quinta-feira, janeiro 18, 2007

My name is Tário, O-Tário

Átrio de hotel cinco estrelas. Aproveito o acaso de hoje ter vestido um blazer com etiqueta transalpina e até estar penteado para deslizar discretamente por entre o caldo internacional de um congresso. Inglês, italiano, francês…até algum português. Mas nada de português do Brasil, aquele que procuro.
É nestas alturas que penso o quão ridícula pode ser esta profissão. Procuro um empresário de futebol brasileiro. É tudo o que sei sobre o tipo. Isso e o facto de ele, alegadamente, estar em Portugal para negociar um avançado para o Benfica. Um brasileiro, claro, ou não fosse essa a origem favorita dos reforços de Inverno em Portugal. Bons e baratos. Pois, deve ser. A quimera dourada dos dirigentes lusos. Quase nunca acontece. Quase? Eu deveria saber, ainda há duas semanas escrevi um trabalho em que falava precisamente do mercado de Janeiro em Portugal. Uma merda. Engodo para índios que ainda teimam em acreditar no sucesso da sua equipa.

Mas isso era antigamente, quando eu ainda escrevia coisas interessantes, quando não estava demasiado ocupado a brincar aos agentes secretos. Pois.
Entretanto, já bebi um café, uma água com gás e estou a folhear a carta dos Whiskies. Completamente sóbrio isto é muito mais difícil. E nada de Veiga, nada de Vieira. Nunca se sabe, o próprio presidente poderia dar um ar da sua graça. Mas seria demasiada bandeira.

Único consolo é a presença de dos tipos que presumo jornalistas da concorrência. Apesar de não nos conhecermos, todos estamos mais ou menos conscientes da identidade uns dos outros. E fingimos que não nos apercebemos da presença uns dos outros, que não sabemos exactamente o que estamos ali a fazer.

Nada de empresário. Acho. Podia chocar de frente com o gajo que não o reconheceria. A informação de que disponho é, no mínimo, escassa. “O tipo é brasileiro. Olha, sei lá pergunta na recepção.” Claro. Estou mesmo a ver: “Boa tarde, por acaso os senhores têm cá algum empresário brasileiro hospedado?” O desespero é grande, faço uma tentativa desesperada junto do porteiro: “Boa tarde, combinei aqui um encontro com José Veiga, o do Benfica, sabe quem é, claro. E, por acaso, ele já passou por aqui?...” Hmmm…talvez um Jameson…

Foi mais ou menos nessa altura que saquei do computador e comecei a escrever. Só para manter a cabeça ocupada. Não tenho nenhum jornal aqui e não tenho mais nada para fazer que me ocupe o cérebro.

Finalmente o telefone toca: é o regresso à base. Vem aí mais um dia daqueles.

3 comentários:

Meggy disse...

Já te estou a imaginar com o tal blazer, gabardine por cima, oculos escuros, jornal tamanho xl nas mãos a rondar as esquinas.. qual 007!! Se te apanham levam-te para boliwood e transforma-te numa estrela de cinema.. com o bronze que dizes estar ficavas a matar!! eheheh!!

Firehawk disse...

Percebes agora os meus dramas da caça ao gambuzino marroquino?´Isto de ser reporter tem muito que se lhe diga. Aos chefes só lhes chega dizer, vai lá...nós depois é que fazemos a figurinha parva!

Carlos disse...

Amigo, seria óptimo se fosse esta a primeira experiência destas mas, infelizmente, em oito anos que levo disto...