Confesso que a primeira vez que vi este anúncio ia tendo um acidente. Não porque tenha ficado encantado com a espampanante loura de bikini que o ilustra mas porque quando percebi do que se tratava, ia tendo uma apoplexia.
Com que então, "eles não gostam de celulite". Mas passou-me, afinal temos que conceder que os homossexuais também têm direito a publicidade específica. Hã, o quê? "Eles" não são homossexuais? Espera lá, agora é que não estou a perceber nada. É que só há uma hipótese de um gajo não deparar, de quando em quando, com um bocadinho de celulite. É só se dar com homens. Porque a biologia explica que a a celulite é uma consequência da existência de progestrona, a hormona responsável pelos caracteres femininos. Ou seja, a congénere da testosterona.
Com isto, diz-se que os seres humanos com maiores quantidades de progestrona têm, inevitavelmen te, celulite. Ou seja, as mulheres. Seja a peixeira do mercado ou a "top model" mais bem paga, todas a têm. Ok, só que umas mais que outras, afinal isso pode ser minimizado.
Com esta pequena explicação superficialmente científica quero dizer que os senhores publicitários que se lembraram de promover assim o tal instituto de beleza, são daquela espécie que dá mau nome à publicidade. Vender sonhos, ok, explorar as inseguranças de um determinado grupo é que é o diabo. E mais ainda quando esse grupo representa cerca de 50% da espécie humana.
"Eles não gostam de celulite"? Então "eles" não gostam de mulheres.
E sabem que mais? Eu não gosto é de estupidez, falsidade, hipocrisia, mentira, superficialidade, mediocridade. E infelizmente, ainda não há institutos nem clínicas para as tratar.
segunda-feira, março 27, 2006
sexta-feira, março 24, 2006
A minha onda
Costumo dizer que a vida é regida por um senso de humor peculiar. Aos 15 anos fui trabalhar para uma fábrica de pão para ganhar uns trocos. Na altura, a minha grande ambição de adolescente era comprar uma prancha de bodyboard para poder rumar aos fins-de-semana até à Costa e apanhar umas ondas.
Entrava às 22h00 e saía às 09h00 da manhã. Era lixado para um puto chegar a casa e encontrar o irmão de pijama, cair na cama, ser acordado para almoçar, voltar a cair na cama e só sair um pouco a seguir ao jantar para poder estar a tempo de "pegar ao serviço".
Pois, numa altura em que o ordenado mínimo nacional era de cerca de 45 contos, mais coisa menos coisa, acabei por ser pago com uns miseráveis 26 contos e quinhentos. Foi a minha primeira experiência com as injustiças do sistema laboral. Afinal, o trabalho infantil tem destas coisas...
Escusado será dizer que nunca consegui o dinheiro suficiente. Mesmo trabalhando sempre até entrar para a faculdade, nunca consegui comprar a tal prancha.
Até que o ano passado, com a minha situação financeira muito diferente do puto que sacrificou os Verões da sua adolescência para perseguir uma onda, entrei numa loja e comprei tudo. Em meia-hora, a caça terminou.
Enfim, aos 30 anos comecei algo que devia ter começado aos 15. Quando se quer muito, a espera é irrelevante. Bem, quase.
Mas isto do bodyboard não é só material. Há que trabalhar para aprender. Há 15 dias, na Costa da Caparica, isso tornou-se dolorosamente evidente.
O mar estava mau; rebentação desordenada perto da praia , ondas decentes só muito longe, bem no "off-shore". Conclusão: uma trabalheira para lá chegar. Uma trabalheira dolorosa se se tiverem conta a temperatura da água. Em termos técnicos diz-se que estava "fria como o c#!@%&!!!).
Mas cheguei. O mar não estava especialmente grande. Cerca de metro e meio, mas com vagas muito cheias; verdadeiros autocarros verdes escuros.
E depois de algumas amostras mais ou menos conseguidas, depois de o meu parceiro de surfada ter apanhado a sua onda (a coisa estava tão má que praticamente só estávamos os dois na água), vi a minha presa. Um bicho! E já numa fase adiantada: ou a apanhava ou ela apanhava-me a mim.
