terça-feira, agosto 03, 2004

Farto!!!

Como costuma dizer um caro amigo, "Estou que nem posso!" Está um calor impressionante, tenho uma porcaria de um texto de 2 mil caracteres para esgalhar, e não tenho qualquer paciência para sequer começar. Não consigo arranjar uma forma de entrar no tema; para todos os efeitos, estou a sofrer de impotência literária. Eu não sirvoi para isto. Não sou uma máquina que debita um texto quando é preciso. "I'm not a number, I'm a man!!"

Uma outra amiga dizia-me em tempos que não me via como jornalista, precisamente, porque não me via capaz de escrever a metro e a toque de caixa. Raios parta se ela não tinha razão!

Mas como ainda não tenho um dedo mínimo de escritor tenho que me prostituir assim.

sábado, julho 31, 2004

Mortos que andam

Não, isto não é o argumento para um filme de terror série B, só que não sei como descrever aquelas pessoas que vemos todos os dias passearem-se pelas ruas e pelos corredores das empresas, nas filas do banco, nos "guichets" das repartições públicas, e em todos os becos mais escuros da nossa existência.
Algumas trazem pastas de plástico a imitar cabedal, sorrisos de plástico a imitar vida.
Sabem, afinal enganei-me, isto é mesmo o argumento para um filme de terror. Tenho medo do silêncio que escorre de dentro do espaço vazio das palavras que sopram as bocas vazias de beijos e cheias de dentes. Tenho medo dos seus apertos de mão flácidos e dos olhares interessados que passam directo por aquele espaço ainda sem nome entre o meu ombro e a minha orelha. Tenho medo da sua política de direita, a intelectualidade de esquerda, e a moral indecisa de "zigue-zague". Tenho medo dos seus parceiros "Ken" e as suas parceiras "Barbie" e das suas crias rebentos de carne-plástico.

É aquela estranha sensação de ser a única mente sã dentro de um manicómio ou uma ovelha extraterrestre de visita a um matadouro. Olho para as filas das minhas irmãs imaculadamente brancas à espera de depositar a cabeça no cepo e o sangue na tina. Confrontado com este estranho cenário, sacudo a minha lã irrepreensivelmente negra e viro costas, afastando-me cada vez mais dos balidos tristes do rebanho.

Um conselho às restantes ovelhas: sejam lobos.

quarta-feira, julho 28, 2004

Contra-relógio

Parto para Esposende para fazer uma reportagem com a selecção nacional de voleibol. É sempre bom reencontrar um excelente grupo de atletas no qual tenho a honra de ter também alguns amigos.
Mesmo assim, e apesar de ser (quase) sempre um prazer ir em reportagem, desta vez sou obrigado a fazer um autêntico contra-relógio. Explico: A reportagem é amanhã, quinta-feira, e tenho de estar de volta na manhã de sexta, mais precisamente na minha casa, na Quinta da Piedade (bonito nome não?) para acompanhar uns senhores que lá vão depositar mobília. Esperemos que não seja preciso entrar em excessos de velocidade...

Não queria morrer sem ver os primeiros passos daquilo que vai ser o meu lar.

terça-feira, julho 27, 2004

Saber viver

"Quando um homem sonha, o mundo pula e avança", escreveu um dia o poeta António Gedeão. Não é bem assim, pois o Mundo pula e avança quer sonhemos ou não. O que acontece é que as mudanças às vezes nos apanham a sonhar ou pura e simplesmente a dormir.
Vem isto a propósito da discussão entre dois velhos amigos, divididos entre dois lados de uma barricada que não é mais que a própria vida.
Não sou professor de ninguém , mas considero-me um bom aluno. E uma das razões que me fez bom aluno foi a capacidade de ouvir. Não trabalhava muito, mas ouvia. E sem ser professor, gostaria de dar um conselho: ouçam.

E ouçam a vida e um ao outro. A vida porque mudou. E um ao outro porque há sempre razões que a razão desconhece e a primeira luz surgiu quando alguém se lembrou de bater uma pedra na outra.

Mas, enfim, apenas um desabafo. Porque apesar de a vida me ter afastado qualquer coisa de um e muitíssimo do outro, creio que no meio da torrente heraclitiana que é a vida, em que coisa alguma é a mesma e na qual nunca há regressos, gosto de pensar que há uma ou outra coisa que, sendo mutáveis na forma, devem permanecer a mesma no conteúdo.  

Como eu. Como todos nós. Os anos passaram e mudámos todos; para o bem e para o mal. Mas sem sermos os mesmos, no fundo, ainda o somos.

