãe.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

memória curta

Portugal é um país cheio de qualidades mas com um grande defeito: os portugueses.
Só assim se explica que 10 anos depois, o mesmo povo desmemoriado volte a eleger quem lhe fez tanto mal. É o grande amor que temos pelos ditadores. O povo português está cheio de saudades do Salazar e como o botas já a bateu, elegem o seu clone algarvio.

Eu por mim, apetece-me emigar para um país mais civilizado. Talvez o Burkina Faso.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Aos novos velhos amigos

Não queria começar este "post" com um lugar comum, mas, às vezes, é impossível evitar por isso, lá vai: A vida é uma montanha russa.

O ano de 2005 foi um ano especial porque (re)reencontrei (e não, não é erro, ela percebe), alguém que em tempos me marcou de forma muito significativa.

O reencontro foi atribulado, afinal, foram 15 anos e quando ela desapareceu do meu mapa (literalmente, pois sei agora que a moça esteve na Escócia, imagine-se), era pouco mais que uma criança com muita coisa para resolver e muito para crescer. Felizmente, o (re)reencontro foi mais suave. Ok, também teve algumas particularidades estranhas, mas também este ponto terá de ficar para uma qualquer biografia não autorizada :)

O certo é que hoje creio que posso dizer com alguma segurança que agora que os nossos caminhos se voltaram a cruzar, nunca mais vou permitir que ela desapareça assim do meu mapa. Até porque o meu mapa, assim como eu, cresceu significativamente.

Outra pessoa que reentrou no meu quotidiano também é um (re)reencontro. Este camarada, cúmplice, sacana, salafrário, judeu, amigo, irmão, também resolveu sair do meu mapa geográfico e foi para, imagine-se, Cabo Verde, mais precisamente para a ilha do Sal.

O reencontro foi inesquecível. Estava este vosso amigo em "stress" a tentar convencer um recepcionista de hotel a deixar-me usar a linha de fax para enviar um serviço, quando percebi uma figura sinistra que estava refastelada num sofá do "lobby". E só me apercebi da sua presença quando a dita personagem se levantou e se dirigiu para mium com um ar esgazeado. Não distingui imediatamente a sua identidade por tão improvável que seria a coincidência. Improvável mas possível. Era o dito salafrário! Abraços para aqui e gargalhadas para acolá, muitas perguntas depois percebi que o bandido estava a trabalhar em Cabo Verde, numa empresa de aluguer de automóveis. Perfeitamente instalado e adaptado.

Trocámos endereços de e-mail e a coisa ficou por aí. Só que há dois dias por outra coincidência recebi um e-mail do meu amigo. Está vivo, de boa saúde e respeitavelmente instalado, ainda, no Sal. Diz que só vem a Portugal entre Maio e Outubro, que o resto do ano na pátria lhe parece a Sibéria. De resto, continua o mesmo.

15 anos. 15 anos não são nada.

Com tudo isto, há uma frase que me martela insistentemente na cabeça: Afinal, há coisas que nunca mudam. Mesmo.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Ano Novo

Mastigadas as passas, emborcado o champanhe, vieram os abraços e os beijos. Acabou 2005, vem aí 2006.

Sensação estranha esta, a de parar para pensar. Estes truques do calendário fazem-nos cair na tentação de traçar objectivos e balanços. Como foi o ano que passou, o que esperamos para o ano que acaba de nascer.

Para 2006, apenas a certeza de que terei de ser operado. Nada de grave, mas muito chato. Sobre 2005, muita coisa. É normal ter mais a dizer sobre o passado do que sobre o futuro, é por isso que os velhos têm sempre muitas histórias.

2005 foi um ano muito bom: o primeiro ano de independência na minha casa; um ano de sucesso profissional, em que vi crescer um projecto editorial de grande pujança e que tenho o orgulho de integrar; um ano cheio de amor e amizade, em que reencontrei velhos amigos, em que conheci outros, em que percebi que outros ainda não o eram e que não merecia a pena lutar por quem não se mexe por nós; um ano de boas e más notícias; o ano em que comecei a entrever um bem-estar que há muito procuro.

Para 2006, bem, vou ser operado. Já sei que estou a ser chato e irritantemente medricas mas o que é que querem? É a única certeza para 2006 e, isso sim, é irritante.