Após anos de tentativas falhadas, chegou a hora do funeral. Finalmente vou matar o Carlos. Aquele que durante quase trinta anos deambulou nas trincheiras de uma existência mal vivida vai morrer. Há anos que tento, mas faltava-me a bala de prata, a estaca, o interruptor. Mas agora, quando pousei o corpo de Carlos na nova cama de Carlos, na nova casa de Carlos, percebi que já tenho a arma na mão e basta apertar o gatilho.
Assim, quando chegar a primeira noite, um Carlos vai-se deitar e um outro Carlos se levantará. Será, como diz a letra de Sérgio Godinho, "o primeiro dia do resto da tua vida". Vai ser muito duro matar Carlos, afinal são já quase três décadas de um matrimónio forçado, mas o mais difícil será viver sem desculpas.
Carlos sem Carlos terá de começar do zero. Chegou a hora de reinventar Carlos. Que a nova criança seja feliz.
quarta-feira, agosto 04, 2004
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3 comentários:
Carlos sem Carlos, ou Carlos com Carlos, porque a maior parte da bagagem não se perde. Mas usa-se para reinventar. Seja como for, espero que o novo herde algumas características únicas do velho. E "break a leg" :)
Olha outro a entrar na crise dos 30. A sério, não custa nada! :-) Também espero que não o mates totalmente mas principalmente que "casa nova vida nova" se aplique apenas para as coisas boas. Be happy.
Isso de matar seja quem for, o nosso eu, ou os outros eus, nunca resulta. Deixa-te ser simplesmente o Carlos. Nós nunca deixamos de ser quem somos. Vais ver que o que foste e o que és se há-de encontrar numa mistura (espero que saudável) algures.
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