 

quinta-feira, julho 22, 2004

Ah pois é...

Não gosto de dizer "I told you so..." mas aqui vai na mesma: "100 milhões de euros de dívida aos fornecedores da CMLisboa" noticiava há dias o Público. Não quis escrever nada contra o senhor Santana Lopes porque já adivinhava que alguma coisa se iria passar nos dias mais próximos. Ah pois é...a senhora secretária de Estado da Defesa, que já foi da Segurança Social e, afinal, surpresa das surpresas, é agora do Espectáculo e das Artes. Paulo Portas, surpreendido com a troca de última hora, diz que a senhora Teresa Caeiro é muito competente, "perguntem ao Bagão Félix". Que é gira é, agora competente (?)...sempre ouvi dizer que não há quem toque bem tantos instrumentos. Se eu quisesse ajavardar (longe de mim!!!), dizia que com uma boca tão bonita podia concentrar-se  mais em instrumentos de sopro.

terça-feira, julho 20, 2004

Vergonha

Acabei de ler uma entrevista que me deixou genuinamente nauseado. Uma entrevista que foi à prensa pela revista FOCUS e na qual dão direito de antena ao meu caro amigo e antigo colega Freddy Vinagre e a um tal de Mário São Vicente. 
O objectivo da entrevista é ouvir dois profissionais de publicações ligadas à análise dos media, a "Meios e Publicidade" e a "Briefing", sobre o panorama do jornalismo português.  
 
Para já, penso que a escolha dos entrevistados foi um pouco pobre, afinal falaram com dois jovens profissionais sem nome na praça e com relativa pouca experiência para se pronunciarem sobre toda uma realidade complexa, o que faz a coisa resvalar para algo pouco mais relevante que uma conversa de café. Ou seja, se eu quiser falar sobre o futebol português não vou entrevistar o Carlos Mariano ou outro repórter qualquer, mas um director de um jornal desportivo de referência.
 
Neste caso, e porque falamos de jornais e revistas, porque não entrevistar o responsável governativo por essa pasta, ou um painel de directores de jornais e revistas, ou alguns empresários do sector. Ou até todos estes. Estamos a falar de uma reportagem mais vasta e não de dois pares de páginas com dois gajos porreiros que a gente até conhece dos tempos de faculdade.
 
Enfim, mas um caso não são casos, e não vou entrar em críticas canibalísticas, sob pena de estar a incorrer no mesmo erro que o senhor entrevistado Mário São Vicente. É que no meio dos muitos disparates proferidos pelo senhor no dito trabalho, houve um trecho que me fez entrar em parafuso: "O grande problema do jornalismo em Portugal são os jornalistas: têm baixa produtividade, são preguiçosos. As redacções são verdadeiros antros de jornalistas incompetentes que ocupam os seus lugares graças a uma rede de contactos."
 
Quando leio isto, ocorre-me uma frase muito acertada: "As generalizações são mentirosas". Ora este senhor está a generalizar e corre o risco de estar, pura e simplesmente, a mentir. É claro que o que ele diz é parcialmente verdade, também há maus profissionais, mas se vamos rotular toda uma classe, então sinto-me ofendido no meu brio profissional.
 
Então e os muitos escribas trabalhadores e dedicados, com qualidade, sub-valorizados e mal pagos, vítimas de alguns empresários que os senhores entrevistados tanto elogiam.
 
E depois lembrei-me: então o senhor Mário São Vicente não é jornalista? Não deve ser. Ou é um tipo muito frustrado que não sabe ou não pode ser mais nada.
 
Enfim, haja paciência para tanta mediocridade.
 
PS: Freddy Vinagre, um dos entrevistados, é meu amigo. Mas não é por isso que não deixo de o criticar. Mas apesar de ter caído no erro de vaidade de falar de algo sobre o qual, repito, não pode emitir mais que uma opinião válida para uma conversa de café, não diz os disparates que o outro otário diz. Enfim, jornalisticamente falando, e a minha opinião vale o que vale, a entrevista da FOCUS é (e perdoem-me o vernáculo), uma cagada.     

quinta-feira, julho 15, 2004

Até já

Amigos, peço desculpa por um pequeníssimo interregno mas vou fazer uma pequena incursão à serra de Bornes. Voltamos a falar no sábado. É só trabalho.

quarta-feira, julho 14, 2004

Revolução já!

