sexta-feira, outubro 24, 2008

Medo






O Inverno chegou. E o Inverno traz as boas ondas. Mas também traz as ondas demasiado grandes. E traz o medo.

Não gosto de me considerar uma pessoa medrosa, mas estou a chegar à conclusão que mais do que medroso, estou a tornar-me um cobarde.

Não tenho medo de estar com a cara a centímetros de uma serpente cuja dentada me pode matar em 2 horas e fotografá-la, mas tenho medo de me meter num avião comercial.

Não tenho medo de nadar no Nilo onde poderão haver crocodilos mas tenho medo de estar no mar com ondas de metrão (o que para o meu nível de experiência já devia ser mais ou menos tranquilo).

Então o que me mete medo? Já tentei descrever várias vezes como é levar com uma onda pesada. Braços e pernas para cada lado, como se fossem saltar fora, cambalhotas, sensação de descontrolo e falta de ar. Consigo nadar cerca de minuto e meio debaixo de água. Não é mau, tendo em conta que nunca treinei natação. E apresenta alguma garantia de sobrevivência já que uma onda de até dois metros obriga-te a estar menos que isso lá em baixo.

O problema é o pânico, o medo irracional e primário que nos rouba o ar num instante.

Sempre pensei que fosse medo de morrer. O acidente do meu irmão acordou-me para a minha mortalidade demasiado cedo. Mas agora começo a pensar que é outra coisa. É medo da falta de controlo. Medo de não dominar uma situação ou de não ter as ferramentas para a controlar.

No mar, tento apetrechar-me com o melhor material possível, sempre à procura da prancha mais indicada, do fato mais quente. Mas como diz o meu amigo e mestre de ondas F, o dinheiro não compra talento, habilidade nem "go for it" que é uma forma sofisticada e surfística de dizer...tomates.

Conheço muito boa gente que só surfa meio-metro e está muito satsifeita com isso. Mas eu quero mais. Quero sempre mais. Ambição desmedida e medo. Como é que convivem?

Mal. E essa é a minha cruz.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cá para mim isto é uma questão de probablidades. Tens mais hipóteses de morrer no mar do que numa viagem de avião ou face a uma serpente que convenhamos não é bicho que se encontre todos os dias. O medo tem a ver com o local onde perdes o controlo e o que pode acontecer se falhares. O mar não perdoa erros. Aquela imensidão e brutalidade que nos fascina pode também ser a nossa perdição. Se isso não é uma boa analogia para a vida não sei o que será. Mas aqui que ninguém nos ouve entendo-te perfeitamente. Foi no mar que vivi momentos serenos e felizes e depois outros aterradore, mas vejo-o como o preço a pagar por gostar tanto de mergulhar nas suas águas.
Live strong!

Paula

Anónimo disse...

Leia-se probabilidades. Maldito teclado!

Paula