quarta-feira, julho 14, 2004

Revolução já!

Adiei pronunciar-me sobre este facto para não pejar este espaço nobre com vernáculo do pior. E embora ainda não saiba bem como o fazer, vou tentar:

Como disse em tempos o imortal e rotundo João Pinto (o primeiro, o "bilhas"), estávamos à beira do abismo e demos o passo em frente. Eu gosto de Jorge Sampaio; do estilo britânico, dos discursos em português algo esquecido e, sobretudo, da emotividade e até da lágrima fácil que nos une no solidário clube daqueles que trazem sempre o coração demasiadamente perto da boca. Até hoje só havia uma mancha no pano imaculadamente limpo da minha admiração pelo nosso ilustre presidente da República: uma tomada de partido pelo "relativismo cultural" que protege a excepção legal aos touros de morte de Barrancos. "Relativismo cultural" que, recorde-se, é o argumento utilizado pelos governo da República da China para justificar a tortura, a pena de morte, etc.

Mas agora o tal pano quase limpo foi mergulhado na lama e no esterco mais sujo e mal-cheiroso. Jorge Sampaio traiu a democracia, o seu cargo e todos os valores do pós-25 de Abril, os mesmos que, ironicamente, defendeu na sua juventude. Parece que se comprova a tese que na juventude defendem-se princípios e na velhice os fins.

E é mesmo o fim. O presidente da República é escolhido por todos os portugueses, consoante o espírito e a letra da Constituição. Ora, a decisão que Jorge Sampaio tomou face à fuga de Durão Barroso para debaixo das quentes penas da galinha-Europa foi vergonhosa e apenas defendeu alguns portugueses, os donos dos grupos económicos que nos sugam o sangue ea juventude a todos nós.

Basta ver a pressão que o presidente e maior accionista do grupo Cofina, Paulo Fernandes, exercia em declarações ao Correio da Manhã, pronunciando-se contra a dissolução da Assembleia da República e convocatória de novas eleições. Ora, para quem não sabe, a Cofina é o grupo proprietário do...Correio da Manhã.

Jorge fez-lhes a vontade, deu o flanco em prol da "estabilidade económica". Mas agora pergunto: que estabilidade vamos ter com Pedro Santana Lopes e Paulo Portas a mandar no país? Começamos bem com a proposta peregrina de "descentralizar" a administração pública e dos ministérios. Mas é só o princípio.

Quanto a mim, parece-me que voltámos atrás no tempo, ao 24 de Abril. E, sinceramente, apetece emigrar.