quarta-feira, agosto 04, 2004

Um alegre funeral

Após anos de tentativas falhadas, chegou a hora do funeral. Finalmente vou matar o Carlos. Aquele que durante quase trinta anos deambulou nas trincheiras de uma existência mal vivida vai morrer. Há anos que tento, mas faltava-me a bala de prata, a estaca, o interruptor. Mas agora, quando pousei o corpo de Carlos na nova cama de Carlos, na nova casa de Carlos, percebi que já tenho a arma na mão e basta apertar o gatilho.

Assim, quando chegar a primeira noite, um Carlos vai-se deitar e um outro Carlos se levantará. Será, como diz a letra de Sérgio Godinho, "o primeiro dia do resto da tua vida". Vai ser muito duro matar Carlos, afinal são já quase três décadas de um matrimónio forçado, mas o mais difícil será viver sem desculpas.

Carlos sem Carlos terá de começar do zero. Chegou a hora de reinventar Carlos. Que a nova criança seja feliz.