Adiei pronunciar-me sobre este facto para não pejar este espaço nobre com vernáculo do pior. E embora ainda não saiba bem como o fazer, vou tentar:

Como disse em tempos o imortal e rotundo João Pinto (o primeiro, o "bilhas"), estávamos à beira do abismo e demos o passo em frente. Eu gosto de Jorge Sampaio; do estilo britânico, dos discursos em português algo esquecido e, sobretudo, da emotividade e até da lágrima fácil que nos une no solidário clube daqueles que trazem sempre o coração demasiadamente perto da boca. Até hoje só havia uma mancha no pano imaculadamente limpo da minha admiração pelo nosso ilustre presidente da República: uma tomada de partido pelo "relativismo cultural" que protege a excepção legal aos touros de morte de Barrancos. "Relativismo cultural" que, recorde-se, é o argumento utilizado pelos governo da República da China para justificar a tortura, a pena de morte, etc.

Mas agora o tal pano quase limpo foi mergulhado na lama e no esterco mais sujo e mal-cheiroso. Jorge Sampaio traiu a democracia, o seu cargo e todos os valores do pós-25 de Abril, os mesmos que, ironicamente, defendeu na sua juventude. Parece que se comprova a tese que na juventude defendem-se princípios e na velhice os fins.

E é mesmo o fim. O presidente da República é escolhido por todos os portugueses, consoante o espírito e a letra da Constituição. Ora, a decisão que Jorge Sampaio tomou face à fuga de Durão Barroso para debaixo das quentes penas da galinha-Europa foi vergonhosa e apenas defendeu alguns portugueses, os donos dos grupos económicos que nos sugam o sangue ea juventude a todos nós.

Basta ver a pressão que o presidente e maior accionista do grupo Cofina, Paulo Fernandes, exercia em declarações ao Correio da Manhã, pronunciando-se contra a dissolução da Assembleia da República e convocatória de novas eleições. Ora, para quem não sabe, a Cofina é o grupo proprietário do...Correio da Manhã.

Jorge fez-lhes a vontade, deu o flanco em prol da "estabilidade económica". Mas agora pergunto: que estabilidade vamos ter com Pedro Santana Lopes e Paulo Portas a mandar no país? Começamos bem com a proposta peregrina de "descentralizar" a administração pública e dos ministérios. Mas é só o princípio.

Quanto a mim, parece-me que voltámos atrás no tempo, ao 24 de Abril. E, sinceramente, apetece emigrar.





terça-feira, julho 13, 2004

Frenesim mobiliário

Quero pedir desculpas antecipadamente pelo meu comportamento do próximo par de meses,pois entrei em frenesim mobiliário. Passo a explicar: estou a uma semana e tal (espero) da assinatura da escritura da minha barraca e agora só penso em maneiras de a encher de tralha. Ele é camas, ele é sofás, cadeiras, tapetes, copos, talheres, mesas, mesas de cozinha...Meu Deus, estou a dar em doido! (ar ensandecido, rasgando a roupa e dando saltos em cima das mesas da redacção)

Ok..humpf...desculpem. Bem, a verdade é que o meu lado de gaija está a latejar. Perdi dias à procura de uma cama, delicio-me a ver lojas de mobiliário e decoração e até já fui ao Ikea, imaginem. Não sei onde isto irá parar.

Por isso, já sabem: se por acaso vos convidar para ir ver uns móveis, fujam. É um conselho de amigo.

PS: Halo quê, miúda? Desculpe, senhora miúda.

sexta-feira, julho 09, 2004

Advogado do diabo

Há muita coisa que não percebo. Porque é que, por exemplo, passo tanto tempo a fazer de advogado do diabo; porque é que estou sempre a defender aqueles em que o povo adora bater. Talvez porque tantas vezes é o meu rabo que está sentado na cadeira dos réus... Enfim, alguns amigos acusam-me de estar a concentrar-me nos alvos errados. Talvez. ´Não escolhi levar a vida que levo, mas escolhi vivê-la a fundo. Não escolhi perder o contacto com pessoas por quem nutro a mais profunda afeição, o que é certo é que algumas simplesmente também parecem ter escolhido ir para águas menos profundas. É a minha deriva que as afasta ou é a deriva dos (in)continentes? Não sei. Mas também não sei tanta coisa.
Vozes especializadas dizem que optei por uma existência demasiado centrada em mim mesmo, que "tenho um medo dos afectos que até faz impressão". Talvez, não nego. Mas, lá está, foi uma escolha que algumas pessoas fizeram por mim. Pessoas que, curiosamente, também levam uma vida centradas nelas mesmas. Mas nisso ninguém repara. Pois, o diabo mais vermelho é que é o verdadeiro diabo.