Um duelo desvantajoso entre homem e parede de água. O primeiro golpe foi meu. Remei com raiva e apanhei a bicha. Mas o monstro virou o jogo cujas regras são, em última instância, dele. Fui levantado até ao lábio do monstro, no topo da onda e, num segundo penosamente longo, fitei a sua boca escancarada lá em baixo. Mergulhei.
Fui maltratado mas consegui não ir ao fundo de areia ( basta uma pedra lá em baixo e é a morte do artista). Pernas e braços arrastados em ângulos impossíveis durante mais tempo do que pensei ser possível, mas lá emergi. Consciente. A tempo de evitar o próximo edifício de água que caía.
Exausto e injectado de adrenalina até ao gargalo, cheguei à segurança da areia. Pernas a tremer do esforço, frio e medo, desato a rir que nem um perdido.
Tenho outra vez 15 anos e estou vivo. Mais vivo que nunca.
Entrava às 22h00 e saía às 09h00 da manhã. Era lixado para um puto chegar a casa e encontrar o irmão de pijama, cair na cama, ser acordado para almoçar, voltar a cair na cama e só sair um pouco a seguir ao jantar para poder estar a tempo de "pegar ao serviço".
Pois, numa altura em que o ordenado mínimo nacional era de cerca de 45 contos, mais coisa menos coisa, acabei por ser pago com uns miseráveis 26 contos e quinhentos. Foi a minha primeira experiência com as injustiças do sistema laboral. Afinal, o trabalho infantil tem destas coisas...
Escusado será dizer que nunca consegui o dinheiro suficiente. Mesmo trabalhando sempre até entrar para a faculdade, nunca consegui comprar a tal prancha.
Até que o ano passado, com a minha situação financeira muito diferente do puto que sacrificou os Verões da sua adolescência para perseguir uma onda, entrei numa loja e comprei tudo. Em meia-hora, a caça terminou.
Enfim, aos 30 anos comecei algo que devia ter começado aos 15. Quando se quer muito, a espera é irrelevante. Bem, quase.
Mas isto do bodyboard não é só material. Há que trabalhar para aprender. Há 15 dias, na Costa da Caparica, isso tornou-se dolorosamente evidente.
O mar estava mau; rebentação desordenada perto da praia , ondas decentes só muito longe, bem no "off-shore". Conclusão: uma trabalheira para lá chegar. Uma trabalheira dolorosa se se tiverem conta a temperatura da água. Em termos técnicos diz-se que estava "fria como o c#!@%&!!!).
Mas cheguei. O mar não estava especialmente grande. Cerca de metro e meio, mas com vagas muito cheias; verdadeiros autocarros verdes escuros.
E depois de algumas amostras mais ou menos conseguidas, depois de o meu parceiro de surfada ter apanhado a sua onda (a coisa estava tão má que praticamente só estávamos os dois na água), vi a minha presa. Um bicho! E já numa fase adiantada: ou a apanhava ou ela apanhava-me a mim.
Um duelo desvantajoso entre homem e parede de água. O primeiro golpe foi meu. Remei com raiva e apanhei a bicha. Mas o monstro virou o jogo cujas regras são, em última instância, dele. Fui levantado até ao lábio do monstro, no topo da onda e, num segundo penosamente longo, fitei a sua boca escancarada lá em baixo. Mergulhei.
Fui maltratado mas consegui não ir ao fundo de areia ( basta uma pedra lá em baixo e é a morte do artista). Pernas e braços arrastados em ângulos impossíveis durante mais tempo do que pensei ser possível, mas lá emergi. Consciente. A tempo de evitar o próximo edifício de água que caía.
Exausto e injectado de adrenalina até ao gargalo, cheguei à segurança da areia. Pernas a tremer do esforço, frio e medo, desato a rir que nem um perdido.
Tenho outra vez 15 anos e estou vivo. Mais vivo que nunca.
quarta-feira, março 22, 2006
Ridículos
O medo é das forças mais poderosas da psique humana. Eu tenho medo de muita coisa: medo de vespas, de alturas, medo de estar sozinho no mar, enfim, medo de muita coisa; alguns medos têm um fundo mais ou menos racional, outros nem por isso.
