Estávamos em 2003. Ia como enviado especial à Jugoslávia para fazer a reportagem da participação do V.Guimarães numa eliminatória da "Top Teams Cup" de voleibol.
O destino era uma pequena localidade a cerca de 10o km de Belgrado chamada Pozarevac. Não sabia nada da terrinha, mas pressenti logo à chegada um ambiente estranho, opressivo. Primeiro pensei que talvez fosse o nevoeiro de tabaco à entrada do pavilhão, mas não, era qualquer coisa mais; o silêncio comprometido, o olhar dos mais velhos, que fixavam os estrangeiros como isso mesmo "estrangeiros". Não conseguíamos esquecer a nossa condição.
A atmosfera lembrava a época áurea do terror em Hollywood. Parecia quase normal que nos aparecesse o Boris Karloff ou o Christopher Lee enfeitados capa negra e caninos postiços.
Havia qualquer coisa. Como uma comichão que incomoda mas que não conseguimos localizar. Até que a peça que faltava no "puzzle" surgiu, da maneira mais prosaica: Uma tarja a anunciar uma festa numa discoteca local. Parecia estranho que houvesse uma discoteca num sítio tão cinzento. E no meio da conversa, a intervenção de um local:
--"É a discoteca do filho do Milosevic."
-- "De quem? Do Slobodan Milosevic?"
-- "Sim, esse mesmo. Nasceu aqui, não sabia?"
-- "Não, não sabia, mas agora faz sentido. Só não sei se foi a terra que transformou o tipo se foi a sina do tipo que marcou a terra."
Pozarevac. Nunca mais esqueci o nome, por muito que tentasse. E agora veio outra vez à baila. Como o local onde um dos demónios da História nasceu e onde será enterrado.
Pois, nunca mais esqueci Pozarevac. Esperemos que o Mundo também não esqueça, e que coloque este nome para aí ao lado de Auschwitz.
quinta-feira, março 16, 2006
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