Exmo. sr. dr. Juíz, "I rest my case"

get it... "Anonymous"

PS: Ah...e Su, ensina a Anocas a assinar os comentários, por favor

quarta-feira, julho 07, 2004

Estou vivo

Em 15 dias, voei de ultraleve sobre as lezírias ribatejanas, flutuei de paraquedas sobre o mediterrâneo grego e desci cascatas em "rappel" no rio Teixeira. Falta um mês e mais qualquer coisa para completar 30 anos e nunca me senti tão vivo. A 28 de Agosto de 1999 fiz uma promessa: ia começar a viver, viver mais, desse por onde desse. A dor abriu em mim uma incomensurável fome de vida que quase me ia destruindo. Não se pode saciar certas fomes quando ao mesmo tempo damos socos para partir os próprios dentes.
Passou a fase da confusão, chegou novamente a altura de morder, devorar.

Faltam mais 15 dias para um novo começo

quarta-feira, junho 30, 2004

Laranjada

Ok, estou de volta. Agora vamos lá espremer essas laranjas!

sexta-feira, junho 25, 2004

Sem palavras

Estou triste. Pesaroso por não ter palavras para poder narrar toda a bela história que vi ontem ser contada pelos homens de vermelho e verde vestidos. E até por aquele de cinzento que trazia o sangue mais vermelho e a esperança mais verde. Foste grande, Ricardo.

Mas pronto, chega de falar de futebol. Neste momento, estou a fazer os preparativos para ir passar dois dias a Corfu. Enfim, é mais ou menos trabalho, mas coisa ligeira. Regresso no dia de Portugal, dia 30 de Junho, em que, mais uma vez, os nossos rapazes levarão mais longe o nome de Portugal.

PS: para as vozes sem nome, eu só escondo o meu quando o meu interlocutor me conhece até à medula e sabe bem com quem fala, olhos nos olhos. Por isso, para os anónimos inomináveis, um recado: eu confio em mim, porque pelo menos eu assumo as minhas decisões e sigo-as até me provarem enganado. Esta é uma excepção, a próxima vez que quiserem uma resposta identifiquem-se, porque eu gosto que se dê os nomes aos bois.

quinta-feira, junho 24, 2004

De mãos limpas!

Para todos os que massacraram esse grande benfiquista chamado Ricardo, apenas uma questão: Vitor quê?

E chega

Só uma breve declaração: Vamos ganhar!

sábado, junho 19, 2004

Remember Aljubarrota

Amigos, está a chegar a hora em que esta malfadada "geração de ouro" do futebol português (os pernas-de-pau do Mundial de 66 não interessam para nada, pois não?) vai encontrar o seu destino.
É uma hora de desígnios nacionais. Foi a pensar neste momento que D. Afonso Henriques bateu na mãe e que o Conde de Andeiro foi pontapeado pela janela fora. Amigos, egrégios avós, poetas, marinheiros...compatriotas, estão a tocar os sinos a repique e o clarim de guerra chama-nos para o campo. Qual Europa qual carapuça! Vamos fazer "nuestros hermanos" engolir caramelos!

Ah, e Luís, só aqui entre nós, faz de conta que és português do Laranjeiro e não madridista dos sete costados e vê lá se marcas um golito. É que já não me lembro de te ver jogar à bola como jogavas antigamente. É que eu vejo poucos jogos do Real, sabes?

E quanto ao resto do Europeu, quero lá saber, eu quero é ganhar este jogo,carago! (translation: carago -- mithical war cry normaly used by the northern portuguese tribes and with reasonable success)

Remember Aljubarrota! Viva Portugal!

quarta-feira, junho 16, 2004

Descobrimentos

A poucas horas do encontro com a Rússia (que por acaso, até acho que vamos ganhar), importa aqui fazer uma reflexão. Assisti com algum pasmo à proliferação de bandeiras e bandeirinhas verde-rubras por todo o lado. É curioso este povo português que há 500 anos vive à sombra dos feitos de meia-dúzia de grandes heróis. Ok, fomos os maiores...há meio-milénio, ok?! Não vemos os Estados Unidos puxar sistematicamente pela chegada à Lua, pois não? E estamos a falar de um país com pouco mais de dois séculos de história, ao passo que Portugal tem oitocentos anos de herança às costas. É bom o amor pela pátria, mas o amor reflectido, diário, traduzido em actos, em produtividade.
A nossa selecção nacional de futebol é um bom exemplo de portugalidade, de um país que perdeu duas oportunidades históricas de ser realmente europeu: o plano Marshall, uma mão estendida dos vencedores da II Guerra Mundial e que o nosso querido Oliveira Salazar preferiu rejeitar; e os fundos estruturais da União Europeia que o outro querido Cavaco não soube administrar.
Louve-se a paixão deste povo pelos ditadores. É normal, ou não fosse este um país sem pai, fundado por um rei que celebrou a sua fundação batendo na mãe. Mas isso Freud explica.