Todavia, há um medo que se sobrepõe a todos: medo do ridículo. E como se cai no ridículo, perguntam vocês?
De muitas maneiras. A pior, todavia, é mentir descaradamente, com mesuras e gentilezas, tecendo teias de hipocrisia tão diáfanas e transparentes como as das aranhas.
Detesto a hipocrisia, a falsidade, a lata de quem nos passa a mão pelo pêlo quando na realidade prefere ver-nos pelas costas. Ou não nos ver.
Só tenho pena de ser tão burro que só percebo a armadilha quando já lá caí. Várias vezes.
Enfim, acho que também lá cair tanta vez tem o seu quê de ridículo. E sendo assim já o fui. Também várias vezes. Porque há crimes em que a vítima é tão culpada quanto o criminoso.
Todavia, há um medo que se sobrepõe a todos: medo do ridículo. E como se cai no ridículo, perguntam vocês?
De muitas maneiras. A pior, todavia, é mentir descaradamente, com mesuras e gentilezas, tecendo teias de hipocrisia tão diáfanas e transparentes como as das aranhas.
Detesto a hipocrisia, a falsidade, a lata de quem nos passa a mão pelo pêlo quando na realidade prefere ver-nos pelas costas. Ou não nos ver.
Só tenho pena de ser tão burro que só percebo a armadilha quando já lá caí. Várias vezes.
Enfim, acho que também lá cair tanta vez tem o seu quê de ridículo. E sendo assim já o fui. Também várias vezes. Porque há crimes em que a vítima é tão culpada quanto o criminoso.
quinta-feira, março 16, 2006
Fim de tarde em Pozarevac
Estávamos em 2003. Ia como enviado especial à Jugoslávia para fazer a reportagem da participação do V.Guimarães numa eliminatória da "Top Teams Cup" de voleibol.
O destino era uma pequena localidade a cerca de 10o km de Belgrado chamada Pozarevac. Não sabia nada da terrinha, mas pressenti logo à chegada um ambiente estranho, opressivo. Primeiro pensei que talvez fosse o nevoeiro de tabaco à entrada do pavilhão, mas não, era qualquer coisa mais; o silêncio comprometido, o olhar dos mais velhos, que fixavam os estrangeiros como isso mesmo "estrangeiros". Não conseguíamos esquecer a nossa condição.
A atmosfera lembrava a época áurea do terror em Hollywood. Parecia quase normal que nos aparecesse o Boris Karloff ou o Christopher Lee enfeitados capa negra e caninos postiços.
Havia qualquer coisa. Como uma comichão que incomoda mas que não conseguimos localizar. Até que a peça que faltava no "puzzle" surgiu, da maneira mais prosaica: Uma tarja a anunciar uma festa numa discoteca local. Parecia estranho que houvesse uma discoteca num sítio tão cinzento. E no meio da conversa, a intervenção de um local:
--"É a discoteca do filho do Milosevic."
-- "De quem? Do Slobodan Milosevic?"
-- "Sim, esse mesmo. Nasceu aqui, não sabia?"
-- "Não, não sabia, mas agora faz sentido. Só não sei se foi a terra que transformou o tipo se foi a sina do tipo que marcou a terra."
Pozarevac. Nunca mais esqueci o nome, por muito que tentasse. E agora veio outra vez à baila. Como o local onde um dos demónios da História nasceu e onde será enterrado.
Pois, nunca mais esqueci Pozarevac. Esperemos que o Mundo também não esqueça, e que coloque este nome para aí ao lado de Auschwitz.
O destino era uma pequena localidade a cerca de 10o km de Belgrado chamada Pozarevac. Não sabia nada da terrinha, mas pressenti logo à chegada um ambiente estranho, opressivo. Primeiro pensei que talvez fosse o nevoeiro de tabaco à entrada do pavilhão, mas não, era qualquer coisa mais; o silêncio comprometido, o olhar dos mais velhos, que fixavam os estrangeiros como isso mesmo "estrangeiros". Não conseguíamos esquecer a nossa condição.
