terça-feira, fevereiro 20, 2007

De volta ao templo


A dor. A satisfação. No célebre documentário de culto "pumping iron", Arnold Schwarzenegger fala da sensação da "pump", que é como quem diz, aquela sensação que se tem depois de algumas séries com pesos. O músculo fica irrigado de sangue, congestionado. No fundo, tata-se de solicitar as fibras musculares de forma sucessiva danificando-as, obrigando o músculo a renovar-se, tornando-o mais forte, mais espesso, com mais fibras, para a próxima vez estar mais preparado para o esforço. A chamada "memória muscular".




Bonito não é? Mas dói. E por isso ainda é mais bonito. Eu explico:




Lembro-me da primeira vez que entrei num ginásio de musculação, daqueles "hardcore", em que se prepara malta para competições de culturismo. Nada destes "health clubs" da moda. Digamos que o tempo que lá passei foi extremamente útil para quando tenho de escrever sobre casos de "doping"...



O primeiro teino teve a sua piada. Já tinha experimentado fazer uns pesos há uns anos, mas nada sério e entretanto já tinha uma experiência interessante em kickboxing. Pensava que isso de "puxar ferro" era coisa para meninos, nada que acrescentasse ao meu título de vice-campeão nacional. Então, atirei-me com toda a gana e acompanhado por um maluco do ferro fiz um esquema pouco aconselhado para o meu corpo de corredor de fundo. Acabei o treino, cambaleei para o balneário e vomitei. Pois é...ganhei outro respeito à coisa. E os 69 kg e meio do kickboxer subiram para 82...


Já foram uns anitos e o vício do ginásio ficou comigo. Um vício que levei a limites pouco razoáveis antes de o incorporar mais pacificamente na minha rotina. Hoje, em vez do ritual de auto-massacre de outros tempos é mais como uma ida ao templo: revigorante. Mas nada de auto-complacente. Ainda gosto de sentir os músculos a arder.


E como ardem. Depois de três meses de interregno escolhi uma má semana para voltar. Na minha secção de 7 pessoas, uma está de férias, outra de baixa e eu...de rastos. Ando a fazer 12 horas por dia e a encaixar, teimosamente, uma hora de ginásio todos os dias (ter ginásio no condomínio facilita), normalmente às 11 da noite ou às 10 da manhã. O pior é andar a coxear como um velhinho cheio de dores nas pernas, suportar os socos amigáveis dos colegas nos braços ou as igualmente fraternas pancadas nas costas. Porra, como dói!


Enfim, é o regresso ao templo meus amigos. É que como naqueles tempos de estreia, não sei fazer nada, mas mesmo nada, a brincar.


Portanto, se me encontrarem na rua, podem cumprimentar-me, mas com cuidado...ouch!