Eu amo este país. Amo Portugal como um homem que vê o país refém de uma montanha de problemas e que a quer desfazer. Todos os dias agarro na picareta e tento desbastar o enorme rochedo, cuspindo nos capatazes que se intitulam nossos governantes e esperando, ingenuamente, não estar sozinho na luta. O problema é que há uns dias parei, levantei a cabeça enquanto limpava o suor da testa, e constatei que ao meu lado, em vez de picaretas, o povo empunhava bandeiras. É bonito,mas mesmo que a nossa selecção de futebol chegue à final,(e porra! é só futebol!)o que farão às bandeiras no dia 5?

sábado, junho 12, 2004

E quando a bola rola

Falta pouco mais de meia-hora para o pontapé de saída do Portugal-Grécia, o jogo de arranque do Euro'2004. Há algum tempo que cultivo um certo desprezo pelo que é "popular". Desconfio sempre daquilo de que toda a gente gosta. Como diz o poema, às vezes ir pelo caminho menos frequentado faz toda a diferença. E há um grande perigo na embriaguez das multidões, no esquecimento do indivíduo varrido pela irresistível maré das massas. E lá vão as crises, lá vai a escassez, lá vai o desemprego, as contas por pagar, o ordenado que não estica e a pobreza que espreita. Lá vai o défice democrático, o crime que aumenta, a confusão que grassa. É o apelo do circo, sempre mais forte quando rareia o pão.

É perigoso esquecer. Mas vou abrir uma excepção. E quando o Pauleta marcar o primeiro golo vou festejar. Porque às vezes sabe bem embriagarmo-nos de esperança...90 minutos de cada vez.

quarta-feira, junho 09, 2004

Er(r)os

Errar é humano, diz-se por aí. Quanto a mim costumo dizer é que se este axioma for verdadeiro, então não há gajo mais humano que eu. Tenho uma amiga que diz que eu gosto de me colocar na linha do comboio, vejo-o chegar e, mesmo assim, sou incapaz de dar o passo ao lado que me salvaria.
Recentemete tentei salvar-me. Ou melhor, redimir-me. Ou melhor ainda, redimir a parte do erro que me cabia. Não foi dos maiores que já cometi, tanto que ainda hoje penso se o que cometi foi mesmo um erro. O que é certo é que já passou tempo de mais e o mundo mudou tanto desde que certas palavras (não) foram ditas...
Mas como estava a dizer, tentei a redenção: voltei a falar (comunicar é mais exacto) com alguém de quem gosto e respeito. Alguém que mudou muito mas que, acredito, mantém o essencial.

Assim, como prova de amizade, isto é para ti: fôr, compôr, expôr, amôr, estupôr, louvôr, cantôr, furôr, mentôr, sabôr

terça-feira, junho 08, 2004

Lugares comuns e mulheres

Adoro lugares-comuns. Existe uma sabedoria comprovada naquelas expressões nascidas já não se sabe onde mas que à força de repetição parecem pulular por todo o lado até à quase omnipresença. Como jornalista que trabalha num diário desportivo, tropeço em pérolas destas todos os dias pelo que de tanto as repudiar acabei por lhes ganhar um estranho afecto. Mas é uma relação enquinada, um pouco à imagem do que se diz de algumas mulheres: brincamos com elas até se nos colarem. As mulheres são sempre uma boa analogia. Para tudo. Seres tão maravilhosos e complexos que até nos esquecemos que são da mesma espécie biológica. Mas serão mesmo? Quanto mais as conheço mais duvido. Mas no final só dá vontade de fazer rolar outro lugar-comum: não se pode viver com elas mas também não se consegue viver sem elas.
Na minha vida conheci dois grandes ramos dessa fabulosa família de belos mamíferos bípedes tão semelhantes ao homem: as mulheres que nos amam e as que nós amamos. Para mim, a grande diferença entre as duas famílias é o movimento. As primeiras precisaram sempre de uma força externa (eu) que lhes imprima a energia necessária para que saiam da minha vida; as segundas, animadas de uma presença de espírito invulgar vão sempre pelo seu próprio pé, em velocidades variáveis mas com destino inexoravelmente definido e definitivo. Por vezes penso se não será por elas saírem que as amo. O amor pela perda e pelo irreversível é tão lugar-comum e, ao fim ao cabo, tão português.