domingo, novembro 04, 2007

Jornal+ismo, Capital+ismo

Nunca quis discutir trabalho neste espaço. Sempre achei que era preferível guardar temas mais elevados ou mesmo mais limpos que a escravatura do homem pelo homem, termo marxista para o que é mais conhecido nos moldes modernos, e num termo também herdado pelo tio Karl, como Capitalismo (desculpem a asneira).

Capitalismo que, nos dias que correm, rima cada vez mais com jornalismo. Pelo menos com a indústria de produzir conteúdos que é ao que o jornalismo foi reduzido. Ou, como lhe chamo: charcutaria fina.

Exploração. Despedir os que ganham muito, manter os que ganham pouco e trabalham muito. A qualidade do produto é secundário, o que interessa é encher o chouriço (daí a charcutaria).

Recentemente, os administradores do grupo a que o meu jornal pertence -- e a merda começou precisamente com os grupos e para os "lobbies" políticos que legislam por sua encomenda --, vieram explicar que agora vamos ter de produzir conteúdos extra para o "site". E sim, claro, pelo mesmo preço. Um aumento de...contributo. A contrapartida era a formação em programas que se aprendem a dominar num par de horas. Ah...e mantermos os empreegos, o que hoje em dia... Vampiros de merda.

Hoje estive a falar com um empregado da SIC (somos todos operários agora) que explicou que agora trabalham para a SIC, para a SIC Notícias, para a SIC online, e ainda fazem uns "bicos" (a terminologia não é inocente) para o Expresso.

Temos de traçar a linha em algum lado. Infelizmente, como temos um sindicato que não existe, e que boicota sucessivamente a formação de uma Ordem dos jornalistas (perdiam os tachos), acho que a solução que se coloca a quem não está disposto a ser mais vampirizado e rebaixado é sair.

A porta está aberta.

3 comentários:

Rita Delille disse...

que fique bem claro que não me considero jornalista mas, também, que fique bem claro que concordo a cem por cento contigo e mais não digo. Só que saí pela porta precisamente porque a 'acefalia' glorificada não é propriamente a minha praia. Eu que sou tão ingénua, tão ingénua que até pensava que ser jornalista era uma coisa séria.

Mas 'nós por cá não queremos pessoas inteligentes, ou que escrevam bem, queremos pessoas que trabalhem'. Quem diz a verdade não merece castigo? Acho que merece, principalmente quando essa verdade revela um profundo desrespeito pela convicção mais básica e natural de quem estudou jornalismo porque quer, por exemplo, investigar, denunciar, entender...

Detesto este tom desalentado e crítico com que escrevo, mas é a única posição possível. I cant't close my eyes and make it go away.

Os olhos estão abertos.

kiss

Carlos disse...

como já te disse: concordo até à sílaba

Firehawk disse...

Na minha barraca isto que disseste já não é novidade. lamento. Na minha até se faz pior...promove-se o gajpo que nada faz e deita-se foras o que há bom. E quando se protesta... alguém liga a música bem alto e ninguém ouve.