A poucas horas do encontro com a Rússia (que por acaso, até acho que vamos ganhar), importa aqui fazer uma reflexão. Assisti com algum pasmo à proliferação de bandeiras e bandeirinhas verde-rubras por todo o lado. É curioso este povo português que há 500 anos vive à sombra dos feitos de meia-dúzia de grandes heróis. Ok, fomos os maiores...há meio-milénio, ok?! Não vemos os Estados Unidos puxar sistematicamente pela chegada à Lua, pois não? E estamos a falar de um país com pouco mais de dois séculos de história, ao passo que Portugal tem oitocentos anos de herança às costas. É bom o amor pela pátria, mas o amor reflectido, diário, traduzido em actos, em produtividade.
A nossa selecção nacional de futebol é um bom exemplo de portugalidade, de um país que perdeu duas oportunidades históricas de ser realmente europeu: o plano Marshall, uma mão estendida dos vencedores da II Guerra Mundial e que o nosso querido Oliveira Salazar preferiu rejeitar; e os fundos estruturais da União Europeia que o outro querido Cavaco não soube administrar.
Louve-se a paixão deste povo pelos ditadores. É normal, ou não fosse este um país sem pai, fundado por um rei que celebrou a sua fundação batendo na mãe. Mas isso Freud explica.
Eu amo este país. Amo Portugal como um homem que vê o país refém de uma montanha de problemas e que a quer desfazer. Todos os dias agarro na picareta e tento desbastar o enorme rochedo, cuspindo nos capatazes que se intitulam nossos governantes e esperando, ingenuamente, não estar sozinho na luta. O problema é que há uns dias parei, levantei a cabeça enquanto limpava o suor da testa, e constatei que ao meu lado, em vez de picaretas, o povo empunhava bandeiras. É bonito,mas mesmo que a nossa selecção de futebol chegue à final,(e porra! é só futebol!)o que farão às bandeiras no dia 5?
quarta-feira, junho 16, 2004
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