terça-feira, novembro 02, 2004

Fidel de bolso

Em resposta ao amigo que se insurge contra a minha caracterização da Madeira:

O estilo, em política, é indissociável da sua práxis. E se o estilo de Alberto João é "latino-americano", caro amigo, por sua vez reconhecerá que a política betoneira da "obra feita", tão ao gosto da era cavaquista, não faz mais que esconder as profundíssimas assimetrias de uma ilha dividida entre o Funchal turístico e a "paisagem".

Meu caro, numa coisa eu lhe concedo razão: as falhas da Madeira não serão assim tão diferentes daquelas que todos os dias assinalamos no resto do nosso país, o problema é que a sua insularidade acentua esses problemas. O resto é problema dessa mesma insularidade especial, estimulada por um governo trauliteiro, caricatura de fontismo e cavaquismo. Um regime que parece querer ter pouco de democrático na sua obsessão em dificultar o trabalho dos "patetas da comunicação social do continente".

Quanto ao facto de não terem sido detectadas ou denunciadas fraudes eleitorais, devo dizer que a manipulação de um boletim de voto não é a única forma de viciar umas eleições. Se o meu amigo, como tudo indica, é madeirense, saberá melhor do que eu o que é o caciquismo, já para não falar na demagogia populista e caceteira.

Entretanto, das conversas que tive com alguns madeiren ses sobre o assunto, é voz corrente e crença comum que existe de facto "algo estranho" nas recorrentes reeleições de Alberto João Jardim. Conversas não passam disso mesmo e à falta de provas não lhes posso atribuir grande importância, mas que não deixam de ser sintomáticas.

Em suma, caro amigo, sei que estamos em posições inconciliáveis. Concedo que talvez o povo da Madeira não tenha grandes alternativas ao "Fidel de bolso" Jardim, mas a escolha de um homem que promove o culto da personalidade, do "regionalismo" quase racista (e nesse campeonato também temos o Pinto da Costa) e que capitaliza votos a partir da ignorância de um povo dividido por profundas fracturas soció-económicas, não o dignifica em nada.

E mais uma coisa quanto à obra feita: Tem qualquer coisa de edipiano o "lobbying" feito pelo "presidente da Madeira" (conforme dizia esta semana uma responsável do PSD num lapso inconsciente muito interessante), para conseguir boas fatias do OE e depois apelidar a esmagadora maioria dos portugueses, os que vivem no continente paterno e lhe pagam "a obra feita" com os seus impostos, de cubanos. Mas para um Fidel de bolso o que mais poderíamos esperar?

4 comentários:

. disse...

Não fazes mesmo ideia quem é o almeida pois não? Madeirense? Bolas, nem o pseudónimo óbvio te dá umas dicas acerca da "nacionalidade"? E reforçares a coisa a dizer mal do Pinto da Costa, tss tss, wrong again.

Quanto é que pagas se eu te disser quem é? :-)

Carlos disse...

Já sei, já sei...mas lá por saber quem é o "Almeida" e, já agora, a sua cara "esposa" (esperemos quem em breve), não quer dizer que concorde. Aliás, o meu tom é amigável.

antónio disse...

Atribuir culpas à "ignorância" do povo é sempre a saída mais fácil. Esse argumento nem mesmo o Pinto da Costa usa. :>

Carlos disse...

Pois, mas quando a "ignorância" do povo é cultivada, então não lhe pertence a culpa. Um pouco como se fazia no tempo da "velha senhora". O conhecimento e a educação são sempre os piores inimigos dos ditadores.