A atmosfera lembrava a época áurea do terror em Hollywood. Parecia quase normal que nos aparecesse o Boris Karloff ou o Christopher Lee enfeitados capa negra e caninos postiços.
Havia qualquer coisa. Como uma comichão que incomoda mas que não conseguimos localizar. Até que a peça que faltava no "puzzle" surgiu, da maneira mais prosaica: Uma tarja a anunciar uma festa numa discoteca local. Parecia estranho que houvesse uma discoteca num sítio tão cinzento. E no meio da conversa, a intervenção de um local:
--"É a discoteca do filho do Milosevic."
-- "De quem? Do Slobodan Milosevic?"
-- "Sim, esse mesmo. Nasceu aqui, não sabia?"
-- "Não, não sabia, mas agora faz sentido. Só não sei se foi a terra que transformou o tipo se foi a sina do tipo que marcou a terra."
Pozarevac. Nunca mais esqueci o nome, por muito que tentasse. E agora veio outra vez à baila. Como o local onde um dos demónios da História nasceu e onde será enterrado.
Pois, nunca mais esqueci Pozarevac. Esperemos que o Mundo também não esqueça, e que coloque este nome para aí ao lado de Auschwitz.
Vamos comê-los
Devo dizer que estou desiludido. Mas não muito. Não me surpreende que o Benfica tenha resultados pouco conseguidos. Estamos a falar de dois jogos (um empate com a Naval e uma derrota, com culpas do árbitro, ante o Vitória de Guimarães) com equipas manifestamente inferiores e fechadas lá atrás ou, como diria Mourinho, com o "autocarro à frente da baliza".
Isto nasce da própria anatomia do Benfica: uma equipa montada de trás para a frente, apoiada numa defesa coreácea, um meio-campo forte se bem que pouco criativo, e um ataque móvel e flexível mas com dificuldade no ataque planeado. Ou seja, o que se convencionou chamar uma equipa de contra-ataque. É por isso que se deu tão bem com equipas teoricamente mais fortes: Manchester United e Liverpool.
Quanto ao Barcelona, importa dizer que é uma equipa com "tracção à frente", que esbanja talento do meio-campo para diante mas que apresenta algumas lacunas na defesa. Em suma, um adversário ideal para um Benfica com um Simão, um Geovanni e um Miccoli em boa forma, apoiados na defesa brasileira e num meio-campo com Petit (obrigatório) e Beto ou Manuel Fernandes.
Tudo isto para dizer uma coisa: vamos comê-los. Agora só falta dar um tiro no joelho do Ronaldinho.
Isto nasce da própria anatomia do Benfica: uma equipa montada de trás para a frente, apoiada numa defesa coreácea, um meio-campo forte se bem que pouco criativo, e um ataque móvel e flexível mas com dificuldade no ataque planeado. Ou seja, o que se convencionou chamar uma equipa de contra-ataque. É por isso que se deu tão bem com equipas teoricamente mais fortes: Manchester United e Liverpool.
Quanto ao Barcelona, importa dizer que é uma equipa com "tracção à frente", que esbanja talento do meio-campo para diante mas que apresenta algumas lacunas na defesa. Em suma, um adversário ideal para um Benfica com um Simão, um Geovanni e um Miccoli em boa forma, apoiados na defesa brasileira e num meio-campo com Petit (obrigatório) e Beto ou Manuel Fernandes.
Tudo isto para dizer uma coisa: vamos comê-los. Agora só falta dar um tiro no joelho do Ronaldinho.
sexta-feira, março 10, 2006
Sorteio ingrato
Que porcaria de azar. Tinha que nos calhar o Barcelona para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. É uma pena uma equipa com a categoria do Barça ter que ficar já pelo caminho.
quinta-feira, março 09, 2006
Vermelho e Negro
Vermelho e Negro. Duas cores que além de combinarem muito bem, reflectem o dia de hoje. Vermelho para o meu Benfica (cujo meio-sucesso não vou para já festejar por preferir esperar pela final) e negro de luto. Luto pelo 25 de Abril que o herdeiro (i)moral de Salazar subiu hoje ao poder.
quarta-feira, março 08, 2006
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