Perder. Ora aí está um verbo que todos conhecemos. Uns mais do que outros, mas todos sem excepção. Porque perdemos sempre mais do que ganhamos e porque ganhar implica, a prazo, que vamos perder.
Nos últimos dois dias tenho andado a pensar em perdas. Não só nas minhas, para variar, mas nas de um amigo-irmão.
Colocando a coisa de forma mais factual: o pai desse meu amigo anunciou-lhe que ia vender a casa de férias da família. De facto, não parece uma tragédia, pois não? Pois, mas apenas os míopes e os mancos se ficam pelos factos.
A "casa de férias" a que o meu amigo (que sofre de um infeliz complexo de esquerda anti-materialista, desculpável pois ainda é jovem), se refere de quando em quando como "um luxo" é também o seu assumido refúgio.
Não fica num desses locais de férias balneares da moda. Não, a água é fria, o mar é bravo, o clima ventoso e o local não tem hóteis de luxo e o jet-set anda em barcos de pesca ou pedaços de fibra e esponja em cima das ondas.
Mas é por isso mesmo que é o seu refúgio. Porque é um sítio pequeno encravado num local onde tudo é grande. A começar pelo mar. O mar está em todo o lado. Nas escarpas da terra e da alma das gentes, duras e generosas ao mesmo tempo.
O meu amigo cresceu ali. E ele sabe disso. É ali que respira, que é. Que se permite baixar a guarda e realmente Ser.
E querem tirar-lhe isso. E ele está a sofrer. E apesar disso, às vezes, diz que vai perder "um luxo", e di-lo com o tal complexo esquerdista anti-materialista.
É parvo.
Porque o luxo é viver. Sem luxo, não se vive, sobrevive-se.