quarta-feira, dezembro 20, 2006

O Natal do saxofone

Porra! Estou farto! Desculpem o desabafo mas estou realmente farto do Natal. Tenho saudades do tempo em que isto me dizia qualquer coisa, mas a verdade é que quanto mais velho fico mais dificuldades tenho em sentir o "espírito natalício". Aquele sentimento morno que nascia na barriga e se espalhava pelo corpo todo, aquele sorriso parvo que se fazia por tudo e por nada. Parece amor, não é? A verdade é que era, pelo Mundo todo. Porque te sentias amado. Porque sabias que tinhas pessoas que, acontecesse o que acontecesse, nunca te desiludiriam.

Pois, como as coisas mudam. Dizem que um tipo nunca deve perder a capacidade de se surpreender. Pois, acho que ainda mantenho essa, já não tenho é a capacidade de me desiludir.

O Natal é a festa da família. Já praticamente não tenho família. Ok, tenho a minha mãe. O problema é que ela também está um pouco morta.

O Natal é a festa da família. Para mim já não é nada.

Este ano tentei, juro que tentei: este ano, pela primeira vez desde a morte do meu irmão, há sete anos, comprei uma árvore enorme, atirei-me às prateleiras das grandes superfícies comerciais a comprar enfeites e estive até às três da manhã a decorá-la. Ficou bonita mas não se pode enganar o espírito de Natal, não se pode comprá-lo.

Na verdade, todos os dias tenho assistido a procissões na Segunda Circular a caminho do Colombo a tentar comprar o espírito de Natal. Em tantos anos nunca vi uma voragem consumista tão grande, tanta gente embrenhada nas compras. Querem-nos vender o Natal e nós compramos, satisfeitos.

Só que amigos, não é assim tão fácil. Pois não. Ontem um amigo deu-me um CD do Miles Davis. Uma prenda desastrada entre dois tipos que não estão habituados a ter esse tipo de gesto entre si. E tão desastrada foi que o CD ainda trazia o preço: 11 euros.

Foi o momento mais próximo que tive de Natal nos últimos anos. Afinal, pensando bem, talvez até se possa comprar o espírito de Natal, não com 11 euros, mas com sorriso envergonhado e um gesto desastrado.

Obrigado, amigo. Talvez ainda haja esperança para mim.

Feliz Natal (ao som de Miles Davis)

3 comentários:

Rita Delille disse...

[Não tens de te obrigar a gostar do Natal, nem a sentir o que seria suposto sentires...] - O natal é sempre muito melhor quando eramos crianças, tudo - regra geral - era melhor aí.

beijitos e Boa liberdade para te sentires feliz por não teres espírito natalício

Anónimo disse...

Não sei seu serve de consolo mas penso que a maioria das pessoas se sente como tu. O Natal já não é o que era. Devemos apenas alimentar o espirito natalício pelas crianças pois elas, tal como nós um dia, acreditam que o Natal é a melhor época do ano.

Não te posso comprar o espirito natalício, mas posso desejar um Feliz Natal.

Meggy disse...

Eu gosto tanto do Natal que não só não enfeitei a árvore, (o tal simbolo do Natal),como tão pouco a comprei. Já alguma vez viste uma árvore a nascer numa sala? Belém nem sequer tem desta espécie de pinheiros. :) Ok, fico-me por aqui. Sou do contra, eu sei. Mas gosto.