E que tal se eu largasse este engano que todos os dias me engana? Que tal se me despedisse, largasse tudo, refugiasse num buraco cheio de luz e sal e escrevesse o livro de que estou grávido? Sim, porque estou grávido e ando a matar a minha criança todos os dias. Aos bocadinhos.
É uma criança belíssima de feia e grotesca de bela. É ensurdecedora e silenciosa, ofuscante de escuridão. É sangue e tripas, penas de anjo e bolas de sabão; é lágrimas e saliva misturadas numa taça de vinho amargo de saudade e dulcérrimo de amor.
Quero abrir o peito e deixá-la sair pelas bocas dos meus dedos. Como um coro.
E que tal? Que achas?